Literatura

Aspectos Gerais da Literatura

O que é Literatura?
É a arte de criar uma realidade própria, transpondo para o papel os sonhos e fantasias pessoais, tornando-os reais. É também o conjunto de produções literárias de um povo, em determinado local e época.
Com base nesse conceito, passaremos a estudar as bases gerais da literatura, as estruturas e nomenclaturas fundamentais.

1)    FORMA 
Originalmente, quanto à forma, a Literatura manifesta-se de duas formas
a)    PROSA: A expressão “prosa”, em latim, é dita como “proversus” e significa “voltado para frente”. Trata-se de um texto corrido onde cada linha é uma unidade de pensamento chamada parágrafo.
A prosa pode ser curta (contos) ou longa (romance).
b)    VERSO: Consiste no arranjo harmônico das palavras, com a finalidade de se produzir um texto com valores semânticos (significados) ou sonoros.
Os poemas são organizados em versos (cada uma das linhas que constituem uma estrofe).
OBS: O Teatro também é considerado uma forma de expressão literária, pois é composto de narrativa – falas e personagens.

DIFERENÇA ENTRE POEMA E POESIA

Apesar de serem tratadas por muitos como sinônimos, o uso dos dois termos entre os estudiosos apresenta diferenças: 
Poesia: Caráter do que emociona, toca a sensibilidade. Sugere emoções por meio de uma linguagem.
Poema: obra em verso em que há poesia

Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não.
Poema é um texto escrito em verso compostos por um determinado número de sílabas, que são interrompidas quando atingem um determinado número.
Um grupo de versos forma uma estrofe. Esta recebe uma classificação conforme o número de verso. São elas: Terceto, Quarteto, Oitava, décima e Soneto (Forma fixa de 14 versos agrupados em dois quartetos e dois tercetos – Ex:. Apostila)
Os elementos do verso são:
a)    Métrica:
- Metro é a medida do verso (Conf. Apostila)
Elisão é a supressão (extinção, eliminação) sílaba átona (não tônica) final do vocábulo, que não são contadas.
Escandir é o termo utilizado para dividir o verso em sílabas métricas.

Observem o poema “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias
Mi/nha/ te/rra/ tem/ pal/mei/ras, = 7 sílabas
On/de/ can/ta o/ Sa/bi/á; = 7 sílabas
As/ a/vês/, que a/qui/ gor/jei/am,  = 7 sílabas

Não/ gor/jei/am/ co/mo/ lá = 7 sílabas.


b)    Ritmo: É a musicalidade da voz, do verso, do poema num todo.
Os mais comuns são:
- Pentassílabos: 5 sílabas
- Decassílabos: formados por 10 sílabas (poéticas)
- Alexandrinos: formados por 12 sílabas com tônicas na 6ª e na 12ª

c)    Rima: É a repetição dos mesmos sons ou de sons semelhantes no fim de do ou mais versos

2)    GÊNERO
 A Literatura manifesta-se através de três gêneros:
a)    Lírico: São os poemas compostos por poesias, ou seja, texto lírico é aquele dotado de emoção.

b)    Dramático: É composto de textos que foram escritos para serem encenados em forma de peça de teatro. Para o texto dramático se tornar uma peça, ele deve primeiro ser transformado em um roteiro, para depois poder ser transformado em um texto do gênero espetacular.

c)    Épico ou Narrativo: é o ato de narrar ou contar um fato. Toda narração se compõe de dois planos. O (I) Narrador, que é aquele que conta aos ouvintes ou escreve aos leitores uma (II) história, que consiste numa série de acontecimentos que se passam em determinado ambiente que envolvem um ou mais personagens em determinado conflito.
Quanto à estrutura, ao conteúdo e à extensão, pode-se classificar as obras narrativas em romancescontosnovelaspoemas épicoscrônicasfábulas e ensaios.

I - TIPOS DE FOCO NARRATIVO

1)    NARRADOR ONISCIENTE: É aquele que pode ser comparado a uma testemunha invisível que relata tudo o que acontece, penetra no interior dos personagens. Não se limita apenas em contar os fatos como expectador. A narrativa é feita em 3ª pessoa.

