Aspectos Gerais da
Literatura
O que é Literatura?
É a arte de criar uma realidade
própria, transpondo para o papel os sonhos e fantasias pessoais, tornando-os
reais. É também o conjunto de
produções literárias de um povo, em determinado local e época.
Com base nesse conceito, passaremos a
estudar as bases gerais da literatura, as estruturas e nomenclaturas
fundamentais.
1) FORMA
Originalmente, quanto à forma, a
Literatura manifesta-se de duas formas
a) PROSA: A
expressão “prosa”, em latim, é dita como “proversus” e significa “voltado para
frente”. Trata-se de um texto corrido onde cada linha é uma unidade de
pensamento chamada parágrafo.
A prosa pode ser curta (contos) ou
longa (romance).
b) VERSO: Consiste
no arranjo harmônico das palavras, com a finalidade de se produzir um texto com
valores semânticos (significados) ou sonoros.
Os poemas são
organizados em versos (cada uma das linhas que constituem uma estrofe).
OBS: O Teatro também é considerado
uma forma de expressão literária, pois é composto de narrativa – falas e
personagens.
DIFERENÇA ENTRE
POEMA E POESIA
Apesar de serem tratadas por muitos
como sinônimos, o uso dos dois termos entre os estudiosos apresenta
diferenças:
Poesia: Caráter do que emociona, toca
a sensibilidade. Sugere emoções por meio de uma linguagem.
Poema: obra em verso em que há poesia
Se o poema é um objeto empírico e se
a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência
concreta e a segunda não.
Poema é um texto escrito em verso
compostos por um determinado número de sílabas, que são interrompidas quando
atingem um determinado número.
Um grupo de versos forma uma estrofe.
Esta recebe uma classificação conforme o número de verso. São elas: Terceto,
Quarteto, Oitava, décima e Soneto (Forma fixa de 14 versos agrupados em
dois quartetos e dois tercetos – Ex:. Apostila)
Os elementos do verso são:
a) Métrica:
- Metro é a medida do
verso (Conf. Apostila)
- Elisão é a
supressão (extinção, eliminação) sílaba átona (não tônica) final
do vocábulo, que não são contadas.
- Escandir é o termo
utilizado para dividir o verso em sílabas métricas.
Observem o poema “Canção do Exílio”
de Gonçalves Dias
Mi/nha/ te/rra/
tem/ pal/mei/ras, = 7 sílabas
On/de/ can/ta o/
Sa/bi/á; = 7 sílabas
As/ a/vês/, que
a/qui/ gor/jei/am, = 7 sílabas
Não/ gor/jei/am/
co/mo/ lá = 7 sílabas.
b) Ritmo: É
a musicalidade da voz, do verso, do poema num todo.
Os mais comuns são:
- Pentassílabos: 5 sílabas
- Decassílabos: formados por 10
sílabas (poéticas)
- Alexandrinos: formados por 12
sílabas com tônicas na 6ª e na 12ª
c) Rima: É
a repetição dos mesmos sons ou de sons semelhantes no fim de do ou mais versos
2) GÊNERO
A Literatura manifesta-se
através de três gêneros:
a) Lírico: São
os poemas compostos por poesias, ou seja, texto lírico é aquele dotado de
emoção.
b) Dramático: É
composto de textos que foram escritos para serem encenados em forma de peça de teatro.
Para o texto dramático se tornar uma peça, ele deve primeiro ser transformado
em um roteiro, para depois poder ser transformado em um texto do gênero
espetacular.
c) Épico ou
Narrativo: é o ato de narrar ou contar um fato. Toda narração se
compõe de dois planos. O (I) Narrador, que é aquele que
conta aos ouvintes ou escreve aos leitores uma (II) história, que
consiste numa série de acontecimentos que se passam em determinado ambiente que
envolvem um ou mais personagens em determinado conflito.
Quanto à estrutura, ao conteúdo e à
extensão, pode-se classificar as obras narrativas em romances, contos, novelas, poemas épicos, crônicas, fábulas e ensaios.
I - TIPOS DE FOCO
NARRATIVO
1) NARRADOR
ONISCIENTE: É aquele que pode ser comparado a uma testemunha invisível
que relata tudo o que acontece, penetra no interior dos personagens. Não se
limita apenas em contar os fatos como expectador. A narrativa é feita em 3ª
pessoa.
2) NARRADOR-OBSERVADOR: É
aquele que relata os fatos ocorridos, conta o que ocorreu e as ações tomadas
pelos personagens. È mero expectador. A narrativa é feita na 3ª pessoa.
3) NARRADOR
PERSONAGEM: Neste caso, o narrador participa da narração e conta o que
vivenciou como personagem. Vê os acontecimentos de dentro para fora. A
narrativa é feita em 1ª pessoa.
II - ESTRUTURA QUE
COMPÕE A NARRATIVA
AMBIENTE = ESPAÇO + TEMPO
1) AMBIENTE: Composto
pelo ESPAÇO e TEMPO, portanto onde e quando se passa a história.
a) TEMPO: é
compreendido sob dois aspectos: O tempo psicológico (idade,
fase da vida – É o tempo interior, colocado pela personagem) e tempo
cronológico (data, época – Linear, sucedendo-se nos calendários
escolhidos e diferenciados em cada uma das culturas).
b) ESPAÇO: Pode
ser externo (rua, sala, prédio) ou interno (que apresenta os limites fechados,
ou no mundo íntimo da personagem)
2) PERSONAGEM: É
a criação viva feita pelo autor.
Podem ser planas ou simples:
São aquelas personagens que mantém um só traço psicológico, sendo caracterizado
pela uniformidade dentro da obra. Portanto, apresentam um padrão comportamental
constante e previsível.
Podem ser ainda, esféricas, redondas ou complexas: Apresentam um rico mundo interior, surpreendendo
pelas contradições. Quanto à ação, dentro da obra são imprevisíveis.
3) INTRIGA
(CONFLITO): É o motivo, o fato gerador da ação, a trama dos eventos em
que participam os personagens.
4) DESFECHO: É
o encerramento da narrativa, podendo causar ao leitor diferentes reações (como
ocorre na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis).
Escolas literárias - ROMANTISMO (SÉC. XIX)
A POESIA DO ROMANTISMO
O
Romantismo brasileiro surgiu em 1836 com a publicação de
"Suspiros Poéticos e Saudades" de Gonçalves de Magalhães. Mas se
originou mesmo na Alemanha e Inglaterra no final do séc. XVIII e se desenvolveu
no Brasil durante o séc. XIX.
A
característica principal da Poesia Romântica é a expressão plena dos
sentimentos pessoais, com os autores voltados
para o seu mundo interior e fazendo da literatura um meio de desabafo e
confissão. A vida passa a ser encarada de um ângulo pessoal, em que se
sobressai um intenso desejo de liberdade. O estilo romântico revela-se
inicialmente idealista e sonhador, depois, crítico e retórico mas sempre
sentimental e nacionalista.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
-Exaltação dos sentimentos pessoais;
-Expressa os estados da alma;
-Exaltação da liberdade, igualdade e reformas sociais;
-Valorização da natureza;
-Sentimento nacionalista
-Expressa os estados da alma;
-Exaltação da liberdade, igualdade e reformas sociais;
-Valorização da natureza;
-Sentimento nacionalista
TENDÊNCIAS DA POESIA ROMÂNTICA
-Indianismo
-Ultra-Romantismo
-Poesia Social
-Ultra-Romantismo
-Poesia Social
Precedentes: Período de Transição
(1808-1836)
Simultaneamente
ao final das últimas produções do movimento árcade, ocorreu a vinda da
Família Real portuguesa para o Brasil. Esse acontecimento, no ano de 1808,
significou o início do processo de Independência da Colônia. O período
compreendido entre 1808 e 1836 é considerado de transição na literatura
brasileira devido à transferência do poder de Portugal para as terras
brasileiras que trouxe consigo, além da corte e da realeza, as novidades e
modelos literários do Velho Continente nos moldes franceses e ingleses. Houve
também a mudança de foco artístico e cultural, da Bahia para o Rio de Janeiro,
capital da colônia desde o ano de 1763.
Segundo o crítico literário Antônio
Cândido, no livro Noções de Análise Histórico-literária:
"No Brasil não havia universidades, nem
tipografias, nem periódicos. Além da primária, a instrução se limitava à
formação de clérigos e ao nível que hoje chamamos secundário, as bibliotecas
eram poucas e limitadas aos conventos, o teatro era paupérrimo, e muito fraco o
intercâmbio entre os núcleos povoados do país, sendo dificílima a entrada de
livros."
O
que explica o desenvolvimento literário incipiente, se comparado com o mesmo
período na metrópole. Os autores vistos até então eram produto da educação
europeia e/ou religiosa que receberam.
Com a vinda da Família Real, os livros
puderam ser impressos no território, em função da Imprensa Régia,
derrubando a medida que proibia sua impressão e difusão sem a autorização
prévia de Portugal, dando início não apenas ao desenvolvimento da literatura
mas, também, a um sentimento de nacionalidade no território, uma das principais
características do período romântico brasileiro.
Contexto Histórico na Europa
O
final do século XVIII presenciou a ascenção da tipografia,
inventada pelo alemão Johannes Gutenberg, que possibilitou o desenvolvimento da
impressão em grandes quantidades de jornais e romances. No início, os romances
eram publicados diariamente nos jornais de forma fragmentada, assim, a cada dia
um novo capítulo da história era revelada. Esse esquema, importado para a
colônia, ficou conhecido como "folhetim" ou "romance de
folhetim" e deu origem às telenovelas que conhecemos nos dias de hoje.
Assim,
com a Revolução da Imprensa, uma das principais características do
período Moderno, houve também a ascensão dos romances impressos, popularizando
o artefato (o livro não era mais considerado um artigo de luxo, inacessível) e
proporcionando um largo alcance da literatura às camadas inferiores da
sociedade e também às mulheres, que raramente tinham acesso às letras e, quando
muito, eram alfabetizadas.
Considera-se
o marco inicial do romantismo na Europa a publicação do romance Os
sofrimentos do jovem Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe
no ano de 1774. Historicamente, um dos marcos principais do movimento foi a
Revolução Francesa, responsável pela difusão dos pensamentos Iluministas na
Europa e nas suas colônias, que tanto inspirou os poetas árcades brasileiros.
Com
o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das
classes sociais: a burguesia, com riquezas provenientes do comércio, e os
operários das indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela
classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual a ideologia
defendida por seus autores.
Ideologia: conjunto de ideias ou pensamentos de um indivíduo
ou grupo e que pode estar ligado a ações políticas, econômicas e sociais.
Contexto Histórico no Brasil
Considera-se que o período romântico no
Brasil inicia em 1836, com a publicação da obra Suspiros Poéticos e
Saudades, do poeta Gonçalves de Magalhães e vai até o ano de 1881, com a
publicação do romance realista Memórias Póstumas de Brás Cubas de
Machado de Assis.
Como
dito anteriormente, o desenvolvimento da literatura brasileira propriamente
dita aconteceu a partir da vinda da Família Real para o Rio de Janeiro que
gerou um forte desenvolvimento artístico e cultural na colônia, agora afinado
com a produção literária europeia. Porém, a insatisfação das classes dominantes
com o Império fez com que surgissem tentativas de independência da metrópole,
produzindo um sentimento de nacionalismo que culminaria com a Declaração da
Independência, em 1822, por Dom Pedro I.
Outro
aspecto importante é com relação à escravidão dos negros: o Brasil era uma das
poucas colônias americanas que ainda sustentava o sistema econômico baseado do
trabalho escravo, o que gerou opiniões controversas por parte dos autores
daquela época. Temos expressões literárias abolicionistas (p. ex.: o poeta
Gonçalves de Magalhães) e outras que tratavam do tema superficialmente (p. ex.:
o romancista Bernardo Guimarães) ou sequer tocavam na questão.
A
independência das colônias latino-americanas impulsionou um sentimento de
nacionalidade diretamente refletida pela literatura. A formação dessas
literaturas esteve a cargo de autores que projetavam os ideais de uma nação em
crescimento e desenvolvimento e que até hoje são considerados constitutivos da
história da nação. No entanto, essa literatura fundacional e canônica da
América Latina é revista por muitos professores, críticos literários e
historiadores pois apresentam apenas uma visão referente à formação das nações
latino-americanas. Como assinala o professor e crítico literário Eduardo F.
Coutinho:
“Na América Latina, durante o século XIX, o sujeito
enunciador do discurso fundador do estado-nação tomou como base um projeto
patriarcal e elitista, que excluiu não só a mulher, mas índios, negros, analfabetos
e, em muitos casos, aqueles que não possuíam nenhum tipo de propriedade. A
preocupação dominante era marcar a diferença da nova nação com relação à matriz
colonizadora, mas o modelo era obvia e paradoxalmente a metrópole; daí a
necessidade de forjar-se uma homogeneidade que excluísse todas as
diferenças."
O
que causa uma sensação de estranhamento é o paradoxo observado no período: ao
mesmo tempo em que ideias sobre o sentimento de nacionalidade aflorava nos
corações dos brasileiros (e demais latino-americanos), parte da população
permanecia na miséria e/ou em situações de escravidão, sem acesso à emancipação
e aos direitos humanos básicos.
Referências:
CÂNDIDO, Antônio. Noções de Análise
Histórico-literária. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005.
COUTINHO, Eduardo F. Mutações do
comparatismo no universo latino-americano: a questão da historiografia
literária. In: SCHMIDT, Rita T. Sob o signo do presente: intervenções
comparatistas. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2010.
Contexto
O Simbolismo
Pré-Modernismo
A Primeira Geração - A geração de 22
Algumas características do modernismo em geral:
A Semana de Arte Moderna
Características
Alguns autores e obras
Características
A Prosa
Alguns autores e obras
A Terceira Geração
Contexto
Características
Como já caiu no vestibular?
Literatura Brasileira - Modernismo
O Modernismo foi um dos movimentos mais importantes
e polêmicos da história literária brasileira e também um dos mais extensos. Foi
neste período que surgiram alguns do maiores escritores e clássicos da
literatura brasileira como Mário e Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília
Meireles, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Jorge Amado e
muitos outros.
Antecedentes
Vamos conhecer um pouco do contexto social e
político da época, fatores muito importantes que influenciam a produção
literária de qualquer sociedade.
Contexto
É consenso entre estudiosos que o momento histórico
brasileiro interferiu muito na produção literária, cada vez mais marcada pela
transição dos valores estéticos do século XIX para uma nova realidade que se
desenhava. Acontecimentos como as revoltas da Vacina e da Chibata, no Rio de
Janeiro, as greves operárias em São Paulo e a Guerra do Contestado, o fanatismo
religioso do Padre Cícero e de Antônio Conselheiro e o cangaço, no Nordeste;a
política marcadamente dirigida pela oligarquia rural, o nascimento da burguesia
urbana, a industrialização, segregação dos negros pós-abolição, o surgimento do
proletariado e, finalmente, a imigração européia. Em suma, todos estes conflitos
viriam a refletir-se na literatura que então se fazia.
O Simbolismo
O Simbolismo é um estilo literário (também
existente no teatro e nas artes plásticas) que surgiu na França, no final do
século XIX, como oposição ao Realismo e ao Naturalismo. Os temas na literatura
simbolista são místicos e espirituais, inspirados nas religiões e filosofia
orientais que passaram a ser mais conhecidas no ocidente.Abusava-se da
sinestesia, que é a sensação produzida pelo intercâmbio de órgãos sensoriais:
expressões como "cheiro doce"ou
"grito vermelho". Também utilizava-se
muito as assonâncias (repetição das vogais e aliterações (repetição de letras ou sílabas) o que
tornava os textos simbolistas notadamente musicais.Eram profundamente subjetivistas, se interessavam
mais pelo individual que pelo geral, davam ênfase à fantasia e ao imaginário, buscavam o
sonho, o inconsciente. Apelidado perjorativamente de "decadentismo",
numa alusão à decadência dos valores estéticos vigentes. Seria em 1886 que o
nome "simbolismo"foi consagrado como denominação desta corrente. No
Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz
e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.
Pré-Modernismo
O termo "pré-modernismo"é usado na
literatura brasileira para definir o período de transição entre o parnasianismo, o simbolismo e o movimento
modernista. Representa um momento eclético da nossa literatura, onde não há uma
escola, um estilo definido. De acordo com Joaquim Francisco Coelho, o termo
pré-modernismo parece ter sido criado por Tristão de Athayde, para designar os
"escritores contemporâneos do neo-parnasianismo, entre 1910 e 1920".
Embora alguns autores brasileiros sejam classificados como pré-modernistas,
suas obras marcadamente individualistas impedem a consagração do pré-modernismo
como uma escola literária. Entretanto, duas características são comuns entre
estes autores. São elas:
• "Conservadorismo- de certa forma traziam na
sua estética os valores parnasianos e naturalistas;
• Renovação - demonstravam íntima relação com a
realidade brasileira e as tensões vividas pela sociedade do período.
Alguns autores considerados pré-modernistas são:
Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato, Augusto dos
Anjos, etc. Embora tenham rompido com a temática dos períodos anteriores, esse
autores não avançaram o bastante para serem considerados
modernos.
