quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Literatura contemporânea brasileira

Contexto histórico

Nas últimas décadas, a cultura brasileira vivenciou um período de acentuado desenvolvimento tecnológico e industrial; entretanto, neste período ocorreram diversas crises no campo político e social.
Os anos 60 (época do governo democrático-populista de J.K.) foram repletos de uma verdadeira euforia política e econômica, com amplos reflexos culturais: Bossa Nova, Cinema Novo, teatro de Arena, as Vanguardas, e a Televisão.
A crise desencadeada pela renúncia do presidente Jânio Quadros e o golpe militar que derrubou João Goulart colocaram fim nessa euforia, estabelecendo um clima de censura e medo no país (promulgação do AI-5; fechamento do Congresso; jornais censurados, revistas, filmes, músicas; perseguição e exílio de intelectuais, artistas e políticos). A cultura usou disfarces ou recuou.
A conquista do tricampeonato mundial de futebol em 1970, foi capitalizada pelo regime militar e uma onda de nacionalismo ufanista espalhou-se por todo o país, alienando as mentes e adormecendo a consciência da maioria da população por um bom período de tempo: "Brasil - ame-o ou deixe-o", a cultura marginalizou-se.
Em 1979, um dos primeiros atos do presidente Figueiredo foi sancionar a lei da anistia, permitindo a volta dos exilados. Esse ato presidencial fez o otimismo e esperança renascerem naqueles que discordavam da política praticada pelos militares daquele período.
Na década de 80 inicia-se uma mobilização popular pela volta das eleições diretas, que só veio a concretizar-se em 89, com a posse de Fernando Collor de Mello, cassado em 1991.
1995: eleição e posse do presidente Henrique Cardoso.

Manifestações Artísticas
As manifestações literárias desse período desenvolvem-se a partir de duas linhas-mestras:
            a) De um lado, a permanência de alguns autores já consagrados como João Cabral e Carlos Drummond de Andrade acompanhada do surgimento de novos artistas como Lygia F. Telles e Dalton Trevisan, ligados as linhas tradicionais da literatura brasileira: regionalismo, intimismo, urbanismo, introspecção psicológica.
b) De outro lado, a ruptura com valores tradicionais que se dispersam através de propostas alternativas ou experimentais, buscando novos caminhos ou exprimindo de maneiras pouco convencionais as tensões de um país sufocado pelas forças da repressão. Nessa vertente nascem o concretismo, a poesia Práxis, os romances e contos fantásticos, alegóricos.
O professor Domício Proença Filho (cit. in. Faraco e Moura, Língua e Literatura, vol. 3 Ed. Ática), defende a ideia de que "nas três últimas décadas, a cultura brasileira tem vivido sob o signo da multiplicidade seja na área política, social ou artística". Para ele, a cultura pós-moderna apresenta as seguintes características: eliminação entre fronteiras entre a arte erudita e a popular; presença marcante da intertextualidade (diálogo com obras já existentes e presumivelmente conhecidas) mistura de estilos (ecletismo que contenta gostos diversificados) preocupação com o presente, sem projeção ou perspectivas para o futuro. Na dramaturgia, especificamente, surgiu um espectador mais ativo que passou a fazer parte de uma interação entre atores e plateia.  Música e cinema sofrendo concorrência e pressão por parte da "moda" imposta pelos países mais desenvolvidos. A rapidez de sucessão dos modismos, tendo por objetivo o consumo desenfreado; o lucro, passou a reinar na sociedade brasileira.
Tratando-se especificamente da Literatura, o Professor Proença aponta as seguintes características dessa arte, neste período:
a) Ludismo na criação da obra, desembocando frequentemente na paródia ou pastiche. Ex.: as sucessivas imitações do famoso poema de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio" ("Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...").
b) Intertextualidade, característica da qual os textos de Drummond como "A um bruxo com amor" (retomando M. de Assis); "Todo Mundo e Ninguém" (retomando o auto da Lusitânia, de Gil Vicente) são belos exemplos.
c) Fragmentação textual: "associação de fragmentos de textos colocados em sequência, sem qualquer relacionamento explícito entre a significação de ambos", como em uma montagem cinematográfica.