2)    NARRADOR-OBSERVADOR: É aquele que relata os fatos ocorridos, conta o que ocorreu e as ações tomadas pelos personagens. È mero expectador. A narrativa é feita na 3ª pessoa.

3)    NARRADOR PERSONAGEM: Neste caso, o narrador participa da narração e conta o que vivenciou como personagem. Vê os acontecimentos de dentro para fora. A narrativa é feita em 1ª pessoa.

II - ESTRUTURA QUE COMPÕE A NARRATIVA

AMBIENTE = ESPAÇO + TEMPO

1)    AMBIENTE: Composto pelo ESPAÇO e TEMPO, portanto onde e quando se passa a história.

a)    TEMPO: é compreendido sob dois aspectos: O tempo psicológico (idade, fase da vida – É o tempo interior, colocado pela personagem) e tempo cronológico (data, época – Linear, sucedendo-se nos calendários escolhidos e diferenciados em cada uma das culturas).
b)    ESPAÇO: Pode ser externo (rua, sala, prédio) ou interno (que apresenta os limites fechados, ou no mundo íntimo da personagem)

2)    PERSONAGEM: É a criação viva feita pelo autor.
Podem ser planas ou simples: São aquelas personagens que mantém um só traço psicológico, sendo caracterizado pela uniformidade dentro da obra. Portanto, apresentam um padrão comportamental constante e previsível.
Podem ser ainda, esféricas, redondas ou complexas: Apresentam um rico mundo interior, surpreendendo pelas contradições. Quanto à ação, dentro da obra são imprevisíveis.

3)    INTRIGA (CONFLITO): É o motivo, o fato gerador da ação, a trama dos eventos em que participam os personagens.

4)    DESFECHO: É o encerramento da narrativa, podendo causar ao leitor diferentes reações (como ocorre na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis).






Escolas literárias - ROMANTISMO (SÉC. XIX)

A POESIA DO ROMANTISMO

            O Romantismo brasileiro surgiu em 1836 com a publicação de "Suspiros Poéticos e Saudades" de Gonçalves de Magalhães. Mas se originou mesmo na Alemanha e Inglaterra no final do séc. XVIII e se desenvolveu no Brasil durante o séc. XIX.
            A característica principal da Poesia Romântica é a expressão plena dos sentimentos pessoais, com os autores voltados para o seu mundo interior e fazendo da literatura um meio de desabafo e confissão. A vida passa a ser encarada de um ângulo pessoal, em que se sobressai um intenso desejo de liberdade. O estilo romântico revela-se inicialmente idealista e sonhador, depois, crítico e retórico mas sempre sentimental e nacionalista.
CARACTERÍSTICAS GERAIS


-Exaltação dos sentimentos pessoais;
-Expressa os estados da alma;
-Exaltação da liberdade, igualdade e reformas sociais;
-Valorização da natureza;
-Sentimento nacionalista



TENDÊNCIAS DA POESIA ROMÂNTICA


-Indianismo
-Ultra-Romantismo
-
Poesia Social



Precedentes: Período de Transição (1808-1836)

            Simultaneamente ao final das últimas produções do movimento árcade, ocorreu a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil. Esse acontecimento, no ano de 1808, significou o início do processo de Independência da Colônia. O período compreendido entre 1808 e 1836 é considerado de transição na literatura brasileira devido à transferência do poder de Portugal para as terras brasileiras que trouxe consigo, além da corte e da realeza, as novidades e modelos literários do Velho Continente nos moldes franceses e ingleses. Houve também a mudança de foco artístico e cultural, da Bahia para o Rio de Janeiro, capital da colônia desde o ano de 1763.
Segundo o crítico literário Antônio Cândido, no livro Noções de Análise Histórico-literária:
"No Brasil não havia universidades, nem tipografias, nem periódicos. Além da primária, a instrução se limitava à formação de clérigos e ao nível que hoje chamamos secundário, as bibliotecas eram poucas e limitadas aos conventos, o teatro era paupérrimo, e muito fraco o intercâmbio entre os núcleos povoados do país, sendo dificílima a entrada de livros."
             O que explica o desenvolvimento literário incipiente, se comparado com o mesmo período na metrópole. Os autores vistos até então eram produto da educação europeia e/ou religiosa que receberam.
Com a vinda da Família Real, os livros puderam ser impressos no território, em função da Imprensa Régia, derrubando a medida que proibia sua impressão e difusão sem a autorização prévia de Portugal, dando início não apenas ao desenvolvimento da literatura mas, também, a um sentimento de nacionalidade no território, uma das principais características do período romântico brasileiro.