A Primeira Geração - A geração de 22
Contexto
O processo histórico que gerou o Modernismo durou
cerca de cinqüenta anos, começando ainda no século XIX. Entretanto, a manifestação
concreta de novas concepções de vida e de arte viria a acontecer somente nas
três primeiras décadas do século XX, quando se deu um intenso combate entre o
novo e tudo aquilo que representava a tradição cultural e ideológica do
passado.
• Início do século XX: apogeu da Belle Époque. O
burguês comportado, tranqüilo, contando seu lucro. Capitalismo monetário.
Industrialização e Neocolonialismo;
• Reivindicações de massa. Greves e turbulências
sociais. Socialismo ameaça;
• Progresso científico: eletricidade. Motor a
combustão: automóvel e avião;
• Concreto armado: ?arranha-céu?. Telefone,
telégrafo. Mundo da máquina, da informação, da velocidade;
• Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa.
Segundo um dos mais notáveis modernistas que foi
Oswald de Andrade, a assimilação das idéias vindas da Europa no Brasil ocorreu
de maneira "antropofágica". Os modernistas no Brasil tenderam a
"filtrar"a influência dos seus colegas europeus, ou seja, eles
reorganizaram os elementos artísticos vindos de fora com o objetivo de
ajustá-los às singularidades culturais e à realidade brasileira.
Algumas características do modernismo em geral:
• Abolir todas as regras. O passado é responsável.
O passado, sem perfil, impessoal. Eliminar o passado;
• Arte Moderna. Inquietação. Nada de modelos a
seguir. Recomeçar. Rever. Reeducar.
Chocar. Buscar o novo: multiplicidade e velocidade,
originalidade e incompreensão, autenticidade e novidade;
• Vanguarda- estar à frente, repudiar o passado e
sua arte. Abaixo o padrão cultural vigente.
A Semana de Arte Moderna
Conforme o que foi dito sobre o momento histórico
no surgimento do modernismo, a Semana de Arte Moderna ocorreu em uma época
cheia de turbulências políticas, sociais, econômicas e culturais. As novas
estéticas surgiam e espantavam a sociedade , tanto que, alvo de críticas e em
parte ignorada, a Semana não foi bem entendida em sua época, situada no tempo
da República Velha, controlada pelas oligarquias cafeeiras e pela política do
café-com-leite.
O Objetivo da Semana de Arte Moderna, doravante
SAM, era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com "a perfeita
demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e
literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual", como informava o
Correio Paulistano a 29 de janeiro de 1922.
A SAM ocorreu em São Paulo no ano de 1922 no
período entre 11 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal da cidade. Durante os
sete dias ocorreu uma exposição modernista no Teatro e nas noites dos dias 13,
15 de fevereiro e 17 ocorreram apresentações de poesia, música e palestras
sobre a modernidade. A SAM foi a última gota para fazer transbordar as novas
idéias vigentes. Não se tinha, porém, um programa definido. A intenção era
experimentar diferentes caminhos ao invés de definir um único ideal moderno. Os
eventos foram:
• 13 de fevereiro (Segunda-feira) - Casa cheia,
abertura oficial do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São
Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por
parte do público. O espetáculo tem início com a confusa conferência de Graça
Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna". Tudo
transcorreu em certa calma neste dia.
• 15 de fevereiro (Quarta-feira) - Guiomar Novaes
era para ser a grande atração da noite. Contra a vontade dos demais artistas
modernistas, aproveitou um intervalo do espetáculo para tocar alguns clássicos
consagrados, iniciativa aplaudida pelo público. Mas a "atração"dessa
noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta
os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos
(miados, latidos, grunhidos, relinchos...) que se alternam e confundem com
aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê o poema entitulado Os Sapos de Manuel
Bandeira, (poema criticando abertamente o parnasianismo e seus adeptos) o
público faz coro atrapalhando a leitura do texto. A noite acaba em algazarra.
Ronald teve de declamar o poema pois Bandeira estava impedido de fazê-lo por
causa de uma crise tuberculose.
• 17 de fevereiro (Sexta-feira) - O dia mais
tranqüilo da semana, apresentações músicais de Villa-Lobos, com participação de
vários músicos. O público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até
que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato, e outro
com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e
vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se
tratava de
modismo e, sim, de um calo inflamado.
Na prática, a SAM representou uma verdadeira renovação
da linguagem, na liberdade criadora e na ruptura com o passado. O evento marcou
época ao apresentar novas idéias e conceitos artísticos. A nova poesia através
da declamação. A nova música por meio de concertos. A nova arte plástica
exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura. Participaram da Semana
nomes consagrados do Modernismo brasileiro, como Mário e Oswald de Andrade,
Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia.
Características
Por ser a Primeira Geração, sua principal característica
é a tentativa de definir e marcar posições. Foi um período rico em manifestos e
revistas de vida efêmera. É a fase mais radical justamente em conseqüência da
necessidade de definições e do rompimento com todas as estruturas do passado.
Tem um caráter anárquico e um forte sentido destruidor. Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de
Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia,
Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
Alguns autores e obras
Alguns autores e suas obras mais importantes:
• Antônio de Alcântara Machado(1901-1935): Brás,
Bexiga e Barra Funda (1927), contos; Laranja da China (1928)
• Cassiano Ricardo(1895-1974): Martim Cererê
(1928),etc;
• Guilherme de Almeida(1890-1969)
• Manuel Bandeira(1886-1968): Cinza das Horas (17),
Carnaval(19), Ritmo Dissoluto (24), Estrela da Manhã (36);
• Mário de Andrade(1893-1945): Paulicéia
Desvairada,Escrava que não é Isaura, etc;
• Menotti del Picchia(1892-1988): Juca Mulato
(1917), Salomé (1940), Máscaras (1920);
• Oswald de Andrade(1890-1953):Manifestos da Poesia
Pau-Brasil (1924),Manifesto Antropófago (1928), Os condenados
(trilogia)(1922-1934); Memórias sentimentais de João Miramar(1924), etc;
• Plínio Salgado(1895-1975):Vida de Jesus, O Estrangeiro,
O Cavaleiro de Itararé, etc;
• Raul Bopp(1898-1984):Cobra Norato (1931),Urucungo
(1932), América, etc;
• Ronald de Carvalho(1893-1935):Luz Gloriosa
(1913), Pequena História da Literatura Brasileira (1919), Poemas e Sonetos
(1919), Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922), Toda a América (1926).
A
Segunda Geração - A geração de 30
A segunda geração modernista se estendeu de 1930 a
1945. Foi um período rico na produção poética e na prosa. Os temas se ampliam e
os artistas passam a preocupar-se mais com questões metafísicas: o
estar-no-mundo, o destino dos homens, etc. A geração de 30 não precisou ser
combativa como a de 22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista
estruturada, então seu trabalho foi aprimorá-la e encontrar novas variações. A
geração de 30 foi
uma geração grave, preocupada com o destino do
homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, o que
deu à época uma atividade excepcional. A segunda fase colheu os resultados da
precedente, substituindo o caráter destruidor pela intenção construtiva, pela
recomposição de valores e configuração da nova ordem estética.
Características
Repensar a história nacional com humor e ironia; Verso
livre e poesia sintética; Nova postura temática - questionar mais a realidade e
a si mesmo enquanto indivíduo; Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu
papel de poeta;
Literatura mais construtiva e mais politizada; Surge
uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília, Murilo
Mendes, Jorge de Lima e Vinícius de Morais); Aprofundamento das relações do eu
com o mundo;
Consciência da fragilidade do eu.
A Prosa
Os romances passaram a ser caracterizados pela
denúncia social. Eram um verdadeiro documento da realidade brasileira. Uma das
principais características do romance nessa época é o encontro do escritor com seu povo. Há uma
busca do homem brasileiro das diversas regiões, por isso o regionalismo ganha
força, destacando-se as relações do personagem com o meio natural e social. Os
escritores nordestinos tiveram grande destaque pela denúncia que fizeram em
suas obras da realidade do sertão pouco conhecida nos grandes centros urbanos.
Esses romances retratam a exploração das pessoas, a migração, miséria, fome,
seca. O 1° romance nordestino foi "A Bagaceira"de José Américo de
Almeida.
Alguns autores e obras
• Carlos Drummond de Andrade (1902-1987):Alguma
Poesia (1930),Brejo das Almas (1934), Sentimento do Mundo (1940),A Rosa do Povo
(1945), etc;
• Cecília Meireles (1901-1964): Viagem
(1939),Romanceiro da Inconfidência (1953),Ou Isto ou Aquilo (1964), etc;
• Érico Veríssimo (1905-1975): Clarissa (33), Olhai
os lírios do campo (38), O tempo e o vento , O continente (49) /O tempo e o
vento, O retrato (51) /O tempo e o vento, O arquipélago (61), Incidente em
Antares (71), etc;
• Graciliano Ramos (1892-1953): Vidas Secas (38), A
Terra dos Meninos Pelados (39), Memórias do Cárcere, póstuma (53), etc;
• Jorge Amado (1912-2001): Mar morto, romance
(1936), Capitães da areia, romance (1937), Gabriela, cravo e canela, romance
(1958),Os pastores da noite, romance (1964), Dona Flor e Seus Dois Maridos,
romance (1966), etc;
• José Lins do Rego (1901-1957): Menino de engenho
(1932),Riacho doce (1939),Fogo morto (1943), etc;
• Murilo Mendes (1901-1975):Poemas (1930),História
do Brasil (1932),Tempo e Eternidade (1935),Poesia em Pânico (1938),O Visionário
(1941), etc;
• Rachel de Queiroz (1910-2003):O quinze, romance
(1930),Caminho de pedras, romance (1937),A donzela e a moura torta, crônicas
(1948),Dora, Doralina, romance (1975),Memorial de Maria Moura, romance (1992),
etc;
• Vinícius de Moraes (1913-1980): Sua obra é vasta,
passando pela literatura, teatro, cinema e música.
A Terceira Geração
Contexto
1945: fim da 2ª Guerra Mundial, início da Era
Atômica (Hiroshima e Nagasaki), ONU, Declaração dos Direitos do Homem, Guerra
Fria; Fim da ditadura Vargas: redemocratização brasileira; Golpe de 64:
retomada de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.
Características
Na prosa, tanto no romance como nos contos, o que
se busca é uma literatura intimista, psicológica, introspectiva,destacando-se Clarice
Lispector.O regionalismo adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua
recriação dos costumes e da fala sertaneja. Aliás, Clarice e Guimarães Rosa são
chamados instrumentalistas, pois esmeram-se em pesquisar a linguagem coloquial,
regional.
No campo da poesia, a 3ª geração modernista se
opõem às conquistas e inovações da geração de 22. Negando a liberdade formal,
as ironias, as sátiras e outras ?brincadeiras? modernistas, os poetas de 45
buscavam uma poesia mais ?equilibrada e séria?. Os modelos voltam a ser os
Parnasianos e Simbolistas. São os principais autores desta corrente Ledo Ivo,
Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno. Nos últimos
anos da década
de 40, surge um poeta singular não filiado
esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto.
Alguns
autores e obras
Alguns Autores e obras do período:
• Clarice Lispector (1920-1977): A paixão segundo
G.H. (1964), Água viva (1973), A hora da estrela (1977), Laços de família
(1960), etc;
• Domingos Carvalho da Silva: Vida Prática, (1977).
• Ferreira Gullar (1930- ): Um pouco acima do chão
(1949), Poemas (1958), A luta corporal e novos poemas (1966), Barulhos (1987),
etc;
• João Cabral de Melo Neto (1920-1999): Os Três
Mal-Amados (1943), O Rio ou Relação da Viagem que Faz o Capibaribe de Sua
Nascente à Cidade do Recife (1954), Quaderna (1960), Morte e Vida Severina
(1966), etc;
• João Guimarães Rosa (1908-1967): Sagarana (1946),
Corpo de Baile (1956), Grande Sertão: Veredas (1956), etc;
• Mauro Mota (1911-1984): Elegias (1952).
Modernismo
- resumo, autores, dicas e questão comentada
Produto das transformações sofridas pelo Brasil nas
duas primeiras décadas do século 20, o período modernista brasileiro começou
com a Semana de Arte Moderna de 1922. Ele evolui em três gerações, marcadas
pela busca de inovações capazes de amadurecer a literatura nacional.
Primeira geração (1922-1930): seus expoentes
máximos são Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954). Tida
como iconoclasta, caracterizou-se pela negação do passado, pelo caráter
destrutivo de suas propostas, pelo nacionalismo e pela valorização do cotidiano
como matéria prima da Literatura. A redescoberta da realidade brasileira e do
coloquialismo também marcam sua produção.
Segunda geração (1930-1945): fase de consolidação
do Modernismo no Brasil. Na poesia, autores como Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987) e Cecília Meireles (1901-1964) apresentam preocupação acentuada com
a análise do ser humano e suas angústias - reflexo da sociedade em crise, na
qual é essencial indagar o sentido da existência.
Prosa: o neorrealismo do romance regionalista
apresenta a problematização da luta pela sobrevivência em uma sociedade
dominada pela exploração e pelas intempéries. Esse tema aparece, por exemplo,
nas obras de ficção de Graciliano Ramos (1892-1953), José Lins do Rego
(1901-1957), Rachel de Queiroz (1910-2003) e Jorge Amado (1912-2001).
Terceira geração (1945-1960): um de seus representantes
é João Guimarães Rosa (1908-1967), criador de uma prosa universal, em que o
sertão é palco para discussão de dramas humanos, narrados em linguagem poética
e inventiva. Outro representante é a escritora Clarice Lispector (1920-1977),
que aparece com uma literatura introspectiva, marcada pela quebra da
linearidade discursiva e pela epifania. Também se destaca João Cabral de Melo
Neto (1920-1999), cuja obra caracteriza-se pelo rigor formal, pelo equilíbrio e
pela busca da significação máxima da palavra.
Com o que ficar atento?
As transformações significativas pelas quais
passaram a sociedade brasileira - especialmente nas décadas de 60 e 70 -
criaram o conceito de pós-Modernismo e fizeram emergir tendências literárias
como o Concretismo, a Poesia Práxis.
Além disso, observa-se que, ao revolucionar as
artes, a literatura, a música e a arquitetura no Brasil, o Modernismo inspirou
e possibilitou o surgimento de movimentos posteriores, como o Cinema Novo, o
Tropicalismo e o Teatro de arena.
Como já caiu no vestibular?
(Unifesp-SP) Sobre Manuel Bandeira, é correto
afirmar que
a) a insistência em temas relacionados ao sonho e à
fantasia aponta para uma concepção de vida fugidia e distanciada da realidade.
Dessa forma, entende-se o poeta na transição entre o Realismo e Modernismo.
b) sua obra é muito pouco alinhada ao Modernismo,
pois sua expressão exclui por completo a linguagem popular, priorizando a
erudição e a contenção criadora.
c) o desapego aos temas do cotidiano o aponta como
um poeta que, embora inserido no Modernismo, está muito distanciado das causas
sociais e da busca de uma identidade nacional, como fizeram seus
contemporâneos.
d) o movimento modernista teve com seu trabalho e
com o de poetas como Oswald e Mário de Andrade a base de sua criação. Bandeira
recriou literariamente suas experiências pessoais, com temas como o amor, a
morte e a solidão, aos quais conferiu um valor mais universal.
e) o poeta trata de temas bastante recorrentes ao
Romantismo, como a saudade, a infância e a solidão. Além disso, expressa-se
como os românticos, já que tem uma visão idealizada do mundo. Daí seu
distanciamento dos demais modernistas da primeira fase.
Gabarito
Resposta correta: D
Comentário: É característica marcante da produção dos poetas em questão o aproveitamento da riqueza expressiva da linguagem e das possibilidades rítmicas do verso. Disso resulta uma poesia simples, clara e de profundo lirismo.
TEMPO E ESPAÇO
CONCLUSÃO
Resumo
Enredo 1
Macabéa: personagem principal da obra, é uma moça nordestina (alagoana) de 19 anos, pobre e desleixada. Não tem família e vive com um subemprego no Rio de Janeiro. Sua ignorância é tamanha que não reconhece nem sua própria infelicidade.
Olímpico de Jesus: é o primeiro e único namorado de Macabéa. Também nordestino, mas da Paraíba, não tem escrúpulos e é ambicioso.
Glória: filha do açougueiro e colega de trabalho de Macabéa. Apesar de não ser bonita, tinha certa sensualidade. Por conta disso, Olímpico deixa Macabéa para ficar com ela.
Madame Carlota: a cartomante.
Sobre Clarice Lispector
Descaso social e o caráter jornalístico da obra
Comentário do professor
Narrador
O foco narrativo de "Grande Sertão: Veredas" está em primeira pessoa. Riobaldo, na condição de rico fazendeiro, revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas. A narrativa, longa e labiríntica, por causa das digressões do narrador, simula o próprio sertão físico, espaço onde se desenrola toda a história.
A obra, na verdade, apresenta o diálogo entre Riobaldo e um interlocutor, que não se manifesta diretamente. Portanto, só é possível identificá-lo e caracterizá-lo por meio dos próprios comentários feitos por Riobaldo.
Tempo
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte: introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte: inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joça Ramiro.
3ª parte: a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte: conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte: epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito.
Espaço
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
Liso do Sussuarão: local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e consequente retirada.
Local da narração: fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão: espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas: local do possível pacto de Riobaldo.