POESIA
Nesta há duas constantes:
a) Uma reflexão cada vez mais acurada e crítica sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão; mantêm nomes consagrados como João Cabral, Mário Quintana, Drummond no painel da literatura.
b) Afirmação de grupos que usavam técnicas inovadoras como: sonoridade das palavras, recursos gráficos, aproveitamento visual da página em branco, recortes, montagens e colagens.
As principais vanguardas poéticas prendem-se aos grupos: Concretismo, Poema-Processo, Poesia-Social, Tropicalismo; Poesia-Social e Poesia-Marginal.

Concretismo

O concretismo foi idealizado e realizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e por Décio Pignatari. Em 1952 esse movimento começou a ser divulgado através da revista "Noigrandes"("antídoto contra o tédio" em linguagem provençal), mas seu lançamento oficial aconteceu em 1956, com a Exposição Nacional da Arte Concreta em São Paulo. Suas propostas aparecem no Plano- Piloto da Poesia Concreta; assinado por seus inventores:
Poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas, dando por encerrado
o ciclo histórico do verso (unidade rítmico- formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural, espaço qualificado estrutura espaço-temporal, em vez de desenvolvimento meramente temporístico-linear daí a importância da ideia do ideograma, desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual, até o seu sentido específico (fenollosa/pound) de método de compor baseado na justa posição direto-analógica não lógico discursiva - de elementos. (...). Poesia concreta: uma responsabilidade integral perante a linguagem, realismo total, contra uma poesia de expressão, subjetiva e hedonística. Criar problemas exatos e resolvê-los em termos de linguagem sensível uma arte geral da palavra. O poema- produto: objeto útil.
Vários poemas desse período não apresentam versos; "jogam" com a forma e o fundo, aproveitando o espaço gráfico em sua totalidade, "brincam" com o significado e o significante do signo linguístico, rejeitam a ideia de lirismo e tratam de forma inusitada o tema. O poema é como um quadro, sem ligações com o universo subjetivo; esse "objeto" concreto é passível de manipulação e permite múltiplas leituras (de cima para baixo; da direita para a esquerda, em diagonal, etc.).
Como se pode perceber, retomam procedimentos que remontam às vanguardas do início do século, tais como Cubismo e Futurismo. Seus recursos são os mais variados: experiências sonoras (aliterações, paronomásias; caracteres tipográficos variados (formas e tamanhos); diagramação; criação de neologismos. O poeta é um artesão da civilização urbana, sintonizado com o seu tempo.

Poesia – Práxis
Em 1962, Mário Chamie lidera em grupo dissidente, contra o radicalismo dos "mais concretos" e instaura a poesia-práxis. Em sua obra Lavra-lavra faz uma espécie de manifesto:
 “as palavras não são corpos inertes, imobilizados a partir de quem as profere e as usa”. As palavras são corpos- vivos. Não vítimas passivas do contexto.
O autor práxis não escreve sobre temas, ele parte de "áreas" (seja uma fato externo ou emoção), procurando conhecer todos os significados e contradições possíveis e atuantes dessas áreas, através de elementos sensíveis que conferem a elas realidade e existência".
A poesia-práxis preocupou-se com a palavra- energia, que gera outras palavras - uma valorização do ato de compor. É o que se vê no poema Agiotagem, de Mário Chamie:
Agiotagem
um dois três
o juro: o prazo
o pôr/ o cento/ o mês/ o ágio porcentagio.
dez cem mil
o lucro: o dízimo
o ágio/ a moral/ a monta em péssimo empréstimo.
muito nada tudo a quebra: a sobra a monta/ o pé/ o cento/ a quota haja nota agiota.

Fragmento do Poema "LAVRADOR" (Mário Chamie)
LAVRA: Onde tendes pá, pé e o pó sermão da cria: tal terreiro
DOR: Onde tenho a pó, o pé e a pá quinhão da via: tal meu meio de plantar sem água e sombra.
LAVRA: Onde está o pó, tendes câimbra;

Poema-código (ou semiótico) e poema-processo.
           