Contexto Histórico na Europa

            O final do século XVIII presenciou a ascenção da tipografia, inventada pelo alemão Johannes Gutenberg, que possibilitou o desenvolvimento da impressão em grandes quantidades de jornais e romances. No início, os romances eram publicados diariamente nos jornais de forma fragmentada, assim, a cada dia um novo capítulo da história era revelada. Esse esquema, importado para a colônia, ficou conhecido como "folhetim" ou "romance de folhetim" e deu origem às telenovelas que conhecemos nos dias de hoje.
            Assim, com a Revolução da Imprensa, uma das principais características do período Moderno, houve também a ascensão dos romances impressos, popularizando o artefato (o livro não era mais considerado um artigo de luxo, inacessível) e proporcionando um largo alcance da literatura às camadas inferiores da sociedade e também às mulheres, que raramente tinham acesso às letras e, quando muito, eram alfabetizadas.
            Considera-se o marco inicial do romantismo na Europa a publicação do romance Os sofrimentos do jovem Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe no ano de 1774. Historicamente, um dos marcos principais do movimento foi a Revolução Francesa, responsável pela difusão dos pensamentos Iluministas na Europa e nas suas colônias, que tanto inspirou os poetas árcades brasileiros.
            Com o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais: a burguesia, com riquezas provenientes do comércio, e os operários das indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual a ideologia defendida por seus autores.
 Ideologia: conjunto de ideias ou pensamentos de um indivíduo ou grupo e que pode estar ligado a ações políticas, econômicas e sociais.

Contexto Histórico no Brasil

Considera-se que o período romântico no Brasil inicia em 1836, com a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades, do poeta Gonçalves de Magalhães e vai até o ano de 1881, com a publicação do romance realista Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.
            Como dito anteriormente, o desenvolvimento da literatura brasileira propriamente dita aconteceu a partir da vinda da Família Real para o Rio de Janeiro que gerou um forte desenvolvimento artístico e cultural na colônia, agora afinado com a produção literária europeia. Porém, a insatisfação das classes dominantes com o Império fez com que surgissem tentativas de independência da metrópole, produzindo um sentimento de nacionalismo que culminaria com a Declaração da Independência, em 1822, por Dom Pedro I.
            Outro aspecto importante é com relação à escravidão dos negros: o Brasil era uma das poucas colônias americanas que ainda sustentava o sistema econômico baseado do trabalho escravo, o que gerou opiniões controversas por parte dos autores daquela época. Temos expressões literárias abolicionistas (p. ex.: o poeta Gonçalves de Magalhães) e outras que tratavam do tema superficialmente (p. ex.: o romancista Bernardo Guimarães) ou sequer tocavam na questão.
            A independência das colônias latino-americanas impulsionou um sentimento de nacionalidade diretamente refletida pela literatura. A formação dessas literaturas esteve a cargo de autores que projetavam os ideais de uma nação em crescimento e desenvolvimento e que até hoje são considerados constitutivos da história da nação. No entanto, essa literatura fundacional e canônica da América Latina é revista por muitos professores, críticos literários e historiadores pois apresentam apenas uma visão referente à formação das nações latino-americanas. Como assinala o professor e crítico literário Eduardo F. Coutinho:
“Na América Latina, durante o século XIX, o sujeito enunciador do discurso fundador do estado-nação tomou como base um projeto patriarcal e elitista, que excluiu não só a mulher, mas índios, negros, analfabetos e, em muitos casos, aqueles que não possuíam nenhum tipo de propriedade. A preocupação dominante era marcar a diferença da nova nação com relação à matriz colonizadora, mas o modelo era obvia e paradoxalmente a metrópole; daí a necessidade de forjar-se uma homogeneidade que excluísse todas as diferenças."
            O que causa uma sensação de estranhamento é o paradoxo observado no período: ao mesmo tempo em que ideias sobre o sentimento de nacionalidade aflorava nos corações dos brasileiros (e demais latino-americanos), parte da população permanecia na miséria e/ou em situações de escravidão, sem acesso à emancipação e aos direitos humanos básicos.