Resumo
Por ser originariamente um folhetim, publicado semanalmente, o enredo necessitava prender a atenção do leitor, com capítulos curtos e até certo ponto independentes, em geral contendo um episódio completo. A trama, por isso, é complexa, formada de histórias que se sucedem e nem sempre se relacionam por causa e efeito.
O Compadre ou O Padrinho: é dono de uma barbearia e toma a guarda de Leonardo após os pais abandonarem a criança. Torna-se um segundo pai para ele.
A Comadre ou A Madrinha: mulher gorda e bonachona, apresentada como ingênua, frequentadora assídua de missas e festas religiosas.
Major Vidigal: homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo enérgico e centralizado.
Dona Maria: mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha aspecto bem-cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício das demandas (disputas judiciais).
Luisinha: sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem graça, se transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga encantadora.
Vidinha: mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções de Leonardo.
Sobre Manuel Antônio de Almeida
Narrador
A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém.
Foco Narrativo
Comentário do professor
Resumo
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de tipos sociais. Os principais são:
João Romão: taverneiro português, dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador.
Bertoleza: quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina.
Miranda: comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num sobrado aburguesado, ao lado do cortiço.
Jerônimo: português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho.
Rita Baiana: mulata sensual e provocante que promove os pagodes no cortiço. Representa a mulher brasileira.
Piedade: portuguesa que é casada com Jerônimo. Representa a mulher europeia.
Capoeira Firmo: mulato e companheiro que se envolve com Rita Baiana.
Elementos estruturais e resumos
“O burrinho pedrês”
“A volta do marido pródigo”
“Duelo”
Enredo: Turíbio flagra sua mulher, Silvana, com o ex-militar Cassiano Gomes. Ao procurar vingar sua honra, confunde-se e acaba matando o irmão de Cassiano Gomes. Turíbio foge para o sertão e é perseguido pelo ex-militar. Nessa disputa, os dois alternam os papéis de caça e de caçador. Cassiano adoece e, antes de morrer, ajuda um capiau chamado Vinte-e-um, que passava por dificuldades financeiras. Turíbio volta para casa e é surpreendido por Vinte-e-um, que o executa para vingar seu benfeitor.
Principais personagens: Turíbio Todo, Cassiano Gomes, Silvana e Vinte-e-um.
“Minha gente”
“A hora e a vez de Augusto Matraga”
Sobre Guimarães Rosa
Resumo
Besita, moça pobre, porém das mais belas da região, é objeto de desejo tanto de Luis Galvão, jovem fazendeiro, quanto de Jão, um órfão que foi criado junto com Luis Galvão. A moça corresponde ao amor do rico fazendeiro, mas este não tem interesse em desposar Besita, pois ela é pobre.
Lista de Personagens
Berta, Inhá ou Til: personagem central do livro, Berta, filha bastarda do fazendeiro Luis Galvão com Besita, é a representação típica da heroína romântica. Após a morte de sua mãe, passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Muito bonita e graciosa, atrai o carinho e o amor de todos, tendo contato inclusive com as pessoas mais desprezadas da região. Berta é personagem central e exerce grande influência sobre todas as outras personagens do livro.
Miguel: filho de nhá Tudinha, mostra-se apaixonado por sua irmã de criação, Berta (ou Inhá, como ele a chama). Por ser pobre, Miguel busca estudar para ascender socialmente e poder se casar com Linda.
Luis Galvão: dono da Fazenda das Palmas. Homem de muitas aventuras amorosas desde a juventude, é sempre protegido por seu "capanga" João Fera.
Linda: é filha de Luis Galvão e D. Ermelinda. Educada aos moldes da corte, mas amiga de Berta e Miguel, jovens de camada social inferior.
Afonso: irmão de Linda. Possui o mesmo espírito conquistador de seu pai e acaba se apaixonando por Berta, sem saber que esta é sua irmã de sangue.
Jão Fera ou Bugre: capanga dos ricos da região, é um homem temido. Sem conseguir salvar Besita, por quem era apaixonado, passa a proteger Berta após a morte de sua mãe.
Brás: sobrinho de Luis Galvão que sofria de ataques epiléticos e era débil mental. Era apaixonado por Berta (ele a chama de Til), que lhe ensinava o abecedário e rezas.
Zana: negra que trabalhava para Besita e que enlouquecera após presenciar o assassinato de Besita.
Ribeiro ou Barroso: marido de Besita. Logo após a noite de núpcias, parte para longe e fica anos afastado. Ao voltar e encontrar a esposa com uma filha, planeja vingança e assassina Besita. Promete vingar-se de Luis Galvão e Berta.
D. Ermelinda: elegante esposa de Luis Galvão.
Sobre José de Alencar
Resumo
A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No primeiro, o narrador conta suas impressões de viagens, intercalando citações literárias, filosóficas e históricas das mais diversas, com um tom fortemente subjetivo e repleto de digressões e intertextualidades. Dentre as referências literárias, podemos levantar citações a Willian Shakespeare, Luís de Camões, Miguel de Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e filosóficas, temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros.
Sobre Almeida Garrett
A estética da seca
Tempo
Além da falta de linearidade do tempo, em "Vidas Secas" há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. Essa opção do narrador de ocultar os marcadores temporais tem como principal consequência o distanciamento dos personagens da ordenação civilizada do tempo.
Comentário: É característica marcante da produção dos poetas em questão o aproveitamento da riqueza expressiva da linguagem e das possibilidades rítmicas do verso. Disso resulta uma poesia simples, clara e de profundo lirismo.
RESUMO DE ALGUNS LIVROS COBRADOS E/OU CITADOS NOS VESTIBULARES
A Cidade e as Serras - análise da obra de Eça de
Queirós
Último livro de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras foi publicado em 1901, um ano
após a morte do autor português. A obra não estava inteiramente acabada.
Faltava a meticulosa revisão que Eça dedicava a seus romances antes de
publicá-los. Ainda assim, é considerado um dos mais importantes livros do
escritor, concentrando as principais características do período de sua
maturidade artística.
Nessa fase, Eça ameniza o rigor do método realista e reconcilia-se com seu país, Portugal, tão duramente criticado em romances anteriores, como O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio.
Nessa fase, Eça ameniza o rigor do método realista e reconcilia-se com seu país, Portugal, tão duramente criticado em romances anteriores, como O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio.
TEMPO E ESPAÇO
O narrador-personagem, José
Fernandes, é quem conta a história do amigo Jacinto. A narrativa se passa no
século XIX, quando Paris era considerada a capital da Europa e o centro do
mundo. Portugal, no entanto, mantinha-se como um país agrário e
decadente.
Havia grande entusiasmo, nos meios
intelectuais da época, pelas teorias positivistas de Augusto Comte, criador do
sistema que ordena as ciências experimentais, considerando-as o modelo por
excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas
ou teológicas.
ENREDO
A narrativa inicia-se com a história de dom Galião, grande proprietário que, ao escorregar numa casca de laranja, é socorrido pelo infante dom Miguel. Desse dia em diante, o rechonchudo velho torna-se partidário fanático do príncipe.
ENREDO
A narrativa inicia-se com a história de dom Galião, grande proprietário que, ao escorregar numa casca de laranja, é socorrido pelo infante dom Miguel. Desse dia em diante, o rechonchudo velho torna-se partidário fanático do príncipe.
Em 1831, dom Pedro retorna do Brasil
para assumir o trono português, destronando seu irmão, dom Miguel. Indignado,
dom Galião muda-se de Portugal para Paris, levando consigo Grilo, futuro criado
de Jacinto.
Em Paris, o filho de dom Galião,
Cintinho, torna-se uma criança doente e tristonha. Quando adulto, seu aspecto
não melhora. Em sua única decisão mencionada no livro, prefere ficar em Paris e
casar-se com a filha de um desembargador a ir tratar-se no campo. Conclusão:
morre três meses antes de nascer Jacinto, seu único filho.
Jacinto cresce como um menino forte,
saudável e inteligente. Na faculdade, seu colega Zé Fernandes (o narrador) o
apelida de "Príncipe da Grã-Ventura". Em Paris, andavam em voga as
teorias positivistas, das quais o protagonista se revela entusiasta. Jacinto
elabora uma filosofia de vida:
"A felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da mecânica e da erudição".
"A felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da mecânica e da erudição".
O resultado desse entusiasmo de
Jacinto por Paris, porém, se revela desastroso. Zé Fernandes retrata dessa
forma a decadência do protagonista, de quem se havia separado durante sete
anos:
"Reparei então que meu amigo emagrecera; e que o nariz se lhe afilara mais entre duas rugas muito fundas, como as de um comediante cansado. Os anéis de seu cabelo lanígero rareavam sobre a testa, que perdera a antiga serenidade de mármore bem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos. Também notei que corcovava".
"Reparei então que meu amigo emagrecera; e que o nariz se lhe afilara mais entre duas rugas muito fundas, como as de um comediante cansado. Os anéis de seu cabelo lanígero rareavam sobre a testa, que perdera a antiga serenidade de mármore bem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos. Também notei que corcovava".
Zé Fernandes, então, também se deixa
levar por Paris, ao ser dominado por uma paixão carnal pela prostituta Madame
Colombe. O caso contraria as teorias de Jacinto, expostas no começo do livro,
segundo as quais o homem se tornava um selvagem no campo. Nesse caso, foi a
cidade de Paris que transformou Zé Fernandes num escravo de seus
instintos.
Segue-se uma série de episódios que
ilustram o ridículo que se escondia sobre a pretensa superioridade dos parisienses.
Jacinto torna-se entediado, doente, chega a lembrar seu pai, Cintinho. Então
ocorre uma reviravolta: a igreja onde estavam enterrados os avós de Jacinto vem
abaixo durante uma tormenta. Ele manda que se reconstrua tudo, sem se importar
com os gastos.
Na viagem de volta a Portugal,
Jacinto perde quase toda a bagagem. Seu país, no entanto, devolve a saúde ao
protagonista, que, revigorado, promove diversas melhorias em Tormes.
Finalmente, ele se casa com Joaninha, camponesa e prima de Zé Fernandes. Na última
cena do livro, Zé Fernandes, também enfastiado de Paris, parte para Tormes - o
"castelo da grã-ventura" - com Jacinto e Joaninha.
CAMPO E CIDADE
CAMPO E CIDADE
A
temática do campo versus cidade - recorrente nas obras do escritor português -
é o cerne do romance A Cidade e as Serras,
como o próprio título indica. Na tradição da literatura ocidental, o gênero
bucólico ou pastoral sempre tratou da oposição entre a vida tranquila e sábia
do camponês e a vida urbana, cheia de agitação fútil. Para diferenciar o que ocorre
no gênero pastoral e nesse romance, é preciso entender os pressupostos daquela
oposição. Por que a vida no campo seria mais "sábia" que a vida na
cidade?
O gênero bucólico, cultivado por
inúmeros autores desde a Antiguidade, caracteriza-se pela criação de um
personagem lírico - um pastor fictício - cujo conhecimento provém da
contemplação minuciosa da natureza. Sua expressão poética será tanto mais
eficaz quanto mais transmitir o efeito de possuir duas qualidades principais:
sabedoria e simplicidade.
O conceito de sabedoria mudou muito
no decorrer da história. Sem a pretensão de aprofundar aqui os vários
significados que a palavra teve, é interessante mostrar como esse conceito se
torna problema na obra de Eça.
O teórico Walter Benjamin definiu sabedoria
como "a teoria entretecida na experiência", fórmula que desvaloriza
tanto a ação que se promove sem o governo da razão, limitada pela ignorância
(simbolizada na figura do selvagem), quanto a teoria desvinculada das ações e
da vida sensível (simbolizada principalmente pela informação).
MODERNIDADE
No romance, um exemplo de como a
questão aparece está na cena em que Zé Fernandes, após ter passado sete anos em
Portugal, reencontra Jacinto em Paris. Depois de verificar que o amigo parecia
mais magro e abatido e admirar-se com as inovações do 202 (número da casa de
Jacinto na capital francesa), Zé Fernandes observa espantado o funcionamento de
um telégrafo, que transmite a Jacinto a informação de que "a fragata russa
Azoff entrara em Marselha com avaria".
Enquanto isso, Jacinto está ocupadíssimo ao telefone. O visitante pergunta então ao anfitrião "se o prejudicava diretamente aquela avaria da Azoff". A resposta do entediado Jacinto é: "Da Azoff?... a avaria? A mim... Não! É uma notícia".
Enquanto isso, Jacinto está ocupadíssimo ao telefone. O visitante pergunta então ao anfitrião "se o prejudicava diretamente aquela avaria da Azoff". A resposta do entediado Jacinto é: "Da Azoff?... a avaria? A mim... Não! É uma notícia".
Trata-se de um dado que não tem
importância para Jacinto, pois sua existência está completamente afastada do
destino da embarcação russa. A informação, porém, estabelece um falso vínculo
entre ambos os eventos. Jacinto assiste a tudo, mas não pode tomar nenhuma atitude.
A constatação é que o homem informado assiste a um jogo complexo de
acontecimentos que se desenrolam por todos os lugares do mundo, muitos sem
nenhuma relação aparente entre si, e fica como Jacinto diante do telégrafo:
agoniado e entediado.
Quando o protagonista volta a
Portugal, encontra o mundo da experiência alheia à teoria. Se em Paris ele
tinha um milhão de instrumentos incapazes de proporcionar uma vida saudável, em
Portugal falta-lhe até uma cama confortável, sendo preciso improvisar uma entre
as pedras.
Vale lembrar que Jacinto fora chamado
a Tormes - sua propriedade em Portugal - para reconstruir o túmulo de seus
ancestrais, o que pode ser interpretado como uma religação do protagonista com
suas origens, citadas no início do livro. Porém, o Jacinto que retorna é um
homem muito informado e pode agora aplicar parte da grande carga teórica que
adquiriu ao contexto português. É preciso primeiro livrar-se da complexidade
inútil do jogo das informações e articulá-las de modo eficiente. Em resumo: agir
com simplicidade. O protagonista, então, torna-se sujeito de uma ação bem
direcionada, conseguindo promover muitas melhorias em Tormes, lugar atrasado e
pobre.
A ideia de sabedoria encontrada nesse
romance, portanto, se desvincula do que determina o gênero bucólico, em que a
contemplação da natureza é a responsável pela produção do saber. O que vemos
aqui é uma ideia muito mais próxima de nossa modernidade, na qual há uma
ruptura entre a informação e a experiência pessoal.
CONCLUSÃO
As obras de Eça de Queirós podem ser
agrupadas em três fases: a primeira, experimental, em que o autor publicou
artigos irregulares em folhetins; a segunda, fortemente realista, que vai desde
a publicação de O Crime do Padre Amaro, em 1875,
até a de Os Maias, em 1888; e a terceira, pós-realista, na qual o autor se
reconcilia com a sua Portugal. Nessa, destaca-se A Ilustre Casa de Ramires, de 1900, além de A Cidade e as Serras.
A temática tratada, campo versus
cidade, vem de uma longa tradição literária e é recorrente na obra do autor.
Nesse romance, ele se dedica a mostrar a futilidade reinante em Paris e a
satirizar as ideias positivistas que deslumbravam a juventude intelectual da
época.
A hora da estrela - Resumo da obra de Clarice
Lispector
Em seu último romance, Clarice
Lispector criou um narrador fictício, Rodrigo S.M, que relata a vida da jovem
nordestina Macabéa, ao mesmo tempo em que reflete sobre os sonhos, as manias e
os conflitos internos da garota.
Resumo
Enredo 1
O narrador conta a história de
Macabéa, jovem alagoana de 19 anos que vive no Rio de Janeiro. Órfã, mal se
lembrava dos pais, que morreram quando ela era ainda criança. Foi criada por
uma tia muito religiosa e moralista, cheia de superstições e tabus, os quais
ela passou para a sobrinha.
Essa tia também tinha certo prazer
mórbido em castigar Macabéa com cascudos na cabeça, muitas vezes sem motivo,
além de privá-la de sua única paixão: a goiabada com queijo na sobremesa.
Assim, depois de uma infância miserável, sem conforto nem amor, sem ter tido
amigos nem animais de estimação, Macabéa vai para a cidade grande com a tia.
Apesar de ter estudado pouco e não
saber escrever direito, Macabéa faz um curso de datilografia e consegue um
emprego, no qual recebe menos que o salário mínimo. Após a morte da tia, deixa
de ir à igreja e passa a repartir um quarto de pensão com quatro balconistas de
uma loja popular.
Macabéa cheirava mal, pois raramente tomava banho. À noite, não dormia direito por causa da tosse persistente, da azia — em virtude do café frio que tomava antes de se deitar — e da fome, que ela disfarçava comendo pedacinhos de papel.
Macabéa cheirava mal, pois raramente tomava banho. À noite, não dormia direito por causa da tosse persistente, da azia — em virtude do café frio que tomava antes de se deitar — e da fome, que ela disfarçava comendo pedacinhos de papel.
A moça tinha hábitos e manias que
aliviavam um pouco a solidão e o vazio de sua existência. Entretinha-se ouvindo
a Rádio Relógio num aparelho emprestado de uma das colegas. Essa emissora
informava a hora certa, transmitia cultura inútil e propaganda, sem nenhuma
música. A garota colecionava também anúncios de jornais e revistas, que colava
num álbum. Certa vez, cobiçou um creme cosmético, que preferia comer em vez de
passar na pele.