Em 1964, Décio Pignatari e Luiz Ângelo Pinto, lançaram a ideia do poema- código ou semiótico, predominantemente visual, incorporando outras linguagens (jornal, propaganda), montando um texto à maneira dadaísta.
Uma outra variante do Concretismo foi uma radicalização ainda maior - o poema-processo, - criação de Wladimir Dias Pino e Alvares de Sá, utilizando, sobretudo, signos visuais e dispensando o uso da palavra.

A poética da resistência: A poesia-social
Seu principal mentor é o maranhense Ferreira Gullar, que, em 1964, rompe com a poesia concreta e retoma o verso discursivo e temas de interesse social (guerra-fria corrida atômica, neocapitalismo, terceiro mundismo), buscando maior comunicação com o leitor e servir como testemunha de uma época. Após o golpe militar e a AI-5, empreende uma verdadeira "poesia de resistência", ao lado de outros escritores, artistas e compositores (J.J. Veiga, Thiago de Mello, Affonso Romano de Sant'Ana, Antônio Callado, Gianfrancesco Guarnieri, Chico Buarque, Oduvaldo Viana Filho...).

Tropicalismo

            O movimento musical popular chamado Tropicalismo originou-se, ainda na década de 60, nos festivais de Música Popular Brasileira (MPB), realizados pela TV Record, que projetaram no cenário nacional os jovens Caetano Veloso, Gilberto Gil, o grupo Os Mutantes e Tom Zé, apoiados em textos de Torquato Neto e Capinam e nos arranjos do maestro Rogério Duprat.
Com humor, irreverência, atitudes rebeldes e anarquistas, os tropicalistas procuravam combater o nacionalismo ingênuo que dominava o cenário brasileiro, retomando o ideário e as propostas do Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade. Dessa forma, propunham a devoração e deglutição de todo e qualquer tipo de cultura, desde as guitarras elétricas dos Beatles até a Bossa Nova de João Gilberto e o "nordestinismo" de Luiz Gonzaga.
Características dos textos:
Ironia e paródia, humor e fragmentação da realidade; enunciação de flashes cinematográficos aparentemente desconexos, ruptura com os padrões tradicionais da linguagem (pontuação sintaxe etc.).
Suas influências foram fundamentais na música, mas repercutiram também na literatura e no teatro.
Com o AI-5, seus representantes foram perseguidos e exilados.
A partir daí, a linguagem artística ou se cala ou se metaforiza ou apela para meios não convencionais de divulgação.

A Poesia Marginal

Segundo a professora Samira Youssef Campedelli (M Literatura, História e Texto, 3, Saraiva) "a poesia desenvolvida sob a mira da polícia e da política nos anos 70 foi uma manifestação de denúncia e de protesto, uma explosão de literatura geradora de poemas espontâneos, mal-acabados, irônicos, coloquiais, que falam do mundo imediato do próprio poeta, zombam da cultura, escarnecem a própria literatura”.
A profusão de grupos e movimentos poéticos, jogando para o ar padrões estéticos estabelecidos, mostra um poeta cujo perfil pode ser mais ou menos assim delineado: “ele é jovem, seu campo é a banalidade cotidiana, aparentemente não tem nem grandes paixões nem grandes imagens, faz questão de ser marginal". Experimentalismo, moralidade, ideologia e irreverência são algumas de suas características.
A divulgação dessa obra foge do "circuito tradicional": são textos fechados em muros; jornais, revistas e folhetos mimeografados ou impressos em gráficas de fundo de quintal e vendidas em mesas de restaurantes, portas de cinemas, teatros e centros culturais; happening e shows musicais; até uma "chuva de poesia" foi realizada no centro de São Paulo, da cobertura do edifício Itália, em 1980.
Ainda de acordo com a Professora Samira (opuscit, p.354) "Recupera-se alguns laços com a produção do primeiro Modernismo (1922) - poemas-minuto, poemas-piada; experimentaram-se técnicas como a colagem e a desmontagem dadaístas; praticaram-se formas consagradas, como os sonetos ou o haicai; tudo foi possível dentro do território livre da poesia marginal”, como bem atestam os poemas de Paulo Leminsky, à moda grafite, com sabor de haicai:
NÃO DISCUTO COM O DESTINO O QUE PINTAR EU ASSINO
Representantes desse grupos: Wally Salomão, Cacaso, Capinam, Alice Ruiz, Charles, Chacal, Torquato Neto e Gilberto Gil (Marginalia e "Geleia Geral").