Referências:
CÂNDIDO, Antônio. Noções de Análise Histórico-literária. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005.

COUTINHO, Eduardo F. Mutações do comparatismo no universo latino-americano: a questão da historiografia literária. In: SCHMIDT, Rita T. Sob o signo do presente: intervenções comparatistas. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2010.


Literatura Brasileira - Modernismo


O Modernismo foi um dos movimentos mais importantes e polêmicos da história literária brasileira e também um dos mais extensos. Foi neste período que surgiram alguns do maiores escritores e clássicos da literatura brasileira como Mário e Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de  Andrade, Graciliano Ramos, Jorge Amado e muitos outros.
Antecedentes
Vamos conhecer um pouco do contexto social e político da época, fatores muito importantes que influenciam a produção literária de qualquer sociedade.

Contexto
É consenso entre estudiosos que o momento histórico brasileiro interferiu muito na produção literária, cada vez mais marcada pela transição dos valores estéticos do século XIX para uma nova realidade que se desenhava. Acontecimentos como as revoltas da Vacina e da Chibata, no Rio de Janeiro, as greves operárias em São Paulo e a Guerra do Contestado, o fanatismo religioso do Padre Cícero e de Antônio Conselheiro e o cangaço, no Nordeste;a política marcadamente dirigida pela oligarquia rural, o nascimento da burguesia urbana, a industrialização, segregação dos negros pós-abolição, o surgimento do proletariado e, finalmente, a imigração européia. Em suma, todos estes conflitos viriam a refletir-se na literatura que então se fazia.

O Simbolismo
O Simbolismo é um estilo literário (também existente no teatro e nas artes plásticas) que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo e ao Naturalismo. Os temas na literatura simbolista são místicos e espirituais, inspirados nas religiões e filosofia orientais que passaram a ser mais conhecidas no ocidente.Abusava-se da sinestesia, que é a sensação produzida pelo intercâmbio de órgãos sensoriais: expressões como "cheiro doce"ou
"grito vermelho". Também utilizava-se muito as assonâncias (repetição das vogais e aliterações  (repetição de letras ou sílabas) o que tornava os textos simbolistas notadamente musicais.Eram  profundamente subjetivistas, se interessavam mais pelo individual que pelo geral, davam ênfase   à fantasia e ao imaginário, buscavam o sonho, o inconsciente. Apelidado perjorativamente de "decadentismo", numa alusão à decadência dos valores estéticos vigentes. Seria em 1886 que o nome "simbolismo"foi consagrado como denominação desta corrente. No Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.

Pré-Modernismo
O termo "pré-modernismo"é usado na literatura brasileira para definir o período de transição entre o  parnasianismo, o simbolismo e o movimento modernista. Representa um momento eclético da nossa literatura, onde não há uma escola, um estilo definido. De acordo com Joaquim Francisco Coelho, o termo pré-modernismo parece ter sido criado por Tristão de Athayde, para designar os "escritores contemporâneos do neo-parnasianismo, entre 1910 e 1920". Embora alguns autores brasileiros sejam classificados como pré-modernistas, suas obras marcadamente individualistas impedem a consagração do pré-modernismo como uma escola literária. Entretanto, duas características são comuns entre estes autores. São elas:
• "Conservadorismo- de certa forma traziam na sua estética os valores parnasianos e naturalistas;
• Renovação - demonstravam íntima relação com a realidade brasileira e as tensões vividas pela sociedade do   período.
Alguns autores considerados pré-modernistas são: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos, etc. Embora tenham rompido com a temática dos períodos anteriores, esse autores não   avançaram o bastante para serem considerados modernos.