Era muito magra e pálida, pois não se
alimentava direito. Basicamente vivia de cachorro-quente com Coca-Cola, que
comia na hora do almoço, em pé, no balcão de uma lanchonete ou no escritório em
que trabalhava. Não sabia o que era uma refeição quente. Seus luxos consistiam
em pintar de vermelho as unhas, que roía depois, comprar uma rosa e, quando
recebia o salário, ir ao cinema, o que a fazia desejar ser estrela de cinema,
como Marilyn Monroe, seu grande sonho.
Certo dia, o chefe de Macabéa,
Raimundo, cansado do péssimo trabalho que ela executava, com textos
datilografados cheios de erros de ortografia e marcas de gordura, resolve
despedi-la. A reação da garota, de se desculpar pelo aborrecimento causado,
acaba desarmando Raimundo, que decide mantê-la por mais um tempo.
Num dia 7 de maio, Macabéa mente
dizendo que arrancaria um dente e falta ao trabalho para poder aproveitar a
liberdade da solidão e fazer algo diferente. Assim que as colegas saem para
trabalhar, ela coloca uma música alta, dança, toma café solúvel e até mesmo se
dá ao luxo de se entediar. É nesse dia que conhece Olímpico de Jesus, único
namorado que teve.
Não foi um namoro convencional.
Olímpico também havia migrado do Nordeste, onde matara um homem, fugindo para o
Rio de Janeiro. Conseguira emprego numa metalúrgica, o que dá delírios de
grandeza em Macabéa. Afinal, ambos tinham profissão: ela era datilógrafa e ele,
metalúrgico.
Mau-caráter e ambicioso, Olímpico morava de favor no trabalho, roubava os colegas e almejava um dia ser deputado. O passeio dos namorados era sempre seguido de chuvas e de programas gratuitos, como sentar-se em bancos de praça para conversar. Nessas ocasiões, Olímpico se irritava com as perguntas que Macabéa fazia, o que a levava constantemente a se desculpar, pois não queria perdê-lo, apesar de seus maus-tratos.
Mau-caráter e ambicioso, Olímpico morava de favor no trabalho, roubava os colegas e almejava um dia ser deputado. O passeio dos namorados era sempre seguido de chuvas e de programas gratuitos, como sentar-se em bancos de praça para conversar. Nessas ocasiões, Olímpico se irritava com as perguntas que Macabéa fazia, o que a levava constantemente a se desculpar, pois não queria perdê-lo, apesar de seus maus-tratos.
Certo dia, admitindo que ela nunca
lhe dava despesa, Olímpico decide pagar um cafezinho para Macabéa no bar da
esquina. Avisa, porém, que se o café com leite fosse mais caro, ela pagaria a
diferença. Macabéa, emocionada com a "bondade" do namorado, acaba
enchendo o copo de açúcar para aproveitar, ficando enjoada depois. Em um
passeio ao zoológico, Macabéa fica com tanto medo do rinoceronte que urina na
roupa e tenta disfarçar para não desagradar ao namorado. Um dia, vendo que só o
chefe e sua colega de escritório, Glória, recebiam telefonemas, Macabéa dá uma
ficha telefônica para que Olímpico ligue para ela. Ele se recusa, dizendo que
não queria ouvir as "bobagens" dela.
Até que, após conhecer Glória, Olímpico decide romper com Macabéa para ficar com a sua amiga. O rapaz considera a troca um progresso, já que elas eram opostas: Glória era loira (oxigenada), cheia de corpo, morava numa casa confortável, tinha três refeições por dia e, o mais importante, seu pai era açougueiro, profissão ambicionada por Olímpico.
Até que, após conhecer Glória, Olímpico decide romper com Macabéa para ficar com a sua amiga. O rapaz considera a troca um progresso, já que elas eram opostas: Glória era loira (oxigenada), cheia de corpo, morava numa casa confortável, tinha três refeições por dia e, o mais importante, seu pai era açougueiro, profissão ambicionada por Olímpico.
Após esse episódio, Macabéa vai ao
médico e descobre que tem tuberculose, mas não entende muito bem a gravidade da
doença. Sente-se bem só por ter ido ao consultório e não acha necessário
comprar o medicamento receitado. Com dor na consciência por ter roubado o
namorado de Macabéa, Glória a convida para lanchar em sua casa. Macabéa, mais
uma vez, aproveita a oportunidade e come demais. Apesar de passar mal, não
vomita para não desperdiçar o luxo do chocolate, mas sente remorsos por ter
roubado uma rosquinha.
Finalmente, aconselhada por Glória,
Macabéa vai até uma cartomante para saber de sua sorte. Lá, é recebida pela
própria, Madama Carlota, que impressiona a pobre moça pelo "requinte"
de sua residência, repleta de plástico, e pela amabilidade afetada com que a
trata. Após Madama Carlota contar sobre sua vida como prostituta e cafetina, lê
as cartas para Macabéa, que, emocionada, pela primeira vez vislumbra um futuro
e se permite ter esperança. Afinal, iria se casar com um estrangeiro rico, que
daria todo o amor de que ela precisava.
Inebriada com as previsões da
cartomante, Macabéa atravessa a rua sem olhar e é atropelada por uma
Mercedes-Benz. Caída na calçada e sangrando, seu fim é testemunhado por
inúmeros espectadores que se aglomeram em torno dela, sem que nenhum ofereça
socorro. Por fim, a garota tosse sangue e morre. Havia chegado a hora da
estrela.
Enredo 2
Começa quando o narrador, andando
pela rua, capta o olhar de desespero de uma jovem nordestina no meio da
multidão. A partir daí, nasce Macabéa, que representa a miséria inerente ao
autor e a todas as pessoas. Em uma relação de amor e ódio, Rodrigo S.M. narra a
vida dessa moça como tentativa de se livrar da sensação de mal-estar que ela
representa e que o contagiava ao mesmo tempo em que se apieda e se revolta,
inclusive se sentindo culpado por viver num padrão mais elevado que a maioria
da população marginalizada.
Dessa forma, intima o leitor a também
se colocar no lugar do outro para experimentar essa miséria e perceber que, no
fundo, ela faz parte de todos nós. Por isso, não basta denunciar as mazelas
sociais, como a fase anterior do modernismo pregava, mas induzir o leitor a uma
epifania, uma revelação, ainda que despertada pela náusea, como nesse
caso.
Enredo 3
Nessa parte, Rodrigo S.M. discute a
limitação da literatura diante da busca existencial. Também ironicamente
condena os autores de estilo pretensamente original, que abusam de modismos, de
adornos que descaracterizam o poder das palavras, bem como a obsessão pelo
rigor formal, pela ortografia impecável.
Assim, há na obra diversos recursos metalinguísticos. Essas três narrativas se interligam, não sendo possível separá-las, pois o livro nem mesmo tem divisão por capítulos.
Assim, há na obra diversos recursos metalinguísticos. Essas três narrativas se interligam, não sendo possível separá-las, pois o livro nem mesmo tem divisão por capítulos.
Lista de personagens
Rodrigo
S.M.: é o narrador
da história e pode ser entendido como uma representação da própria escritora.
Ele faz ao longo do livro diversas reflexões sobre o ato de escrever. Sua principal
preocupação é em mergulhar na profundidade do ser humano para entender sua
natureza.
Macabéa: personagem principal da obra, é uma moça nordestina (alagoana) de 19 anos, pobre e desleixada. Não tem família e vive com um subemprego no Rio de Janeiro. Sua ignorância é tamanha que não reconhece nem sua própria infelicidade.
Olímpico de Jesus: é o primeiro e único namorado de Macabéa. Também nordestino, mas da Paraíba, não tem escrúpulos e é ambicioso.
Glória: filha do açougueiro e colega de trabalho de Macabéa. Apesar de não ser bonita, tinha certa sensualidade. Por conta disso, Olímpico deixa Macabéa para ficar com ela.
Madame Carlota: a cartomante.
Sobre Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu em 10 de
dezembro de 1920 em Tchetchelnik, Ucrânia. Quando tinha cerca de dois meses de
idade, seus pais migraram para o Brasil, terra que considerava como sua
verdadeira pátria. Em 1924, a família mudou-se para o Recife, onde iniciou seus
estudos. Por volta dos oito anos, Clarice perdeu sua mãe. Três anos depois, a
família muda-se para o Rio de Janeiro.
Ingressa em 1939 na Faculdade de Direito, e publica no ano seguinte seu primeiro conto, Triunfo, em uma revista. Forma-se em 1943 e casa-se no mesmo ano com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos. Durante seus anos de casada, mora em diversos países pela Europa e nos Estados Unidos.
Em 1944, publica seu primeiro romance, Perto do coração selvagem, vindo a ganhar o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, no ano seguinte. Separa-se de seu marido em 1959 e volta para o Rio de Janeiro com seus dois filhos. No ano seguinte, publica seu primeiro livro de contos, Laços de família.
Ingressa em 1939 na Faculdade de Direito, e publica no ano seguinte seu primeiro conto, Triunfo, em uma revista. Forma-se em 1943 e casa-se no mesmo ano com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos. Durante seus anos de casada, mora em diversos países pela Europa e nos Estados Unidos.
Em 1944, publica seu primeiro romance, Perto do coração selvagem, vindo a ganhar o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, no ano seguinte. Separa-se de seu marido em 1959 e volta para o Rio de Janeiro com seus dois filhos. No ano seguinte, publica seu primeiro livro de contos, Laços de família.
Em 1967, um cigarro provoca um grande
incêndio em sua casa e Clarice fica gravemente ferida, correndo risco inclusive
de ter sua mão direita amputada. Porém, após se recuperar, continua com sua
carreira literária publicando diversos livros.
Publica em 1977 seu último livro, A
hora da estrela, vindo a ser internada pouco tempo depois com câncer. A escritora
vem a falecer no dia 9 de dezembro do mesmo ano, véspera de seu aniversário de
57 anos.
Suas principais obras são: "Perto do coração selvagem" (1944), "Laços de família" (1960), "A maçã no escuro" (1961), "A legião estrangeira" (1964), "A paixão segundo G.H." (1964), "Felicidade clandestina" (1971), "Água viva" (1973) e "A hora da estrela" (1977).
Suas principais obras são: "Perto do coração selvagem" (1944), "Laços de família" (1960), "A maçã no escuro" (1961), "A legião estrangeira" (1964), "A paixão segundo G.H." (1964), "Felicidade clandestina" (1971), "Água viva" (1973) e "A hora da estrela" (1977).
Capitães da
areia - análise da obra de Jorge Amado
O romance, que retrata o cotidiano de
um grupo de meninos de rua, procura mostrar não apenas os assaltos e as
atitudes violentas de sua vida bestializada, mas também as aspirações e os
pensamentos ingênuos, comuns a qualquer criança.
Descaso social e o caráter jornalístico da obra
O romance "Capitães da
Areia" começa com uma reportagem fictícia intitulada “Crianças ladronas”.
A matéria narra minuciosamente um assalto à casa de um rico negociante, o
comendador José Ferreira. De acordo com o texto, o crime fora praticado pelos
Capitães da Areia, descritos como “o grupo de meninos assaltantes e ladrões que
infestam a nossa urbe”.
Depois da reportagem, a introdução
apresenta uma sequência de cartas de leitores do jornal. As duas primeiras são,
respectivamente, do secretário do chefe de polícia (que atribui ao juiz de
menores a responsabilidade pelos atos criminosos dos Capitães da Areia) e do
juiz de menores (segundo o qual a tarefa de perseguir os menores é do chefe de
polícia).
A carta de uma mulher, cujo filho
estivera preso no reformatório, narra os horrores que eram praticados ali
contra os menores infratores. Outra, do padre José Pedro (importante personagem
e aliado dos garotos injustiçados), confirma a denúncia anterior, citando sua
experiência no reformatório. O padre visitava o local para levar conforto
espiritual aos meninos. A última carta – e a última palavra –, porém, é a do
diretor do reformatório. Em seu texto, o diretor nega os maus-tratos
dispensados aos menores na instituição que dirige, o que é uma hipocrisia, como
se poderá observar no decorrer do livro.
Essa forma de início da obra é
eloquente. Pode-se ver, na recriação literária de matérias jornalísticas, a
tentativa de dar à história do grupo de meninos um caráter verídico e, ao mesmo
tempo, demonstrar o que há de ficção nas reportagens publicadas. Ou seja,
apesar de ser um romance, Capitães da Areia revela uma situação social real. De
outro lado, as notícias veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos
interesses das classes sociais mais ricas, podem estar permeadas de elementos
mentirosos.
O descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou da dos adultos que estão a seu lado, como o padre José Pedro e o capoeirista Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do narrador.
O descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou da dos adultos que estão a seu lado, como o padre José Pedro e o capoeirista Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do narrador.
O enredo, sobretudo no início, tem a
função de caracterizar os personagens. Pode-se dizer que busca apresentar os
Capitães da Areia, revelando a personalidade de cada integrante do grupo, suas
ambições e frustrações.
Dos vários capítulos que compõem o
romance, alguns são particularmente significativos. Em “As Luzes do Carrossel”,
o bando, conhecido pela periculosidade, esbalda-se ao brincar em um decadente
carrossel. Desde o líder, Pedro Bala, passando pelos seus mais destacados
membros, a grande maioria se diverte de forma pueril no velho brinquedo.
Essa passagem é importante por fazer
o contraponto à opinião vigente na alta sociedade baiana em relação aos
Capitães da Areia. A visão de que os garotos eram bandidos sem recuperação, que
deveriam ser tratados de forma desumana no reformatório, é confrontada com essa
situação. Ao mostrar os garotos divertindo-se no “Grande Carrossel Japonês”, o
narrador mostra a essência dos personagens do livro. Pedro Bala e seus
comandados são apenas crianças socialmente desamparadas.
Ausência da figura materna
Ausência da figura materna
Outro capítulo que merece destaque é
“Família”. Aqui, é mostrada a carência afetiva de um dos membros do grupo, o
Sem-Pernas. O menino manco tinha grande talento para a dissimulação, por isso
se especializara na tarefa de espião do bando. Ele se infiltrava na casa de
famílias ricas, apresentando-se como pobre órfão que pedia um lugar para morar.
Quando obtinha sucesso na empreitada, observava onde os moradores guardavam
seus bens valiosos e informava o bando, que, dias depois, invadia a casa e a
roubava.
Nesse capítulo, no entanto,
Sem-Pernas é acolhido de forma sincera e amorosa pelos donos da casa, que o
veem como o filho que havia morrido. Sem-Pernas vive então um conflito interno.
Tratado como um verdadeiro filho, o garoto fica dividido entre a lealdade ao
bando que o acolheu e os novos “pais” que lhe davam o carinho e o amor que
nunca havia conhecido. Opta pela lealdade ao grupo, que invade e saqueia a
casa.
Sem-Pernas é o personagem mais
revoltado do bando, o integrante que menos demonstra capacidade de amar e de
receber amor do próximo. Quando o narrador revela sua real necessidade de amor,
acaba por transferir essa necessidade para todo o bando. Isso reforça a idéia
de que são crianças para as quais falta a atenção das famílias e do Estado, e
não simplesmente marginais que optaram por uma vida de crimes.
O capítulo “Dora, Mãe” deixa claro
que os meninos, precocemente atirados à vida adulta, sentiam falta de uma
figura materna que os embalasse e os consolasse. Os Capitães da Areia conheciam
o sexo, praticado em geral com as “negrinhas do areal”. Por isso, quando Dora,
uma menina de 13 anos, entra no trapiche em que vivem, todos a cercam com
intenções libidinosas. Protegida pelo Professor, mas, sobretudo, por João
Grande, Dora acabou conquistando o respeito dos meninos, que passaram a
enxergar nela a figura materna havia muito ausente na vida deles. O primeiro a
vivenciar esse sentimento é o Gato. Ao pedir a ela costure um caro paletó de
casimira, sente as unhas de Dora em suas costas e lembra-se de Dalva, sua
amante, mas logo reflete sobre a distinção: enquanto Dalva arranhava suas
costas para despertar-lhe a libido, Dora o fazia apenas com o instinto materno
de vê-lo bem vestido. O mesmo sentimento acaba sendo despertado em Volta Seca,
Pirulito e nos demais Capitães da Areia, exceto o Professor e Pedro Bala. Este
último iria amá-la, no futuro, como esposa.
Comentário do professor
"Capitães da Areia" foi
publicado por Jorge Amado em 1937 e narra a história de um grupo de garotos de
rua que se unem para assaltar pessoas e residências em Salvador. Segundo o
professor Marcílio Lopes Couto, do Colégio Anglo, Jorge Amado tem uma visão piedosa
dessas crianças, destacando que elas cometem os crimes porque são abandonadas.
Não que ele apoie o roubo, mas é simpático aos garotos e tenta retratar as
causas da situação.
Entre as personagens do livro, ele
destaca Pedro Bala, líder do grupo de garotos e protagonista da história. “Ele
passa de menino de rua a trabalhador engajado por melhores condições de vida e
de trabalho. É o fio condutor da história”, declara Couto.
Outras personagens lembradas por
Couto são Dora – amada de Pedro, que morre muito doente e abala o protagonista
– e o padre José Pedro – que tenta levar os meninos para o caminho do bem e,
apesar de não conseguir, trata-os com mais apreço que ninguém.
Pensando na prova do vestibular, o
professor Marcílio Lopes comenta que é sempre possível que o vestibular peça
paralelos com a atualidade, mas o mais comum é pedir paralelos entre as obras
obrigatórias. Assim, ele elenca algumas dessas relações.