O céu não cai do céu
O céu não cai do céu (poema de Régis Bonvicino)
Não é rara também a paródia, assim como a metalinguagem.
Enquanto os concretistas atribuem grande importância à construção do poema, os marginais preocupam-se, sobretudo com a expressão, ora de fatos triviais, ora de seus sentimentos. Por isso, boa parte dessa poesia marca-se por um tom de conversa íntima, de confissão pessoal.


Outras Tendências

Alguns poetas não se filiam a nenhuma dessas tendências, ou constituindo obra pessoal ou seguindo novos caminhos, ainda muito novos e incertos para serem "catalogados"; ou retomando a linha criativa de poetas já consagrados, como Drummond, Murilo Mendes e João Cabral.
São eles: Adélia Prado, Manuel de Barros, José Paulo Paes, Cora Coralina; entre outros.

Prosa

            Assim como na Poesia, na Prosa o período pós-moderno caracteriza-se por uma pluralidade de tendências e estilos.
A partir dos anos 70, vão-se quebrando limites entre os gêneros literários: romance e conto, conto e crônica, crônica e notícia; desdobram-se e acabam incorporando técnicas e linguagens, antes fora de seus domínios. Dessa forma, aparecem romances com ares de reportagens; contos parecidos com poemas em prosa ou com crônicas, autobiografias com lances romanescos narrativos que adquirem contornos de cena teatral; textos que se constroem por justaposição de cenas, reflexões, documentos...

O Romance

O romance ora segue as linhas tradicionais, aprofundando-se e enriquecendo-as com novos temas; ora inova, criando novas nuances de prosa.
Há diversos tipos de romance:

Romance regionalista:
Seguindo um caminho tradicional, iniciado desde o Romantismo, uma safra de bons escritores continua a retratar o homem no ambiente das zonas rurais, com seus problemas geográficos e sociais.
Ex.: Mário Palmério (Vila dos Confins, Chapadão do Bugre), José Cândido de Carvalho (O Coronel e o Lobisomem), Bernardo Élis (O tronco), Herberto Sales (Além dos Maribus), Antônio Callado (Quarup); entre outros.

Romance Intimista:
Na mesma linha de sondagem interior, de indagação dos problemas humanos, iniciada por Clarice Lispector, vários autores exploram o interior de personagens angustiadas, desnudando seus traumas, problemas psicológicos, religiosos, morais e metafísicos:
Ex.: Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra, As Meninas), Autran Dourado (Ópera dos Mortos, O Risco no Bordado), Osman Lins (O Fiel e a Pedra), Lya Luft (Reunião de Família), Aníbal Machado (João Ternura), Fernando Sabino (O Encontro Marcado), Josué Montello (Os degraus do Paraíso), Chico Buarque (Estorvo); entre outros.

Romance urbano - social
Documenta os grandes centros urbanos com seus problemas específicos: a burguesia e o proletariado em constante luta pela ascensão social, luta de classes, violência urbana, solidão, angústia e marginalização.
Ex.: José Condé (Um Ramo para Luísa), Carlos Heitor Cony (O ventre), Antônio Olavo Pereira (Marcoré), Marcos Rey, Luís Vilela, Ricardo Ramos, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.