A Primeira Geração - A geração de 22
Contexto
O processo histórico que gerou o Modernismo durou cerca de cinqüenta anos, começando ainda no século XIX. Entretanto, a manifestação concreta de novas concepções de vida e de arte viria a acontecer somente nas três primeiras décadas do século XX, quando se deu um intenso combate entre o novo e tudo aquilo que representava a tradição cultural e ideológica do passado.
• Início do século XX: apogeu da Belle Époque. O burguês comportado, tranqüilo, contando seu lucro. Capitalismo monetário. Industrialização e Neocolonialismo;
• Reivindicações de massa. Greves e turbulências sociais. Socialismo ameaça;
• Progresso científico: eletricidade. Motor a combustão: automóvel e avião;
• Concreto armado: ?arranha-céu?. Telefone, telégrafo. Mundo da máquina, da informação, da velocidade;
• Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa.
Segundo um dos mais notáveis modernistas que foi Oswald de Andrade, a assimilação das idéias vindas da Europa no Brasil ocorreu de maneira "antropofágica". Os modernistas no Brasil tenderam a "filtrar"a influência dos seus colegas europeus, ou seja, eles reorganizaram os elementos artísticos vindos de fora com o objetivo de ajustá-los às singularidades culturais e à realidade brasileira.

Algumas características do modernismo em geral:
• Abolir todas as regras. O passado é responsável. O passado, sem perfil, impessoal. Eliminar o passado;
• Arte Moderna. Inquietação. Nada de modelos a seguir. Recomeçar. Rever. Reeducar.
Chocar. Buscar o novo: multiplicidade e velocidade, originalidade e incompreensão, autenticidade e novidade;
• Vanguarda- estar à frente, repudiar o passado e sua arte. Abaixo o padrão cultural vigente.

A Semana de Arte Moderna
Conforme o que foi dito sobre o momento histórico no surgimento do modernismo, a Semana de Arte Moderna ocorreu em uma época cheia de turbulências políticas, sociais, econômicas e culturais. As novas estéticas surgiam e espantavam a sociedade , tanto que, alvo de críticas e em parte ignorada, a Semana não foi bem entendida em sua época, situada no tempo da República Velha, controlada pelas oligarquias cafeeiras e pela política do café-com-leite.
O Objetivo da Semana de Arte Moderna, doravante SAM, era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com "a perfeita demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual", como informava o Correio Paulistano a 29 de janeiro de 1922.
A SAM ocorreu em São Paulo no ano de 1922 no período entre 11 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal da cidade. Durante os sete dias ocorreu uma exposição modernista no Teatro e nas noites dos dias 13, 15 de fevereiro e 17 ocorreram apresentações de poesia, música e palestras sobre a modernidade. A SAM foi a última gota para fazer transbordar as novas idéias vigentes. Não se tinha, porém, um programa definido. A intenção era experimentar diferentes caminhos ao invés de definir um único ideal moderno. Os eventos foram:
• 13 de fevereiro (Segunda-feira) - Casa cheia, abertura oficial do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por parte do público. O espetáculo tem início com a confusa conferência de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna". Tudo transcorreu em certa calma neste dia.
• 15 de fevereiro (Quarta-feira) - Guiomar Novaes era para ser a grande atração da noite. Contra a vontade dos demais artistas modernistas, aproveitou um intervalo do espetáculo para tocar alguns clássicos consagrados, iniciativa aplaudida pelo público. Mas a "atração"dessa noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos...) que se alternam e confundem com aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê o poema entitulado Os Sapos de Manuel Bandeira, (poema criticando abertamente o parnasianismo e seus adeptos) o público faz coro atrapalhando a leitura do texto. A noite acaba em algazarra. Ronald teve de declamar o poema pois Bandeira estava impedido de fazê-lo por causa de uma crise tuberculose.
• 17 de fevereiro (Sexta-feira) - O dia mais tranqüilo da semana, apresentações músicais de Villa-Lobos, com participação de vários músicos. O público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de
modismo e, sim, de um calo inflamado.
Na prática, a SAM representou uma verdadeira renovação da linguagem, na liberdade criadora e na ruptura com o passado. O evento marcou época ao apresentar novas idéias e conceitos artísticos. A nova poesia através da declamação. A nova música por meio de concertos. A nova arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura. Participaram da Semana nomes consagrados do Modernismo brasileiro, como Mário e Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia.