A primeira é com Vidas Secas (1938),
de Graciliano Ramos – trabalho contemporâneo ao de Jorge Amado. Os dois livros
abordam problemas sociais: Vidas Secas aponta mazelas da realidade rural,
enquanto Capitães da Areia foca a realidade urbana, diferencia o professor.
O professor Couto destaca ainda que o
texto de Amado pode aparecer no vestibular relacionado a problemas atuais de
moradia, o que também pode ocorrer com outra obra exigida pela Fuvest, O
Cortiço (1890), de Aluísio de Azevedo. “Esses dois livros apontam diretamente
para a questão urbana”, afirma o professor.
Já o livro de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (1901), guarda relação mais sutil com os conflitos da vida em cidades, lembra Couto. Segundo o professor, esse romance mostra a transição na vida de um homem (Jacinto) que vivia rodeado por riqueza em uma grande cidade (Paris), mas, infeliz, larga tudo para viver no campo português, onde encontra a felicidade.
Já o livro de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (1901), guarda relação mais sutil com os conflitos da vida em cidades, lembra Couto. Segundo o professor, esse romance mostra a transição na vida de um homem (Jacinto) que vivia rodeado por riqueza em uma grande cidade (Paris), mas, infeliz, larga tudo para viver no campo português, onde encontra a felicidade.
Por fim, o professor relaciona Pedro
Bala, de Capitães da Areia, a Leonardinho, protagonista de (1854). Ambos são
anti-heróis, porque ocupam o centro das histórias e são caracterizados
negativamente. Bala é um menino assaltante, Leonardinho, um malandro, que vive
de bicos e não tem família constituída.
Grande Sertão: Veredas -
Análise da obra de Guimarães Rosa
A obra, uma das mais importantes da literatura
brasileira, é elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo presentes
no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor
reprimido por Diadorim.
O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
- Leia o resumo de Grande Sertão: Veredas
O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
- Leia o resumo de Grande Sertão: Veredas
Narrador
O foco narrativo de "Grande Sertão: Veredas" está em primeira pessoa. Riobaldo, na condição de rico fazendeiro, revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas. A narrativa, longa e labiríntica, por causa das digressões do narrador, simula o próprio sertão físico, espaço onde se desenrola toda a história.
A obra, na verdade, apresenta o diálogo entre Riobaldo e um interlocutor, que não se manifesta diretamente. Portanto, só é possível identificá-lo e caracterizá-lo por meio dos próprios comentários feitos por Riobaldo.
Tempo
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte: introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte: inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joça Ramiro.
3ª parte: a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte: conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte: epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito.
Espaço
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em
que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia: local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos: espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Chapadão do Urucúia: local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos: espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão: local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e consequente retirada.
Local da narração: fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão: espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas: local do possível pacto de Riobaldo.
Comentário do professor
Comentário do prof. Charles Casemiro, da Oficina do
Estudante:
"Grande Sertão: Veredas" é uma narrativa
do pós-modernismo brasileiro (geração de 45). Consiste em um longo
diálogo/monólogo em que o protagonista, Riobaldo, velho jagunço que trocara a
vida da jagunçagem pela tranquilidade da fazenda, narra a sua vida a um jovem
doutor que chegou a suas terras. O texto nos dá apenas pistas sobre as reações
do ouvinte-doutor sem, porém, permitir nenhuma fala.
O núcleo das memórias do narrador Riobaldo não é,
todavia, sua aventura na jagunçagem, mas, principalmente, o caso amoroso que
manteve com Maria Deodorina da Fé Betancourt Marins, a Diadorim, que, sendo
filha única de um fazendeiro-jagunço, Joca Ramiro, travestiu-se de homem para
viver em meio aos jagunços.
O outro núcleo da história mostra como Hermógenes, um dos jagunços acabou matando o chefe do bando Joca Ramiro, fugindo depois com uma parte da jagunçagem. Riobaldo assumiu então a direção do grupo que restou, tomando como braço direito "o seu Diadorim". Buscando justiça e vingança, Riobaldo se propõe a dar a alma ao diabo em troca de encontrar e matar Hermógenes. O que ocorreu.
O outro núcleo da história mostra como Hermógenes, um dos jagunços acabou matando o chefe do bando Joca Ramiro, fugindo depois com uma parte da jagunçagem. Riobaldo assumiu então a direção do grupo que restou, tomando como braço direito "o seu Diadorim". Buscando justiça e vingança, Riobaldo se propõe a dar a alma ao diabo em troca de encontrar e matar Hermógenes. O que ocorreu.
Nessa obra de Rosa, "o sertão é o mundo"
e, de modo especial, um mundo que pode ser registrado, manipulado e
transformado: é um mundo mítico, ativo, interativo. Se o interesse especial de
Rosa pelo espaço natural e cultural do sertanejo salta aos olhos dos leitores
em cada trecho de sua obra, esse interesse, porém, aparece, não ocasionalmente,
apenas como o fio da meada, como pretexto apenas para uma discussão maior sobre
o ser humano e sobre o mundo, na verdade, sobre a relação sempre tensa, que se
estabelece entre o ser humano e o mundo.
Existe, nesse sentido, uma ponte de ligação, de
transcendência entre o regional sertanejo e o universal humano na obra rosiana
que, muito propriamente, se dá no campo da linguagem e não apenas nos outros
campos. A linguagem de Rosa constitui assim um universo novo, ao passo que
reinventa a vida sertaneja, as falas sertanejas, as angústias, as felicidades,
as descobertas, os encontros e os desencontros sertanejos e humanos. Mais
diretamente, podemos dizer que, para Guimarães Rosa, o sertão é um mundo – um
espaço existencial – e um mundo confundido com linguagem original, poética e
criadora, no sentido de que tudo pode ser visto – espaço e linguagem – como
universo ainda virgem, de puro de sentido.
Das cenas rosianas brotam espaços existenciais,
interativos, vivos, por vezes personificados, verdadeiramente panteístas; brota
um universo folclórico, cercado de transcendência; brota a vida enquanto
existência exterior e interior, e a morte enquanto limitação; brotam assim
belos, o amor, a comunhão, os rompimentos, os medos, as certezas, as angústias,
as esperanças, as desilusões, as descobertas, as perdas, Deus, o Demônio, o bem
e o mal, as tensões entre o sujeito sertanejo e o sertão, entre o sujeito
sertanejo e o outro, entre o sertão e o mundo, entre o mundo e a linguagem.
Memórias de um Sargento de Milícias - Resumo da
obra de Manuel Antônio de Almeida
O romance de Manuel Antônio de
Almeida, escrito no período do romantismo, retrata a vida do Rio de Janeiro no
início do século XIX e desenvolve pela primeira vez na literatura nacional a
figura do malandro.
- Leia a análise Memórias de um Sargento de Milícias
- Leia a análise Memórias de um Sargento de Milícias
Resumo
Por ser originariamente um folhetim, publicado semanalmente, o enredo necessitava prender a atenção do leitor, com capítulos curtos e até certo ponto independentes, em geral contendo um episódio completo. A trama, por isso, é complexa, formada de histórias que se sucedem e nem sempre se relacionam por causa e efeito.
“Filho de uma pisadela e de um
beliscão” (referência à maneira como seus pais flertaram, ao se conhecer no
navio que os conduz de Portugal ao Brasil), o pequeno Leonardo é uma criança
intratável, que parece prever as dificuldades que irá enfrentar. E não são
poucas: abandonado pela mãe, que foge para Portugal com um capitão de navio, é
igualmente abandonado pelo pai, mas encontra no padrinho seu protetor. Esse é dono
de uma barbearia e tem guardada boa soma em dinheiro.
Enquanto o pequeno Leonardo apronta
as suas diabruras pela vizinhança, seu pai, Leonardo Pataca, se envolve
amorosamente com a Cigana, mas essa o abandona logo. Ele, então, recorre à
feitiçaria (proibida naquela época) para tentar trazê-la de volta. Porém, no
auge da cerimônia o major Vidigal e seus homens invadem a casa do feiticeiro,
açoitam os praticantes e levam Leonardo Pataca preso. Ele pede socorro à
Comadre, que pede ajuda a um Tenente-Coronel que se considerava em dívida com a
família de Pataca, e ele logo é solto.
Já o Compadre (ou padrinho) que
cuidava do menino Leonardo havia aprendido o ofício de barbeiro com o homem que
o criara. Foi para a África como médico em um navio negreiro e, durante a
volta, o capitão em seu leito de morte lhe confiou um baú de dinheiro para que
o entregasse a sua filha. Ele, porém, ficou com o dinheiro. Após isso aparenta
ter se tornado um homem de bem e cria o Leonardo como se fosse um filho,
sonhando em torna-lo padre. O menino, porém, causa transtornos por qualquer
lugar onde passa e, após levar uma enorme bronca do padre da cidade, jura
vingança.
O padre era um homem que aparentava
ser santo, mas na realidade era um lascivo e fora ele quem roubara a Cigana de
Leonardo Pataca. Como o padre passava boa parte de seu tempo na casa dela, um
dia o menino Leonardo resolve armar uma emboscada para desmascará-lo. Ele vai
até a casa da Cigana para informar o horário de uma festa, mas ele mente o
horário para que o padre chegue atrasado. Quando por fim chegou à igreja, o
padre repreende ao menino perguntando-lhe qual era a hora certa do sermão.
Leonardo, então, diz que falou o horário correto e que a Cigana estava de
prova, pois ouviu tudo. Sem saber o que fazer frente ao choque de todos, ele
dispensa o menino.
Leonardo Pataca, ao saber que havia
sido trocado pelo padre, resolve tentar conquistar Cigana novamente. Ela,
porém, não dá bola para ele. Para se vingar, ele contrata um amigo para causar
uma confusão em uma festa que ela iria promover em sua casa. No momento da
bagunça Vidigal, que já havia sido avisado por Pataca, aparece e prende o padre
em flagrante, somente de cueca, meia, sapato e gorrinho na cabeça. Com isso,
Leonardo Pataca consegue ficar mais um tempo com a Cigana.
O Compadre passou a frequentar a casa
de D. Maria, uma rica mulher com gosto pelo Direito, sempre acompanhado do
afilhado Leonardo. Com o tempo o menino foi sossegando, até que chegou a idade
dos amores. Luisinha, uma menina descrita como feia e que era filha do
recém-falecido irmão de D. Maria, foi morar com a tia. No dia da festa do
Espírito Santo foram todos ver a queima de fogos. A menina se divertiu, abraçou
Leonardo pelas costas e no final os dois voltaram de mãos dadas. Após isso,
porém, Luisinha voltou a ficar tímida.
Um dia entra em cena José Manuel,
homem mais velho que fica interessado em Lusinha por conta da herança que ela
havia recebido do pai e que iria receber de D. Maria, já que ela era a única
herdeira. O Compadre, percebendo os interesses de José Manuel, se junta à
Comadre para tentar espantar o interesseiro. Enquanto isso, Leonardo tenta
conquistar Luisinha, mas ele acaba saindo muito sem jeito e acaba espantando
ela. Porém, fica claro que Luisinha também gosta de Leonardo. Para tentar
afastar José Miguel, a Comadre inventa uma série de mentiras, que logo são
descobertas. Então, D. Maria, ao invés de expulsar José, acaba se afastando da
Comadre, agora desacreditada.
Enquanto isso, novamente traído pela
Cigana, Leonardo Pataca junta-se com a filha da Comadre e têm um filho juntos.
Pouco depois o Comadre morre e Leonardo vai morar junto com o pai. Porém, ele e
sua madrasta não conseguem se entender e, após muitas brigas, ele foge de casa.
Afastado de todos, Leonardo conhece um grupo que estava fazendo piquenique e
reconhece dentre eles um amigo seu de infância.
Leonardo passa a morar junto com eles na Rua da Vala. Lá vivem duas quarentonas viúvas e seus seis filhos, sendo que uma tinha três rapazes e outra três moças. Vidinha era a mais bonita e era disputada por dois primos. Porém, ela acaba se enamorando com Leonardo e os dois passam o dia namorando dentro de casa, o que desperta ciúmes dos outros rapazes. Esses, por sua vez, vão falar para Vidigal que Leonardo está vivendo como intruso na casa e tirando proveito das mulheres. Num dia, Vidigal aparece e leva Leonardo preso, mas esse consegue fugir.
Leonardo passa a morar junto com eles na Rua da Vala. Lá vivem duas quarentonas viúvas e seus seis filhos, sendo que uma tinha três rapazes e outra três moças. Vidinha era a mais bonita e era disputada por dois primos. Porém, ela acaba se enamorando com Leonardo e os dois passam o dia namorando dentro de casa, o que desperta ciúmes dos outros rapazes. Esses, por sua vez, vão falar para Vidigal que Leonardo está vivendo como intruso na casa e tirando proveito das mulheres. Num dia, Vidigal aparece e leva Leonardo preso, mas esse consegue fugir.
A Comadre arruma um emprego para
Leonardo na ucharia real, mas ele se envolve com a esposa do patrão e acaba
despedido. Vidinha vai até a casa de Toma Largura, ex-patrão de Leonardo, para
brigar com ele e com sua esposa. Enquanto isso, Vidigal consegue prender
Leonardo. Acontece que Toma Largura ficou encantado com Vidinha e começa a
cerca-la de todas as formas. A moça, encarando a ausência de Leonardo como
consequência das últimas brigas, resolve ceder à insistência de Toma Largura.
Obrigado pela polícia, Leonardo começa a servir ao exército. Depois de um tempo, Vidigal o coloca no batalhão de granadeiros para combater os malandros do Rio. Porém, ao contrário do que ele pensava, Leonardo continua aprontando dentro do próprio batalhão de polícia. Na última delas, Vidigal planejava prender um homem que fazia imitações suas para animar festas. Mas Leonardo acaba se divertindo com as graças do imitador e o avisa das intenções de Vidigal. Quando o major descobre a traição de Leonardo, prende o moço sob juramento de algumas chibatadas.
Obrigado pela polícia, Leonardo começa a servir ao exército. Depois de um tempo, Vidigal o coloca no batalhão de granadeiros para combater os malandros do Rio. Porém, ao contrário do que ele pensava, Leonardo continua aprontando dentro do próprio batalhão de polícia. Na última delas, Vidigal planejava prender um homem que fazia imitações suas para animar festas. Mas Leonardo acaba se divertindo com as graças do imitador e o avisa das intenções de Vidigal. Quando o major descobre a traição de Leonardo, prende o moço sob juramento de algumas chibatadas.
A Comadre fica sabendo disso e vai
pedir ajuda à D. Maria e à Maria Regalada, antiga amante de Vidigal. Elas vão
até a casa do major, que as recebe com roupa civil da cintura para baixo e
farda da cintura para cima. Não conseguindo resistir aos pedidos das três
mulheres, Vidigal perdoa Leonardo e ainda promete promove-lo à sargento do
exército.
Enquanto tudo isso acontecia,
Luisinha estava casada com José Manuel, que a tratava mal e só se preocupava
com o dinheiro da moça. D. Maria resolve preparar uma ação judicial contra o
homem, mas ele acaba morrendo vítima de um ataque apopléctico (parecido com um
derrame). Após o enterro de José Manuel, preparam tudo para o casamento de
Luisinha, agora uma mulher feita e bonita, com Leonardo, bonito e muito
elegante em sua farda de sargento do exército. Algum tempo depois, D. Maria e
Leonardo Pataca também morrem e, junto com as outras heranças que já tinham,
receberam mais duas.
Lista de personagens
Lista de personagens
Leonardo: protagonista que garante
unidade à narrativa. O sargento de milícias a que se refere o título da obra é
Leonardo, embora o personagem obtenha esse cargo somente nas últimas páginas do
livro.
Leonardo Pataca: pai de Leonardo, um meirinho (oficial de Justiça) que fora vendedor de roupas em Lisboa e, durante sua viagem ao Brasil, conhece Maria das Hortaliças, o que resultará no nascimento de Leonardo.
Maria das Hortaliças: mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa) muito namoradeira, que abandona o filho para ficar com outro homem.
Leonardo Pataca: pai de Leonardo, um meirinho (oficial de Justiça) que fora vendedor de roupas em Lisboa e, durante sua viagem ao Brasil, conhece Maria das Hortaliças, o que resultará no nascimento de Leonardo.
Maria das Hortaliças: mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa) muito namoradeira, que abandona o filho para ficar com outro homem.
O Compadre ou O Padrinho: é dono de uma barbearia e toma a guarda de Leonardo após os pais abandonarem a criança. Torna-se um segundo pai para ele.
A Comadre ou A Madrinha: mulher gorda e bonachona, apresentada como ingênua, frequentadora assídua de missas e festas religiosas.
Major Vidigal: homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo enérgico e centralizado.
Dona Maria: mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha aspecto bem-cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício das demandas (disputas judiciais).
Luisinha: sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem graça, se transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga encantadora.
Vidinha: mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções de Leonardo.
Sobre Manuel Antônio de Almeida
Manuel Antônio de
Almeida nasceu em 17 de novembro de 1830 na cidade do Rio de Janeiro. Enquanto
fazia a Faculdade de Medicina começou a carreira de jornalista levado por
dificuldades financeiras. Formou-se em 1855, mas nunca chegou a exercer a
profissão de médico.