Romance político: A censura calou, durante um tempo, as vozes dos meios de comunicação de massa fazendo com que o romance passasse a suprir essa lacuna, registrando o dia-a-dia da história, fazendo surgir novas modalidades de prosa:
a) paródia histórica. Ex.: Márcio de Sousa (Galvez, o Imperador do Acre), Ariano Suassuna (A Pedra do Reino), João Ubaldo Ribeiro (Sargento Getúlio).
b) o romance reportagem, com emprego de linguagem jornalística e enredos com relatos de torturas, como veículo de denúncia e protesto contra a opressão.
Ex.: Ignácio de Loyola Brandão (Zero, não Verás País Nenhum), Antônio Callado (Quarup, Reflexos do baile), Roberto Drummond (Sangue de Coca- Cola) e Rubem Fonseca (O Caso Morel).
c) o romance policial, com aspectos urbanos e políticos aparece na ficção de Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha) e de Rubem Fonseca; este último, considerado o melhor nesse gênero, escreveu "A Grande Arte", "Bufo & Spalanzani”, "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos” dentre outros.
d) o romance histórico, que consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica têm grandes representantes como a obra "Agosto" de Rubem Fonseca, que retrata os acontecimentos políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; "Boca do Inferno" de Ana Miranda que retrata a Bahia do século XVII e os envolvimentos políticos e amorosos de Gregório de Matos; Fernando Morais seguindo esta linha escreve "Olga", a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio.
No Realismo Fantástico e no Surrealismo alguns escritores constroem metáforas que representam a situação do Brasil utilizando situações absurdas e assustadoras.
Ex.: Murilo Rubião é o pioneiro (O Pirotécnico Zacarias, O Ex-Mágico); J. J. Veiga (Sombras de Reis Barbudos, A Hora dos Ruminantes); Moacir Scliar (A Balada do Falso Messias, Carnaval dos Animais); Érico Veríssimo (Incidente em Antares).

Romance Memorialista e / ou autobiográfico

Essa tendência surge na ficção brasileira na década de 80, misturando autobiografia, relatos de viagens memoriais e reflexões de intelectuais que viveram no exílio ou foram testemunhas das atrocidades cometidas pelo regime militar.
Ex.: Pedro Nava (Baú de Ossos), Érico Veríssimo (Solo de Clarineta I e II), Fernando Gabeira (O que é isso Companheiro? e O Crepúsculo do Macho), Marcelo Rubens Paiva (Feliz Ano Velho).
Romances experimentais e metalinguísticos.
Desenvolvem novas técnicas de narrativa e trabalho linguístico que apresentam estrutura fragmentária.
Ex.: Osman Lins (Avalovara), Ignácio de Loyola Brandão (Zero), Ivan Ângelo (A Festa), Antônio Callado (Reflexos do Baile).

O Conto e a Crônica

A partir dos anos 70, houve uma verdadeira explosão editorial do conto e da crônica, por serem narrativas curtas condensadas e atenderem à necessidade de rapidez do mundo moderno. Novas dimensões foram introduzidas no conto tradicional: subversão da sequência narrativa, interiorizarão do relato, colagem de flashes e imagens, fusão entre poesia e prosa, evocação de estados emocionais.
A crônica, texto ligeiro, de interpretação imediata, com flagrantes do cotidiano, também passou a agradar o leitor tornando-se popular.

Autores que se destacam nesses dois gêneros:
Contos:
Lygia F. Telles, Osmar Lins, Murilo Rubião, Autran Dourado, Homero Homem, Moacyr Scliar, Oto Lara Resende, Dalton Trevisan, J. J. Veiga, Nélida Pinon, Rubem Fonseca, João Antônio, Domingos Pelegrim, Jr,Ricardo Ramos, Marina Colasanti, Luís Vilela, Marcelo Rubens Paiva, Ivan Ângelo e Hilda Hilst.


Crônica:
Rubem Braga, Vinícius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Álvaro Moreira, Sérgio Porto (Stanislau Ponte Preta), Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo e João Ubaldo Ribeiro.


Literaturas Portuguesa e Brasileira - Escolas Literárias


            A história da Literatura Brasileira está organizada em períodos (chamados de "escolas literárias" ou de "movimentos literários"). O nosso estudo começa com a Literatura Portuguesa (com os primeiros registros de produção literária em Língua Portuguesa) e vai até o Modernismo (principal período literário do século XX). 

