quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Literatura Portuguesa - Trovadorismo

A história da Literatura Brasileira começa com a Literatura Portuguesa (do período medieval até o início da Idade Moderna). Depois do descobrimento do Brasil, deixamos de estudar a Literatura Portuguesa e passamos a estudar a Literatura Brasileira.

Para começarmos a estudar Literatura Brasileira nós precisamos, inicialmente, compreender o início da Literatura Portuguesa. As primeiras manifestações literárias em língua portuguesa ocorreram na Idade Média, quando Portugal ainda estava em processo de formação. Esse período é conhecido como Trovadorismo. Portanto, o Trovadorismo é o primeiro período da história da Literatura Portuguesa e é o primeiro que nós iremos estudar.

Marco Inicial

O Trovadorismo surgiu na Idade Média, no século XII e o seu marco inicial foi a "Cantiga da Ribeirinha" (ou "Cantiga da Garvaia"), escrita em 1189 por Paio Soares de Taveirós.

Por que "trovadores"?
Como a maior parte do povo não sabia ler nem escrever, o gênero que mais se destacou no período do Trovadorismo foi a poesia, que era cantada (daí vem o nome “cantigas”), acompanhadas de música e de dança. Os trovadores compunham e cantavam essas cantigas, que eram escritas e reunidas em livros chamados cancioneiros. 



Tipos de poesia trovadoresca

Classificação das Cantigas

As cantigas podiam ser Líricas (de Amor ou de Amigo) ou Satíricas (de Escárnio ou de Maldizer). 

Cantiga de Amigo (Poesia Lírica): ambiente rural, linguagem simples e forte musicalidade (ex: paralelismo – repetição de palavras ou frases). Eu-lírico feminino, que vive se lamentado porque o namorado foi para a guerra. Amor natural e espontâneo. Obs: nesse contexto, "amigo" tem o mesmo sentido de "namorado". 

Cantiga de Amor (Poesia Lírica): linguagem mais rebuscada, ambientação aristocrática das cortes. Eu-lírico masculino, que vive se declarando para uma mulher idealizada, inatingível e distante (amor cortês: convencionalismo amoroso). Seu amor nunca é correspondido e o homem sempre é inferior à mulher, como um vassalo (servo feudal) em relação ao seu suserano (senhor feudal). 

Cantiga de Maldizer (Poesia Satírica): Crítica direta, linguagem agressiva e zombaria. Às vezes apareciam até palavrões. Eram cantigas usadas para falar mal das pessoas de modo explícito. 

Cantiga de Escárnio (Poesia Satírica): Crítica indireta, linguagem sutil (jogo de palavras), ironia e duplo sentido. O nome da pessoa que era zombada não era revelado. 

Além das cantigas (poesia), havia outros tipos de textos:

Novelas de Cavalaria (Prosa): adaptações das canções de gesta (poemas que narravam aventuras heroicas). Aventuras fantásticas de cavaleiros lendários e destemidos. Detalhes da vida e dos costumes da sociedade da época.

Teatro: Mistérios (episódios bíblicos), milagres (episódios da vida dos santos), moralidades (didático-moralista, com personagens abstratos ou defeitos morais). 

Características do Trovadorismo

Como você já sabe, o Trovadorismo surgiu na Idade Média e ele se desenvolveu em meio ao domínio da Igreja Católica, da visão teocêntrica do mundo (Deus no centro de tudo) e do moralismo religioso. Além disso, outro aspecto do período é a questão do feudalismo e das relações de vassalagem, que nas cantigas ficou conhecida como vassalagem amorosa (nas cantigas, o homem se coloca como o vassalo ou servo da mulher amada). 
Segue, abaixo, a "Cantiga da Ribeirinha", texto considerado o marco inicial do Trovadorismo. Logicamente, na Idade Média a língua portuguesa era bem diferente de como ela é hoje.

Cantiga da Garvaia
No mundo nom me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca ja moiro por vos – e ai!

mia senhor branca e vermelha,

queredes que vos retraia

quando vos eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve nem ei
valia dua correa.

E, mia senhor, dês aquel di’, ai!

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