Durante 1852 e 1853 publicou anonimamente (assinava como “um
Brasileiro”) os folhetins que dariam origem ao livro Memórias de um Sargento de
Milícias (1854-55). Na terceira edição, que saiu postumamente em 1863, o nome
verdadeiro do autor passou a constar na obra. Ainda durante essa mesma época,
publicou uma peça, alguns poemas, um libreto de ópera e escreveu sua tese de
Doutorado em Medicina.
Em 1858 foi nomeado
Administrador da Tipografia Nacional, onde conheceu Machado de Assis. Em 1859 é
nomeado 2º Oficial da Secretaria da Fazenda e, no dia 28 de novembro de 1861,
acaba falecendo no naufrágio do navio Hermes.
Seu único livro é
"Memórias de um Sargento de Milícias" (1852), mas publicou também
diversos contos, crônicas, poesias e ensaios. Além disso, escreveu uma peça
teatral chamada "Dois Amores" (1961).
Memórias Póstumas de Brás Cubas – análise da obra de Machado de Assis
Ao criar um narrador que resolve contar sua
vida depois de morto, Machado de Assis muda radicalmente o panorama da
literatura brasileira, além de expor de forma irônica os privilégios da elite
da época.
- Leia o resumo de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis
- Leia o resumo de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis
Narrador
A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém.
Foco Narrativo
Com a narração em primeira pessoa, a história é
contada partindo de um relato do narrador-observador e protagonista, que conduz
o leitor tendo em vista sua visão de mundo, seus sentimentos e o que pensa da
vida. Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos permitirão ter acesso aos
bastidores da sociedade carioca do século XIX.
Tempo
A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária, com digressões e manipulando os fatos à revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por exemplo, é contada antes do nascimento e dos fatos da vida.
No tempo cronológico, os acontecimentos obedecem a uma ordem lógica: infância, adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte. A estranheza da obra começa pelo título, que sugere as memórias narradas por um defunto. O próprio narrador, no início do livro, ressalta sua condição: trata-se de um defunto-autor, e não de um autor defunto. Isso consiste em afirmar seus méritos não como os de um grande escritor que morreu, mas de um morto que é capaz de escrever.
A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária, com digressões e manipulando os fatos à revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por exemplo, é contada antes do nascimento e dos fatos da vida.
No tempo cronológico, os acontecimentos obedecem a uma ordem lógica: infância, adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte. A estranheza da obra começa pelo título, que sugere as memórias narradas por um defunto. O próprio narrador, no início do livro, ressalta sua condição: trata-se de um defunto-autor, e não de um autor defunto. Isso consiste em afirmar seus méritos não como os de um grande escritor que morreu, mas de um morto que é capaz de escrever.
O pacto de verossimilhança sofre um choque
aqui, pois os leitores da época, acostumados com a linearidade das obras
(início, meio e fim), veem-se obrigados a situar-se nessa incomum situação.
Não-realizações
Publicado em 1881, o livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador.
Não-realizações
Publicado em 1881, o livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador.
O romance não apresenta grandes feitos, não há
um acontecimento significativo que se realize por completo. A obra termina, nas
palavras do narrador, com um capítulo só de negativas. Brás Cubas não se casa;
não consegue concluir o emplasto, medicamento que imaginara criar para
conquistar a glória na sociedade; acaba se tornando deputado, mas seu
desempenho é medíocre; e não tem filhos.
A força da obra está justamente nessas não-realizações, nesses detalhes. Os leitores ficam sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer. Ao fim, o que permanece é o vazio da existência do protagonista. É preciso ficar atento para a maneira como os fatos são narrados. Tudo está mediado pela posição de classe do narrador, por sua ideologia. Assim, esse romance poderia ser conceituado como a história dos caprichos da elite brasileira do século XIX e seus desdobramentos, contexto do qual Brás Cubas é, metonimicamente, um representante.
A força da obra está justamente nessas não-realizações, nesses detalhes. Os leitores ficam sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer. Ao fim, o que permanece é o vazio da existência do protagonista. É preciso ficar atento para a maneira como os fatos são narrados. Tudo está mediado pela posição de classe do narrador, por sua ideologia. Assim, esse romance poderia ser conceituado como a história dos caprichos da elite brasileira do século XIX e seus desdobramentos, contexto do qual Brás Cubas é, metonimicamente, um representante.
O que está em jogo é se esses caprichos vão ou
não ser realizados. Alguns exemplos: a hesitação ao começar a obra pelo fim ou
pelo começo; comparar suas memórias às sagradas escrituras; desqualificar o
leitor: dar-lhe um piparote, chamá-lo de ébrio; e o próprio fato de escrever
após a morte. Se Brás Cubas teve uma vida repleta de caprichos, em virtude de
sua posição de classe, é natural que, ao escrever suas memórias, o livro se
componha desse mesmo jeito.
O mais importante não é a realização ou não
dessas veleidades, mas o direito de tê-las, que está reservado apenas a uns
poucos da sociedade da época. Veja-se o exemplo de Dona Plácida e do negro
Prudêncio. Ambos são personagens secundários e trabalham para os grandes. A
primeira nasceu para uma vida de sofrimentos: “Chamamos-te para queimar os
dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um
lado pro outro, na faina, adoecendo e sarando…”, descreve Brás. Além da vida de
trabalhos e doenças e sem nenhum sabor, Dona Plácida serve ainda de álibi para
que Brás e Virgília possam concretizar o amor adúltero numa casa alugada para
isso.
Com Prudêncio, vê-se como a estrutura social se
incorpora ao indivíduo. Ele fora escravo de Brás na infância e sofrera os
espancamentos do senhor. Um dia, Brás Cubas o encontra, depois de alforriado, e
o vê batendo num negro fugitivo. Depois de breve espanto, Brás pede para que
pare com aquilo, no que é prontamente atendido por Prudêncio. O ex-escravo
tinha passado a ser dono de escravo e, nessa condição, tratava outro ser humano
como um animal. Sua única referência de como lidar com a situação era essa,
afinal era o modo como ele próprio havia sido tratado anteriormente. Prudêncio
não hesita, porém, em atender ao pedido do ex-dono, com o qual não tinha mais
nenhum tipo de dívida nem obrigação a cumprir.
Os personagens da obra são basicamente
representantes da elite brasileira do século XIX. Há, no entanto, figuras de
menor expressão social, pertencentes à escravidão ou à classe média, que têm
significado relevante nas relações sociais entre as classes. Assim,
"Memórias Póstumas de Brás Cubas", além de seu enorme valor
literário, funciona como instrumento de entendimento desse aspecto social de
nossas classes, como se verá adiante nas caracterizações de Dona Plácida e do
negro Prudêncio.
A sociedade da época se estruturava a partir de
uma divisão nítida. Havia, de um lado, os donos de escravos, urbanos e rurais,
que constituíam a classe mandante do país. Estão representados invariavelmente
como políticos: ministros, senadores e deputados. De outro, a escravidão é a
responsável direta pelo trabalho e pelo sustento da nação e, por assim dizer,
das elites. No meio, há uma classe média formada por pequenos comerciantes,
funcionários públicos e outros servidores, que são dependentes e agregados dos
favores dos grandes privilegiados.
Comentário do professor
O prof. Roberto Juliano, do Cursinho da Poli,
ressalta que "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é uma obra que
revolucionou o romance brasileiro. De cunho realista, mas sem ter as
características da crítica agressiva de outros escritores do Realismo (como Eça
de Queirós em Portugal), a força da obra de Machado de Assis está na crítica
sutil e na grande inteligência do autor. Ao contrário do já citado escritor
português Eça de Queirós, que batia de frente com a burguesia, em Memórias Póstumas
a crítica é feita focando a burguesia por dentro, ou seja, o escritor parte de
um ponto de vista mais psicológico. Através disso, consegue-se fazer um combate
ao Romantismo em sua essência através de personagens verossímeis que cabe ao
leitor julgar e colocando-se em reflexão, por exemplo, a questão da ociosidade
burguesa.
Além disso, o prof. Roberto chama a atenção para o fato de que com esta obra Machado de Assis revolucionou o formato do romance através da subversão de padrões do Romantismo. Se no romance é de praxe escrever uma dedicatória, por exemplo, ele o faz a um verme; ao verme que o corroeu. Outro ponto que pode ser citado como exemplo é a quantidade de capítulos do livro. Se era comum ter cerca de trinta capítulos em um romance, Machado de Assis faz um livro que ultrapassa cem capítulos. Porém, alguns deles são extremamente curtos ou são vazios. O aluno deve, então, ficar atento a estes aspectos formais e em como se faz uma crítica social na obra, finaliza o prof. Roberto.
Além disso, o prof. Roberto chama a atenção para o fato de que com esta obra Machado de Assis revolucionou o formato do romance através da subversão de padrões do Romantismo. Se no romance é de praxe escrever uma dedicatória, por exemplo, ele o faz a um verme; ao verme que o corroeu. Outro ponto que pode ser citado como exemplo é a quantidade de capítulos do livro. Se era comum ter cerca de trinta capítulos em um romance, Machado de Assis faz um livro que ultrapassa cem capítulos. Porém, alguns deles são extremamente curtos ou são vazios. O aluno deve, então, ficar atento a estes aspectos formais e em como se faz uma crítica social na obra, finaliza o prof. Roberto.
O Cortiço - Resumo da obra de Aluísio de Azevedo
Tendo como cenário uma habitação
coletiva, o romance difunde as teses naturalistas, que explicam o comportamento
dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico.
- Leia a análise de O Cortiço
- Leia a análise de O Cortiço
Resumo
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Em oposição a João Romão, surge a
figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada
com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu
quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de relações entre os
dois.
Com inveja de Miranda, que possui
condição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passa por
privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a
perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão, João
Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar uma
posição social reconhecida, frequentar ambientes requintados, adquirir roupas
finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa.
No cortiço, paralelamente, estão os
moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira
Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a má
influência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem uma
vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma
transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos.
A relação entre Miranda e João Romão
melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter
superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival,
João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares
aristocráticos.
O cortiço todo também muda, perdendo
o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João Romão.
O dono do cortiço aproxima-se da
família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no
entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as manobras de
Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado.
Para se ver livre da amante, que
atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos como
escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada, Bertoleza
comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão.
Lista de personagens
Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de tipos sociais. Os principais são:
João Romão: taverneiro português, dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador.
Bertoleza: quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina.
Miranda: comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num sobrado aburguesado, ao lado do cortiço.
Jerônimo: português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho.
Rita Baiana: mulata sensual e provocante que promove os pagodes no cortiço. Representa a mulher brasileira.
Piedade: portuguesa que é casada com Jerônimo. Representa a mulher europeia.
Capoeira Firmo: mulato e companheiro que se envolve com Rita Baiana.
Arraia-Miúda: representada por lavadeiras,
caixeiros, trabalhadores da pedreira e pelo policial Alexandre.
Sobre Aluísio de Azevedo
Sobre Aluísio de Azevedo
Aluísio de Azevedo nasceu em São
Luís, Maranhão, em 14 de abril de 1857. Após concluir seus estudos na terra
natal, transfere-se em 1876 para o Rio de Janeiro, onde prossegue seus estudos
na Academia Imperial de Belas-Artes. Começa, então, a trabalhar como
caricaturista para jornais.
Com o falecimento do pai em 1879, Aluísio de Azevedo retorna ao Maranhão para ajudar a sustentar a família, época em que dá início à carreira literária movido por dificuldades financeiras. Assim, publica em 1880 seu primeiro livro, Uma lágrima de mulher. Com a questão abolicionista ganhando cada vez mais espaço no final do século XIX, publica em 1881 o romance "O mulato", obra que inaugurou o Naturalismo no Brasil e que escandalizou a sociedade pelo modo cru com que trata a questão racial. Devido ao sucesso que a obra obteve na corte, Aluízio volta à capital imperial e passa a exercer o ofício de escritor, publicando diversos romances, contos e peças de teatro.
Com o falecimento do pai em 1879, Aluísio de Azevedo retorna ao Maranhão para ajudar a sustentar a família, época em que dá início à carreira literária movido por dificuldades financeiras. Assim, publica em 1880 seu primeiro livro, Uma lágrima de mulher. Com a questão abolicionista ganhando cada vez mais espaço no final do século XIX, publica em 1881 o romance "O mulato", obra que inaugurou o Naturalismo no Brasil e que escandalizou a sociedade pelo modo cru com que trata a questão racial. Devido ao sucesso que a obra obteve na corte, Aluízio volta à capital imperial e passa a exercer o ofício de escritor, publicando diversos romances, contos e peças de teatro.
Em 1910 instala-se em Buenos Aires
trabalhando como cônsul e vem a falecer três anos depois nessa mesma cidade em
21 de janeiro de 1913.
Suas principais obras são: "O
mulato" (1881), "Casa de pensão" (1884) e "O cortiço"
(1890).
Sagarana - Resumo da obra de Guimarães Rosa
Primeira obra de Guimarães Rosa a
sair em livro, traz nove contos, nos quais o universo do sertão, com seus
vaqueiros e jagunços, surge no estilo marcante que o escritor iria aprofundar
em textos posteriores.
- Leia a análise de Sagarana
- Leia a análise de Sagarana
Elementos estruturais e resumos
Os narradores de "Sagarana"
têm o estilo marcante criado por Guimarães Rosa, cuja principal característica
é a oralidade. No entanto, esse traço ainda não está tão acentuado como em
obras posteriores, como "Grande Sertão: Veredas" e "Primeiras
Estórias", entre outras. Considerando que a oralidade acentuada é um dos
principais obstáculos para a leitura de Guimarães Rosa, o livro
"Sagarana" é uma excelente opção para iniciar-se na obra do autor.
Em relação ao foco narrativo, com
exceção dos contos “Minha Gente” e “São Marcos” – que são narrados em primeira
pessoa –, os demais possuem narradores em terceira pessoa. Quanto ao tempo e ao
espaço de "Sagarana", pouco há o que ser dito. Sobre o primeiro
elemento, vale destacar a linearidade da narrativa, que se desenvolve na maior
parte sob o tempo psicológico dos personagens.
O espaço é quase sempre Minas Gerais.
Mais especificamente, o interior do estado. Vale uma atenção maior para o nome
dos povoados e vilarejos dos contos. Os estados de Goiás e do Rio de Janeiro
são mencionados no livro, mas têm pouca relevância na narrativa.
“O burrinho pedrês”
Enredo: Sete-de-Ouros é um burrinho
decrépito que já fora bom e útil para seus vários donos. Esquecido na fazenda
do Major Saulo, tem o azar de ser avistado numa travessia pelo dono da fazenda,
que o escala para ajudar no transporte do gado. Na travessia do Córrego da
Fome, todos os cavalos e vaqueiros morrem, exceto dois: Francolim e Badu; este
montado e aquele agarrado ao rabo do Burrinho Sete-de-Ouros.
Principais personagens: Sete-de- Ouros (burrinho pedrês), Major Saulo, Francolim e Badu.
Principais personagens: Sete-de- Ouros (burrinho pedrês), Major Saulo, Francolim e Badu.
“A volta do marido pródigo”
Enredo: Lalino é um típico malandro que não
aprecia o trabalho, apenas a boa vida. Abandona o serviço na estrada de ferro e
vai para o Rio de Janeiro, largando sua mulher, Maria Rita, a Ritinha, na
região. No retorno, a encontra casada com o espanhol Ramiro. Torna-se cabo
eleitoral do Major Anacleto, que, graças a ele, ganha a eleição. Laio, como
também é conhecido, reconcilia-se com Maria Rita no fim do conto.
Principais personagens: Lalino Salathiel, Maria Rita, Ramiro
e Major Anacleto.
“Sarapalha”
Enredo: a história de dois primos, Ribeiro e Argemiro, contagiados pela malária que se espalhou no vau de Sarapalha. Os dois estão solitários na região, já que parte da população morrera e os demais fugiram, entre os quais a mulher de Ribeiro, Luísa. Argemiro, percebendo a iminência da morte e desejando ter a consciência tranquila, confessa o interesse pela esposa do primo. Ribeiro reage à confissão de forma agressiva e expulsa Argemiro de suas terras, sem nenhuma complacência.
“Sarapalha”
Enredo: a história de dois primos, Ribeiro e Argemiro, contagiados pela malária que se espalhou no vau de Sarapalha. Os dois estão solitários na região, já que parte da população morrera e os demais fugiram, entre os quais a mulher de Ribeiro, Luísa. Argemiro, percebendo a iminência da morte e desejando ter a consciência tranquila, confessa o interesse pela esposa do primo. Ribeiro reage à confissão de forma agressiva e expulsa Argemiro de suas terras, sem nenhuma complacência.
Principais personagens: Primo Ribeiro e Primo Argemiro.
“Duelo”
Enredo: Turíbio flagra sua mulher, Silvana, com o ex-militar Cassiano Gomes. Ao procurar vingar sua honra, confunde-se e acaba matando o irmão de Cassiano Gomes. Turíbio foge para o sertão e é perseguido pelo ex-militar. Nessa disputa, os dois alternam os papéis de caça e de caçador. Cassiano adoece e, antes de morrer, ajuda um capiau chamado Vinte-e-um, que passava por dificuldades financeiras. Turíbio volta para casa e é surpreendido por Vinte-e-um, que o executa para vingar seu benfeitor.