Veja, abaixo, todas as escolas literárias que são estudadas em Literatura. 

Literatura Portuguesa
Trovadorismo
Humanismo
Classicismo

Literatura Brasileira (Era Colonial)
Quinhentismo
Barroco
Arcadismo

Literatura Brasileira (século XIX)
Romantismo
Realismo
Naturalismo
Parnasianismo
Simbolismo 

Literatura Brasileira (século XX)

Pré-Modernismo
Modernismo

Literatura Brasileira - Modernismo


Já estudamos que a Literatura Brasileira do século XIX foi caracterizada pelo Realismo, pelo Naturalismo, pelo Parnasianismo e pelo Simbolismo

No século XX, surgiu um movimento que queria renovar o estilo da Literatura, rompendo com a Literatura tradicional do século XIX (Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo), buscando, assim, inovações modernas para o novo século: é o Modernismo (antes houve um momento de transição chamado de Pré-Modernismo). Os modernistas queriam uma Literatura livre, sem "fórmulas" e sem regras, sem palavras cultas e formais demais, sem o rebuscamento do vocabulário, sem a cultura tradicional e acadêmica. 

O Modernismo no Brasil começou com a Semana de Arte Moderna de 1922, que foi a reunião de vários artistas (pintura, literatura, música, arquitetura, escultura, etc) de várias tendências artísticas que buscavam renovar as artes, difundindo suas ideias e rompendo, assim, com a cultura tradicional e conservadora do século XIX. 

O Modernismo teve três fases (gerações):

1ª Geração Modernista (1922 - 1930)

Os principais nomes dessa geração foram: Manuel BandeiraOswald de Andrade e Mário de Andrade

As principais características dessa geração foram: linguagem livre (poesia sem regras de rima e de métrica), linguagem coloquial (livre de formalismos e de palavras cultas), gírias e até erros gramaticais (porque os erros de gramática e a linguagem coloquial é a linguagem usada pelos brasileiros). Temas tratados com irreverência e ironia (bom-humor, piada, paródia), temas inspirados no cotidiano das pessoas e poemas "relâmpagos" (curtíssimos e breves). 

Claro que tudo isso irritava os mais conservadores e tradicionais. 

Exemplo de texto modernista da primeira geração:

Pronominais (Oswald de Andrade)

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Observe que não existe rima, nem métrica, nem formalismos. A linguagem é coloquial e também é impregnada de irreverência e ironia. Não há preocupação com erros de português. Enquanto que a gramática diz que o correto é "dê-me", o poeta zomba da gramática e escreve "me dá". Ele está mais interessado na gramática coloquial que é usada no cotidiano das pessoas, ou seja: o poeta prefere a modalidade linguística mais adequada à realidade brasileira. 

Em outras palavras: "que se dane a gramática e os velhos conservadores do século passado, isso aqui é Modernismo, pô!"

 2ª Geração Modernista (1930 - 1945)

Essa geração também é conhecida como Geração de 30. É nessa fase que o Modernismo ganha mais força no Brasil. Os principais autores dessa geração foram: na poesia, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles; na prosa, Jorge AmadoGraciliano RamosRachel de Queiroz e José Lins do Rego

Na parte da prosa, os modernistas se interessaram por temas nacionais e usaram uma linguagem mais brasileira (uma linguagem mais regionalista). Destaque para o regionalismo nordestino, que retratou os problemas da região (seca e migração). Também podemos destacar o romance urbano (histórias das cidades grandes), que retratou a vida das famílias urbanas. 

Na poesia, continuamos com o verso livre, mas também encontramos uma poesia mais amadurecida e sensível à realidade, que questiona a existência humana e a inquietação social. 