Principais personagens: Turíbio Todo, Cassiano Gomes, Silvana e Vinte-e-um.
“Minha gente”
Enredo: Emílio visita a fazenda de seu tio,
candidato às eleições, e apaixona-se por sua prima Maria Irma, mas não é
correspondido. Ela se interessa por Ramiro, noivo de outra moça. Emílio
finge-se enamorado de outra mulher. O plano falha, mas a prima apresenta-lhe
sua futura esposa, Armanda. Maria Irma casa-se com Ramiro Gouveia.
Principais personagens: Emílio (narrador), Maria Irma,
Ramiro Gouveia e Armanda.
“São Marcos”
“São Marcos”
Enredo: José, narrador-personagem, é
supersticioso, mas mesmo assim zomba dos feiticeiros do Calango-Frito, em
especial de João Mangolô. Izé, como é conhecido o protagonista, recita por
zombaria a oração de São Marcos para Aurísio Manquitola e é duramente
repreendido por banalizar uma prece tão poderosa.
Certo dia, caminhando no mato, Izé
fica subitamente cego e passa a se orientar por cheiros e ruídos. Perdido e
desesperado, recita a oração de São Marcos. Guiando-se pela audição e pelo
olfato, descobre o caminho certo: a cafua de João Mangolô. Lá, irado, tenta
estrangular o feiticeiro e, ao retomar a visão, percebe que o negro havia
colocado uma venda nos olhos de um retrato seu para vingar-se das constantes
zombarias.
Principais personagens: José, ou Izé (narrador), Aurísio
Manquitola e João Mangolô.
“Corpo fechado”
“Corpo fechado”
Enredo: Manuel Fulô, falastrão que se faz de
valente, é dono de uma mula cobiçada pelo feiticeiro Antonico das Pedras-Águas.
Este, por sua vez, tem uma sela cobiçada por Manuel. Enquanto o protagonista se
gaba de pretensas valentias, o verdadeiro valentão Targino aparece e anuncia
que dormirá com sua noiva. Desesperado, Manuel recebe a visita do feiticeiro,
que promete fechar-lhe o corpo em troca da mula. Após o trato, há o duelo entre
os dois personagens; o feitiço parece funcionar e Manuel vence a porfia.
Principais personagens: Manuel Fulô, feiticeiro
Antonico das PedrasÁguas e Targino.
“Conversa de bois”
“Conversa de bois”
Enredo: conta a viagem de um carro de
bois que leva uma carga de rapadura e um defunto. Vai à frente Tiãozinho, o
guia, chorando a morte do pai, ali transportado, e Didico. Tiãozinho, que se
tornara dependente de Soronho, angustiava- se com este por dois motivos: ele
maltratava os bois e havia desfrutado os amores de sua mãe durante a doença do
pai.
Paralelamente, o boi Brilhante conta
aos outros a história do boi Rodapião, que morrera por ter aprendido a pensar
como os homens. Há uma indignação entre os animais em relação aos maus-tratos
que os humanos lhes infligem. Agenor, para exibir a Tiãozinho seus talentos
como carreiro, obriga, de forma cruel, os bois a superar a ladeira onde a
carroça de João Bala havia tombado. Superado o obstáculo, os bois aproveitam-se
do cochilo de Agenor e puxam bruscamente a carroça, matando seu algoz.
Principais personagens: Tiãozinho, Didico, Agenor, Soronho e o boi Brilhante.
Principais personagens: Tiãozinho, Didico, Agenor, Soronho e o boi Brilhante.
“A hora e a vez de Augusto Matraga”
Enredo: Augusto Estêves manda e desmanda no
pequeno povoado em que vive. Pródigo, com a morte do pai perde todos os seus
bens. Certo dia, Quim Recadeiro dá-lhe dois recados que alterarão sua vida:
perdera os capangas para seu inimigo, o Major Consilva, e a mulher e a filha,
que fugiram com Ovídio Moura.
Augusto Estêves vai sozinho à
propriedade do major para tomar satisfação com seus ex-capangas. O Major
Consilva ordena que Nhô Augusto seja marcado a ferro e depois morto. Ele é
espancado à exaustão; depois os homens esquentam o ferro usado para marcar o gado
do major e queimam o seu glúteo. Augusto, desesperado, salta de um
despenhadeiro.
Quase morto, o protagonista é
encontrado por um casal de pretos, que cuida dele e chama um padre para seu
alívio espiritual. Nhô Augusto decide que sua vida de facínora chegara ao fim.
Recuperado, foge com os pretos para a única propriedade que lhe restara, no
Tombador. Trabalha de sol a sol para os habitantes e para o casal que o
salvara, em retribuição a tudo que fizeram por ele. Leva uma vida de privações
e árduo trabalho, com a finalidade de purgar seus pecados e, assim, ir para o
céu.
Um dia, aparece na cidade o bando de Joãozinho Bem-Bem, o mais temido jagunço do sertão. Nhô Augusto e o famigerado jagunço tornam-se amigos à primeira vista e, depois da breve estada, despedem-se com pesar. Com o tempo, Nhô Augusto resolve sair do Tombador, pressentindo a chegada da “sua hora e vez”. Encontra-se por acaso com Joãozinho Bem-Bem, que está prestes a executar uma família, como forma de vingança. Nhô Augusto pede a Joãozinho Bem-Bem que não cumpra a execução. O jagunço encara essa atitude de Nhô Augusto como uma afronta e os dois travam o duelo final, no qual ambos morrem.
Um dia, aparece na cidade o bando de Joãozinho Bem-Bem, o mais temido jagunço do sertão. Nhô Augusto e o famigerado jagunço tornam-se amigos à primeira vista e, depois da breve estada, despedem-se com pesar. Com o tempo, Nhô Augusto resolve sair do Tombador, pressentindo a chegada da “sua hora e vez”. Encontra-se por acaso com Joãozinho Bem-Bem, que está prestes a executar uma família, como forma de vingança. Nhô Augusto pede a Joãozinho Bem-Bem que não cumpra a execução. O jagunço encara essa atitude de Nhô Augusto como uma afronta e os dois travam o duelo final, no qual ambos morrem.
Sobre Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de
junho de 1908 na cidade de Cordisburgo, Minas Gerais. Autodidata, começou ainda
criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês, quando nem
completara 7 anos. Em 1925 matriculou-se na Faculdade de Medicina da
Universidade de Minas Gerais, formando-se em 1930. No mesmo ano, casou-se com
Lígia Cabral Penna, com quem teve duas filhas.
Passou a exercer a profissão de
médico no interior de Minas Gerais, onde teve um primeiro encontro com os
elementos e a realidade do sertão. Durante a Revolução Constitucionalista de
1932 atuou como médico voluntário. Mais tarde foi aprovado no concurso e
ingressou na Força Pública. Em 1934 foi aprovado em um concurso para o
Itamaraty e exerceu diversas funções diplomáticas no exterior, tais como a de
cônsul em Hamburgo, na Alemanha – onde conheceu Aracy Moebius de Carvalho
(Ara), sua segunda mulher. De volta ao Brasil, em 1951, assumiu outros cargos
no Itamaraty, sendo promovido em 1958 a ministro de primeira classe, cargo
correspondente a embaixador.
Ao lado de sua atividade
profissional, como médico ou como diplomata, Guimarães Rosa nunca deixou de
escrever. Tinha também paixão por aprender outros idiomas. Seus conhecimentos
nesse campo impressionavam pela amplitude: falava fluentemente alemão, francês,
inglês, espanhol, italiano e esperanto, além de um pouco de russo. Lia em
sueco, holandês, latim e grego. Havia estudado também a gramática das seguintes
línguas: húngaro, árabe, sânscrito, lituano, polonês, tupi, hebraico, japonês,
tcheco, finlandês e dinamarquês.
A estreia literária de Guimarães Rosa
se deu em 1929, quando a revista “O Cruzeiro” publicou alguns contos seus,
vencedores de um concurso literário da edição. Seu primeiro livro, a coletânea
de contos Sagarana, foi publicado em 1946 e chamou muita atenção pelas
inovações técnicas e riqueza de simbologias.
O escritor fez, em maio de 1952, um
percurso de 240 quilômetros no sertão mineiro, durante dez dias, conduzindo uma
boiada. Na viagem, anotou expressões, casos, histórias, procurando apreender de
forma mais profunda aquele universo com o qual tinha contato desde a infância.
Seu intuito era recriar literariamente o sertão, dando voz a seus personagens.
Dessa viagem resultou seu único romance, "Grande Sertão: Veredas",
publicado em 1956 e tido como um dos mais importantes textos da literatura
brasileira de todos os tempos.
Em 1961, Guimarães Rosa recebeu da
Academia Brasileira de Letras o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua
obra. Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, pela segunda vez, em 1963
e foi eleito por unanimidade. Mas não foi empossado imediatamente, porque adiou
a cerimônia enquanto pôde. Dizia ter medo de morrer no dia do evento. Só tomou
posse em 16 de novembro de 1967. Três dias depois, em 19 de novembro, morreu
subitamente em seu apartamento no Rio de Janeiro, de infarto.
Suas principais obras são:
"Sagarana" (1946), "Grande Sertão: Veredas" (1956),
"Corpo de Baile" (1956; atualmente é publicada em três volumes:
"Manuelzão e Miguilim", "No Urubuquaquá, no Pinhém" e
"Noites do Sertão") e "Primeiras Estórias" (1962)
Sentimento do
mundo - Resumo da obra de Carlos
Drummond de Andrade
Publicado pela primeira vez em 1940, "Sentimento do
mundo" é a terceira obra de Drummond e reúne 28 poemas. Neste livro, o
poeta abraça de vez a poesia de cunho social, refletindo o momento de
instabilidade e inquietação dos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial.
Porém, a temática do eu (a terra natal, o indivíduo, a família etc.), muito
presente nos seus livros anteriores, ainda aparece com destaque em Sentimento
do Mundo.
Os poemas deste livro foram escritos entre 1935 e 1940, época em
que o mundo tentava se recuperar da Primeira Guerra Mundial e enfrentava a
ascensão de regimes totalitários: a Alemanha de Hitler, Franco na Espanha,
Mussolini na Itália e o Estado Novo de Getúlio Vargas no Brasil. E, dentro
deste contexto histórico-social, o poeta individualista de Alguma Poesia e
Brejo das Almas revê seu fazer poético e toma consciência do mundo, voltando-se
para a experiência coletiva.
Porém, mesmo o poeta estando mais preocupado em escrever poesia
social, a temática do eu continua ocupando lugar de destaque em Sentimento do
Mundo, mas dessa vez com uma pitada de ironia e com um sentido mais universal.
Assim, o eu não aparece mais como um indivíduo isolado, mas sim como alguém
presente e conectado ao mundo. Aqui, o eu volta-se para assuntos mais
universais e este seria o sentimento novo da poesia drummondiana a partir de
então.
Na vanguarda do movimento modernista (que já demonstrava sinais
de esgotamento em 1940), Drummond renova sua temática existencial, buscando
novos caminhos para temas como o amor, a morte e o tempo. Ainda bebendo da
fonte modernista, os poemas de Sentimento do Mundo não possuem rima e seus
versos têm as mais diversificadas métricas, tendo até um poema em prosa
("O Operário no Mar").
Apesar de em "Sentimento do Mundo" Drummond ter tomado
consciência do indivíduo num mundo que precisa ser salvo, ele reconhece também
o fatal distanciamento entre os homens. Através da utilização constante do
vocativo, como se chamasse o povo para uma união coletiva, dá-se vazão à ânsia
do eu-poético de reunir os homens.
Essa vontade de união entre os homens contrasta com a pessimista
e sombria visão de mundo do autor. Embora o eu-lírico seja completamente
descrente do presente e não acredita em dias melhores, no fundo há uma utópica
esperança permeando todos os poemas do livro. Através do uso constante do
vocativo e da terceira pessoa do plural, pode-se concluir que esta esperança de
dias melhores nasce do ser coletivo, do "nós". Somente com a união
entre os homens é que se pode escapar desse presente sombrio e tenebroso.
O espaço interior aparece como símbolo de proteção, sendo
intimamente associada a um privilégio de classe. Como exemplo, temos os
moradores do "terraço mediocramente confortável" de "Privilégio
do Mar", a princesa que mora numa "casa feita de cadáveres" (ou
seja, em ruínas) em "Madrigal Lúgubre" e até mesmo o eu-lírico de
"Mundo Grande". Nesses momentos é que a posição de nosso eu lírico
torna-se crítica, pois será exatamente essa atitude alienada do burguês, que
busca refúgio em um espaço fechado, que Drummond denunciará nesses e em outros
poemas de Sentimento do Mundo.
Sobre Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro,
Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. Por insistência da família, formou-se
em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Junto com outros escritores
mineiros, fundou “A Revista”, importante publicação modernista mineira. Após
ingressar no serviço público, mudou-se em 1934 para o Rio de Janeiro, onde
viveu até morrer em 17 de agosto de 1987.
A partir dos anos de 1950, passou a dedicar-se cada vez mais à
produção literária. Apesar de sua maior obra ser poética, publicou também
contos, crônicas, literatura infantil e traduções. Portador de uma ironia ímpar
e um amargor característico, Drummond produziu uma obra que problematiza
questões sociais, existencialistas, amorosas e da própria poesia. Suas poesias
de cunho social fortemente marcada por uma influência de esquerda são
consideradas sua obra-prima.
Entre suas principais obras poéticas estão os livros
"Alguma Poesia" (1930), "Sentimento do Mundo" (1940),
"A Rosa do Povo" (1945), "Claro Enigma" (1951),
"Poemas" (1959), "Lição de Coisas" (1962), "Boitempo"
(1968), "Corpo" (1984), além do póstumo "Farewell" (1996).
Til - resumo da
obra de José de Alencar
Publicado inicialmente em 1872, José
de Alencar documenta neste romance de sua fase regionalista (junto a O Gaúcho,
O Sertanejo e Tronco do Ipê) o cotidiano numa fazenda do interior paulista do século
XIX. Berta, também conhecida pelo apelido Til, é a típica heroína romântica de
alma bondosa que se sacrifica em prol de todos.
Resumo
Besita, moça pobre, porém das mais belas da região, é objeto de desejo tanto de Luis Galvão, jovem fazendeiro, quanto de Jão, um órfão que foi criado junto com Luis Galvão. A moça corresponde ao amor do rico fazendeiro, mas este não tem interesse em desposar Besita, pois ela é pobre.
Influenciada por seu pai, Besita
acaba casando-se com Ribeiro. Esse, logo após a noite de núpcias, parte em
viagem para resolver problemas relacionados a uma herança de família e fica
anos afastado. Durante o período em que Ribeiro não se encontra pela região,
Luis procura Besita, que o recebe achando tratar-se de seu marido. Desse
encontro nasce Berta.
Uma tarde, Ribeiro retorna e, ao encontrar
sua esposa com uma filha, descontrola-se e assassina Besita. Jão não consegue
evitar a morte dela, mas consegue salvar Berta, que passa a viver com nhá
Tudinha e seu filho Miguel. Zana, uma negra que vivia com Besita, enlouquece
após presenciar o assassinato desta. Jão torna-se capanga dos ricos da região,
cometendo várias mortes e tornando-se o temido o Jão Fera.
Quinze anos depois de assassinar sua
esposa, Ribeiro retorna irreconhecível e com o nome de Barroso. Com o propósito
de vingar-se de Luis Galvão, ele contrata Jão Fera, que não o reconhece. Porém,
Berta descobre os intentos de Ribeiro e consegue salvar Luis.
Em uma segunda tentativa, dessa vez
com a ajuda de alguns escravos da Fazenda das Palmas, Ribeiro incendeia o
canavial. Ao tentar apagar o fogo sozinho, Luis leva uma pancada na cabeça.
Quando está para ser lançado ao canavial em chamas, Luis é salvo por Jão, que
mata os responsáveis pelo incêndio, com exceção de Ribeiro.
Após isso, Jão Fera é preso em
Campinas. Sabendo da ausência desse, Ribeiro planeja uma outra vingança, dessa
vez contra Berta. Aproxima-se dela, que está com Zana, mas nesse momento chega
Jão (que tinha se libertado) e mata Ribeiro de forma violenta. Brás, sobrinho
de Luis com problemas mentais, leva Berta para ver a cena. Ela foge horrorizada
e João, sabendo que a moça o desprezava a partir de então, entrega-se a
polícia.
Convém neste ponto relatar a relação
entre Brás e Berta. O jovem Brás possui problemas mentais e é completamente
excluído em sua família. Apesar de Brás ser apaixonado por Berta, ela não pode
corresponder aos sentimentos do rapaz, resolvendo então ensinar o abecedário e
rezas a ele. Porém, o menino tem grandes dificuldades em aprender, tendo apenas
decorado o acento "til", que o encantava. Para facilitar o
aprendizado, Berta se autonomeia Til e passa a ensinar Brás relacionando cada
coisa com nomes de pessoas que ele conhecia.
Em certo momento, Luis decide contar
toda a verdade para sua esposa, D. Ermelinda. Em um primeiro momento ela se
entristece, mas depois passa a apoiar o marido e decide que ele deve reconhecer
Berta como filha. Dessa forma, os dois a procuram e contam tudo, omitindo as
partes desagradáveis.
Jão foge mais uma vez da prisão e vai
procurar Berta. Desconfiada que Luis Galvão e sua esposa escondem algo, ela
implora a Jão que conte toda a verdade sobre a história de sua mãe Besita, o
que Jão faz. Berta se emociona com a história e abraça Jão, dizendo que ele
sempre cuidou dela, sendo, então, seu pai.
Luis quer que Berta vá morar com ele,
mas ela nega e pede que ele leve Miguel. Todos partem e Berta fica na fazenda
com Jão Fera e Brás.
Lista de Personagens
As personagens de Til são arquétipos
da sociedade brasileira do século XIX: os escravos, os aristocratas, o povo
pobre. A sociedade da época estava estruturada basicamente em duas camadas
sociais: de um lado os aristocratas, grandes latifundiários e escravocratas, e
de outro lado estavam os escravos e a gente humilde do campo. Tanto na região
rural, onde se passa o romance, quanto nas grandes cidades quase não há classe
média.
Berta, Inhá ou Til: personagem central do livro, Berta, filha bastarda do fazendeiro Luis Galvão com Besita, é a representação típica da heroína romântica. Após a morte de sua mãe, passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Muito bonita e graciosa, atrai o carinho e o amor de todos, tendo contato inclusive com as pessoas mais desprezadas da região. Berta é personagem central e exerce grande influência sobre todas as outras personagens do livro.
Miguel: filho de nhá Tudinha, mostra-se apaixonado por sua irmã de criação, Berta (ou Inhá, como ele a chama). Por ser pobre, Miguel busca estudar para ascender socialmente e poder se casar com Linda.
Luis Galvão: dono da Fazenda das Palmas. Homem de muitas aventuras amorosas desde a juventude, é sempre protegido por seu "capanga" João Fera.
Linda: é filha de Luis Galvão e D. Ermelinda. Educada aos moldes da corte, mas amiga de Berta e Miguel, jovens de camada social inferior.
Afonso: irmão de Linda. Possui o mesmo espírito conquistador de seu pai e acaba se apaixonando por Berta, sem saber que esta é sua irmã de sangue.
Jão Fera ou Bugre: capanga dos ricos da região, é um homem temido. Sem conseguir salvar Besita, por quem era apaixonado, passa a proteger Berta após a morte de sua mãe.
Brás: sobrinho de Luis Galvão que sofria de ataques epiléticos e era débil mental. Era apaixonado por Berta (ele a chama de Til), que lhe ensinava o abecedário e rezas.
Zana: negra que trabalhava para Besita e que enlouquecera após presenciar o assassinato de Besita.
Ribeiro ou Barroso: marido de Besita. Logo após a noite de núpcias, parte para longe e fica anos afastado. Ao voltar e encontrar a esposa com uma filha, planeja vingança e assassina Besita. Promete vingar-se de Luis Galvão e Berta.
D. Ermelinda: elegante esposa de Luis Galvão.
Sobre José de Alencar
José de Alencar nasceu em Fortaleza,
Ceará, em 1º de maio de 1829. Formado em Direito pela Faculdade de Direito de
São Paulo, teve intensa carreira política como deputado, ministro e outros
cargos. Em 1856 publicou seu primeiro romance, Cinco Minutos, seguido por A
Viuvinha (1857). Porém, foi apenas com O Guarani (1857), que José de Alencar
torna-se um escritor reconhecido pelo público e pela crítica. Vitimado pela
tuberculose, faleceu no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 1877.
Sua obra, tida como uma das maiores
representações do Romantismo brasileiro, é dividida em quatro fases. A
primeira, a dos romances indianistas, tem suas maiores obras: Iracema (1865),
Ubirajara (1874) e O Guarani. A segunda fase, a dos romances históricos, temos
Minas de Prata (vol. 1: 1865; vol. 2: 1866) e Guerra dos Mascates (vol. 1:
1871; vol. 2: 1873). A terceira fase é a dos romances regionalistas e tem como
representantes as obras O Gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871) e Til (1871).
Por fim, a última fase é a dos romances urbanos, onde temos Lucíola (1862),
Diva (1864) e A pata da Gazela (1870).
Viagens na minha terra - Resumo da obra de Almeida
Garret
A obra foi publicada originalmente em
folhetins na Revista Universal Lisbonense entre 1845 e 1846, sendo editada em
livro apenas em 1846. Tida como obra única no Romantismo português por sua estrutura
e linguagem inovadoras, Viagens na minha terra é um marco para a moderna prosa
portuguesa e um importante documento de referência para entender a decadência
do império português.
Resumo
A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No primeiro, o narrador conta suas impressões de viagens, intercalando citações literárias, filosóficas e históricas das mais diversas, com um tom fortemente subjetivo e repleto de digressões e intertextualidades. Dentre as referências literárias, podemos levantar citações a Willian Shakespeare, Luís de Camões, Miguel de Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e filosóficas, temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros.
Já
o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de viagem, conta o drama
amoroso que envolve cinco personagens. Essa narrativa amorosa tem como pano de
fundo as lutas entre liberais e miguelistas (1830 a 1834).
O livro começa com o narrador
contando sobre a sua vontade de partir em uma viagem de Lisboa à Santarém.
Chegando a seu destino, o narrador começa a tecer comentários através da
observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se início à história de amor entre
Joaninha e Carlos.
No romance, Joaninha é uma moça que
mora apenas com sua avó, D. Francisca. Semanalmente, elas recebem a visita de
Frei Dinis, que traz notícias do filho de D. Francisca, Carlos. Ele está
ausente da cidade já há alguns anos e faz parte do grupo de D. Pedro. Frei
Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre Carlos.
Frei Dinis foi um nobre cheio de
posses, mas resolveu abandonar tudo e sumir e volta para Santarém dois anos
depois, como frei. O narrador critica essa mudança, por para ele qualquer um
poderia facilmente ser ordenado frei de uma hora para outra.
Quando a guerra civil atinge
Santarém, Carlos, que havia ido para a Inglaterra após desentender-se com Frei
Dinis, resolve voltar à cidade. É quando ele reencontra sua prima Joaninha.
Eles trocam um beijo apaixonado como se fossem namorados. Porém, Carlos tem uma
esposa na Inglaterra, chamada Georgina, se vê atormentado pela dúvida de contar
ou não a verdade para sua prima.
Ferido durante a guerra, Carlos fica
hospedado próximo à casa de Joaninha. Após se recuperar, ele pede para que D.
Francisca revele o segredo que ela esconde. Então, ela acaba contando que Frei
Dinis é o pai de Carlos e que sua verdadeira mãe já morreu.
Ao saber da verdade, Carlos parte e
volta a viver com a esposa. Porém, Georgina diz ter ouvido de Frei Dinis toda a
história de amor entre Carlos e Joaninha e declara não mais amar o marido.
Carlos pede perdão à esposa e diz não mais amar Joaninha, porém, Georgina não o
aceita de volta.
Na parte final sabemos através de
Frei Dinis o destino das personagens: Carlos larga as paixões e começa sua
carreira na política como barão, mas depois de um tempo desaparece. Joaninha,
sem seu grande amor, e D. Francisca morrem. Georgina vai para Lisboa. “Santarém
também morre; e morre Portugal”, termina por relatar Frei Dinis.
Durante os relatos da viagem, o
autor-narrador faz uma série de digressões filosóficas, reflexões sobre fatos
históricos e crítica literária sobre diversos autores, tanto clássicos quanto
modernos, e suas obras.
Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles: “Eu não sou romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser - ao menos, o que na algaravia de hoje se entende por essa palavra”. Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao Romantismo então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado” por escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil para agradar ao público, com interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o verdadeiro movimento modernista.
Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles: “Eu não sou romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser - ao menos, o que na algaravia de hoje se entende por essa palavra”. Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao Romantismo então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado” por escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil para agradar ao público, com interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o verdadeiro movimento modernista.
Personagens
As personagens de "Viagens na Minha Terra" funcionam como uma visão simbólica de Portugal, buscando-se através disso as causas da decadência do Império Português. O final do drama, que culmina na morte de Joaninha e na fuga de Carlos para tornar-se barão, representa a própria crise de valores em que o apego à materialidade e ao imediatismo acaba por fechar um ciclo de mutações de caráter duvidoso e instável.
As personagens de "Viagens na Minha Terra" funcionam como uma visão simbólica de Portugal, buscando-se através disso as causas da decadência do Império Português. O final do drama, que culmina na morte de Joaninha e na fuga de Carlos para tornar-se barão, representa a própria crise de valores em que o apego à materialidade e ao imediatismo acaba por fechar um ciclo de mutações de caráter duvidoso e instável.
Temos, então, as seguintes
personagens e suas possíveis interpretações simbólicas dentro da obra:
Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre suas relações amorosas, podendo ser ligado às características biográficas do próprio Almeida Garrett.
Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre suas relações amorosas, podendo ser ligado às características biográficas do próprio Almeida Garrett.
Georgina: namorada inglesa de Carlos, é a
estrangeira de visão ingênua, que escolhe a reclusão religiosa como
justificativa para não participar dos dilemas e conflitos históricos que
motivaram sua decepção amorosa.
Joaninha: prima e amada de Carlos. Meiga e
singela, é a típica heroína campestre do Romantismo. Simboliza uma visão
ingênua de Portugal, que não se sustenta diante da realidade histórica.
D. Francisca: velha cega avó de Joaninha.
Mostra-nos a imprudência e a falta de planejamento com que Portugal se colocava
no governo dos liberalistas, levando a nação à decadência.
Frei Dinis: é a própria tradição calcada
num passado histórico glorioso, que no entanto, não é mais capaz de
justificar-se sem uma revisão de valores e de perspectivas.
Sobre Almeida Garrett
Almeida Garrett nasceu na cidade do
Porto, Portugal, em 1799, com o nome de batismo de João Leitão da Silva.
Durante sua época de estudante de Direito, em Coimbra, passou a adotar o nome
que o tornaria célebre: Almeida Garrett. Participou da revolução liberal e
ficou exilado na Inglaterra em 1823. Durante esse tempo, casou-se e teve
contato com o movimento romântico inglês. Em 1824 mudou-se para França e
escreveu Camões e Dona Branca, obras que inauguraram o romantismo português.
Ávido defensor do liberalismo, Almeida enfrenta outros diversos exílios ao
longo dos anos.
Após retornar definitivamente a
Portugal, passa a incentivar a literatura e o teatro, escrevendo inúmeros
livros e peças teatrais. É dele, por exemplo, a iniciativa de criar o
Conservatório de Arte Dramática e o Teatro Normal (atualmente Teatro Nacional
D. Maria II, em Lisboa). Faleceu em Lisboa no dia 9 de dezembro de 1854.
Suas principais obras são:
"Camões" (1825), "Dona Branca" (1826),
"Romanceiro" (1843), "Cancioneiro Geral" (1843), "Frei
Luis de Sousa" (1844), "D’o Arco de Santana" (1845) e
"Viagens na minha terra" (1846).
Vidas secas - Análise da obra de Graciliano Ramos
"Vidas Secas", romance
publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de retirantes
sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos
castigadas pela seca. A obra pertence à segunda fase modernista, conhecida como
regionalista, e é qualificada como uma das mais bem-sucedidas criações da
época.
O estilo seco de Graciliano Ramos,
que se expressa principalmente por meio do uso econômico dos adjetivos, parece
transmitir a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão.
- Leia o resumo de Vidas Secas
- Leia o resumo de Vidas Secas
A estética da seca
"Vidas Secas" é um dos
maiores expoentes da segunda fase modernista, a do regionalismo. O diferencial
desse livro para os demais da época é o apuro técnico do autor. Graciliano
Ramos, ao explorar a temática regionalista, utiliza vários expedientes formais
– discurso indireto livre, narrativa não-linear, nomes dos personagens – que
confirmam literariamente a denúncia das mazelas sociais.
O livro consegue desde o título
mostrar a desumanização que a seca promove nos personagens, cuja expressão
verbal é tão estéril quanto o solo castigado da região. A miséria causada pela
seca, como elemento natural, soma-se à miséria imposta pela influência social,
representada pela exploração dos ricos proprietários da região.
Os retirantes, como o próprio nome
indica, estão alijados da possibilidade de continuar a viver no espaço que
ocupavam. São, portanto, obrigados a retirar-se para outros lugares. Uma das
implicações dessa vida nômade dos sertanejos é a fragmentação temporal e
espacial.
Graciliano Ramos conseguiu captar
essa fragmentação na estrutura de Vidas Secas ao utilizar um método de
composição que rompia com a linearidade temporal, costumeira nos romances do
século XIX.
A proposital falta de linearidade, ou
seja, de capítulos que se ligam temporalmente, por relações de causa e de
consequência, dá aos 13 capítulos de Vidas Secas uma autonomia que permite, até
mesmo, a leitura de cada um de forma independente.
Narrador
A escolha do foco narrativo em terceira pessoa é emblemática, uma vez que esse é o único livro em que Graciliano Ramos utilizou tal recurso. Trata-se, na verdade, de uma necessidade da narrativa, para que fosse mantida a verossimilhança da obra. Por causa da paupérrima articulação verbal dos personagens, reflexo das adversidades naturais e sociais que os afligem, nenhum parece capacitado a assumir o posto de narrador.
A escolha do foco narrativo em terceira pessoa é emblemática, uma vez que esse é o único livro em que Graciliano Ramos utilizou tal recurso. Trata-se, na verdade, de uma necessidade da narrativa, para que fosse mantida a verossimilhança da obra. Por causa da paupérrima articulação verbal dos personagens, reflexo das adversidades naturais e sociais que os afligem, nenhum parece capacitado a assumir o posto de narrador.
O autor utilizou também o discurso
indireto livre, forma híbrida em que as falas dos personagens se mesclam ao
discurso do narrador em terceira pessoa. Essa foi a solução para que a voz dos
marginalizados pudesse participar da narração sem que tivessem de arcar com a
responsabilidade de conduzir de forma integral a narrativa.
Espaço
A narrativa é ambientada no sertão, região marcada pelas chuvas escassas e irregulares. Essa falta de chuva – somada a uma política de descaso do governo com os investimentos sociais – transforma a paisagem em ambiente inóspito e hostil.
A narrativa é ambientada no sertão, região marcada pelas chuvas escassas e irregulares. Essa falta de chuva – somada a uma política de descaso do governo com os investimentos sociais – transforma a paisagem em ambiente inóspito e hostil.
Inverno, na região, é o nome dado à
época de chuvas, em que a esperança sertaneja floresce. O sonho de uma
existência menos árida e miserável esboça-se no horizonte e dura até as chuvas
cessarem e a seca retornar implacável. No romance, essa esperança aparece no
capítulo “Inverno”, em que Fabiano alimenta a expectativa de uma vida melhor,
mais digna.
O retorno à visão marcada pela falta
de perspectivas recomeça com o fim das chuvas, com o fim da esperança. Na obra,
pode-se apontar, também, para dois recortes espaciais: o ambiente rural e o
urbano. A relevância desse recorte se deve às sensações de adequação ou
inadequação dos personagens em um ou outro espaço.
Fabiano consegue, apesar da miséria
presente, dominar o ambiente rural. Incapaz de se comunicar, o personagem,
desempenhando a solitária função de vaqueiro, não sente tanto as consequências
de seu laconismo. Além disso, conhece as técnicas de sua profissão, o que lhe
dá uma sensação de utilidade e permite que goze até de certa dignidade. A
passagem em que seu filho o admira ao vê-lo trabalhando deixa claro isso. Na
cidade, porém, Fabiano vivencia, a cada nova experiência, o sentimento de
inadequação. Os capítulos “Festa” e “Cadeia” ilustram bem essa sensação.
Tempo
Além da falta de linearidade do tempo, em "Vidas Secas" há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. Essa opção do narrador de ocultar os marcadores temporais tem como principal consequência o distanciamento dos personagens da ordenação civilizada do tempo.
Dessa forma, nota-se que a ausência
de uma marcação cronológica temporal serve, enquanto elemento estrutural, como
mais uma forma de evidenciar a exclusão dos personagens. Por outro lado, a
valorização do tempo psicológico na narrativa faz com que as angústias dos
personagens fiquem mais próximas do leitor, que as percebe com muito mais
intensidade.
Comentário do Professor
A professora de Literatura do
Cursinho do XI Ausonia Reda Luppi frisa que "Vidas Secas" é um
romance cíclico. São 13 capítulos independentes que contam a retirada de uma
família. Inicia-se com uma mudança e termina com a fuga.
A família é composta pelo pai –
Fabiano – que quase não fala, não sabe que é branco e não sabe ler nem
escrever. Sinhá Vitória, mulata esperta que sabia fazer contas com os grãos,
Menino mais velho que queria saber ler e queria o significado da palavra
Inferno. Menino mais novo, queria ser um vaqueiro como o pai. Cadela Baleia, a
mais humana das personagens e um papagaio que não falava, só latia porque era o
único som que escutava.
Segundo a professora, o vestibular
pode cobrar a hierarquia apresentada no livro: como por exemplo, o que
representa o Soldado Amarelo e a linguagem do Tomás da bolandeira, a quem
Fabiano tanto admirava. Além disso, pode ser perguntado sobre o grau de
miserabilidade dessa família: a cadela chegando ao nível humano e o humano
descendo à condição de animal. Esta família vaga pela caatinga tentando chegar
em algum lugar, mas podem estar perdidos, andando em círculo.
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