3ª Geração Modernista (1945 - 1960)

Essa geração também é conhecida como Geração de 45. Os principais autores do período foram: Clarice Lispector, João Guimarães Rosa e Nelson Rodrigues, além de Ariano Suassuna e Lygia Fagundes Telles


A poesia volta a ficar um pouco mais formal (efeito "poesia é a arte da palavra") e há uma preocupação maior com o estilo e com a estética da poesia. Na prosa, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles trabalharam o aprofundamento psicológico dos personagens e inovaram as técnicas narrativas, quebrando o tradicional "início, meio e fim". Guimarães Rosa se dedicou ao regionalismo (ele é o autor de Grande Sertão: Veredas) e inovou a narrativa ao empregar o discurso indireto livre. O teatro ganhou força com Nelson Rodrigues. 

Literatura Brasileira - Pré-Modernismo


Ao longo do século XIX a Literatura Brasileira foi caracterizada pelo Realismo, pelo Naturalismo, pelo Parnasianismo e pelo Simbolismo. Depois de todos esses movimentos literários veio o Pré-Modernismo, um momento de transição para o Modernismo. 

O Pré-Modernismo não é considerado uma escola literária (ou seja: um período literário com características próprias), mas sim uma fase de transição entre os movimentos literários do século XIX e XX, já que ele mistura, de modo diversificado, as características do Modernismo, do Parnasianismo, do Simbolismo e do Realismo. 

De modo geral, são características do Pré-Modernismotransição entre os movimentos literários conservadores do século XIX (Realismo, Naturalismo e Parnasianismo) e modernos do século XX (Modernismo), oscilação entre a linguagem culta e coloquial, exposição da realidade social brasileiraregionalismonacionalismo, temáticas históricas, econômicas, políticas e sociais

Autores importantes:

Euclides da Cunha: escreveu Os Sertões.

Lima Barreto: escreveu Triste Fim de Policarpo Quaresma.


Monteiro Lobato: autor do Sítio do Pica Pau Amarelo e do personagem Jeca Tatu.

Literatura Brasileira - Simbolismo

Já vimos que o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo foram movimentos literários que ocorreram na mesma época, que eles reagiam contra o sentimentalismo do Romantismo e que retratavam o mundo de modo real, observando-o e o descrevendo exatamente como ele é, sem emoção e sem sentimento. 

Simbolismo foi um movimento literário que reagiu contra essa forma científica de ver o mundo, resgatando um pouco a segunda fase do Romantismo (o Ultrarromantismo, o "mal do século"). Porém, os simbolistas foram mais profundos no aspecto metafísico: eles eram muito mais filosóficos. 

Características do Simbolismo: mergulho no "eu" (introspecção), emoção, universo metafísico e filosófico, misticismo, desejo de transcender o mundo e alcançar o "cosmos", pessimismo (interesse pela morte, pelo oculto, pelo mistério e pela noite), subjetivismo e decadência humana (retoma as características do Ultrarromantismo). Desse modo, eles viam a realidade do mundo de uma maneira mais metafísica, usando uma linguagem cheia de metáforas, de imagens, de símbolos (daí vem o nome "Simbolismo"), de elementos sinestésicos (mistura de sensações; exemplo: visão com olfato). 

Principais Autores: Cruz e Souza e Eugênio de Castro. 

Exemplo de texto simbolista:


Cavador do Infinito (Cruz e Souza)

Com a lâmpada do Sonho desce aflito 
E sobe aos mundos mais imponderáveis, 
Vai abafando as queixas implacáveis, 
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito 
Sente, em redor, nos astros inefáveis. 
Cava nas fundas eras insondáveis 
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava 
mais o Infinito se transforma em lava 
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho. 
E com o seu vulto pálido e tristonho 
Cava os abismos das eternas ânsias! 



Observe as metáforas ("lâmpada do Sonho", "cavador do trágico Infinito"), o "mergulho no Eu" (o poeta "mergulha em si mesmo", ou seja: ele mergulha no Infinito), o misticismo e o desejo de transcender a matéria ("e sobe aos mundos mais imponderáveis", "nos astros inefáveis") e o pessimismo ("e com o seu vulto pálido e tristinho", "cava os abismos das eternas ânsias"). O poeta se afunda em si próprio ("cava o Infinito") em busca do fundamento da existência humana (metafísica, filosofia) e se perde ("e o cavador se perde nas distâncias").