Características
Por ser a Primeira Geração, sua principal característica é a tentativa de definir e marcar posições. Foi um período rico em manifestos e revistas de vida efêmera. É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento com todas as estruturas do passado. Tem um caráter anárquico e um forte sentido destruidor. Principais autores  desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.

Alguns autores e obras
Alguns autores e suas obras mais importantes:
• Antônio de Alcântara Machado(1901-1935): Brás, Bexiga e Barra Funda (1927), contos; Laranja da China (1928)
• Cassiano Ricardo(1895-1974): Martim Cererê (1928),etc;
• Guilherme de Almeida(1890-1969)
• Manuel Bandeira(1886-1968): Cinza das Horas (17), Carnaval(19), Ritmo Dissoluto (24), Estrela da Manhã (36);
• Mário de Andrade(1893-1945): Paulicéia Desvairada,Escrava que não é Isaura, etc;
• Menotti del Picchia(1892-1988): Juca Mulato (1917), Salomé (1940), Máscaras (1920);
• Oswald de Andrade(1890-1953):Manifestos da Poesia Pau-Brasil (1924),Manifesto Antropófago (1928), Os condenados (trilogia)(1922-1934); Memórias sentimentais de João Miramar(1924), etc;
• Plínio Salgado(1895-1975):Vida de Jesus, O Estrangeiro, O Cavaleiro de Itararé, etc;
• Raul Bopp(1898-1984):Cobra Norato (1931),Urucungo (1932), América, etc;
• Ronald de Carvalho(1893-1935):Luz Gloriosa (1913), Pequena História da Literatura Brasileira (1919), Poemas e Sonetos (1919), Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922), Toda a América (1926).

A Segunda Geração  -  A geração de 30
A segunda geração modernista se estendeu de 1930 a 1945. Foi um período rico na produção poética e na prosa. Os temas se ampliam e os artistas passam a preocupar-se mais com questões metafísicas: o estar-no-mundo, o destino dos homens, etc. A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista estruturada, então seu trabalho foi aprimorá-la e encontrar novas variações. A geração de 30 foi
uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, o que deu à época uma atividade excepcional. A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo o caráter destruidor pela intenção construtiva, pela recomposição de valores e configuração da nova ordem estética.

Características
Repensar a história nacional com humor e ironia; Verso livre e poesia sintética; Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto indivíduo; Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta;
Literatura mais construtiva e mais politizada; Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius de Morais); Aprofundamento das relações do eu com o mundo;
Consciência da fragilidade do eu.

A Prosa
Os romances passaram a ser caracterizados pela denúncia social. Eram um verdadeiro documento da realidade brasileira. Uma das principais características do romance nessa época é o  encontro do escritor com seu povo. Há uma busca do homem brasileiro das diversas regiões, por isso o regionalismo ganha força, destacando-se as relações do personagem com o meio natural e social. Os escritores nordestinos tiveram grande destaque pela denúncia que fizeram em suas obras da realidade do sertão pouco conhecida nos grandes centros urbanos. Esses romances retratam a exploração das pessoas, a migração, miséria, fome, seca. O 1° romance nordestino foi "A Bagaceira"de José Américo de Almeida.

Alguns autores e obras
• Carlos Drummond de Andrade (1902-1987):Alguma Poesia (1930),Brejo das Almas (1934), Sentimento do Mundo (1940),A Rosa do Povo (1945), etc;
• Cecília Meireles (1901-1964): Viagem (1939),Romanceiro da Inconfidência (1953),Ou Isto ou Aquilo (1964), etc;
• Érico Veríssimo (1905-1975): Clarissa (33), Olhai os lírios do campo (38), O tempo e o vento , O continente (49) /O tempo e o vento, O retrato (51) /O tempo e o vento, O arquipélago (61), Incidente em Antares (71), etc;
• Graciliano Ramos (1892-1953): Vidas Secas (38), A Terra dos Meninos Pelados (39), Memórias do Cárcere, póstuma (53), etc;
• Jorge Amado (1912-2001): Mar morto, romance (1936), Capitães da areia, romance (1937), Gabriela, cravo e canela, romance (1958),Os pastores da noite, romance (1964), Dona Flor e Seus Dois Maridos, romance (1966), etc;
• José Lins do Rego (1901-1957): Menino de engenho (1932),Riacho doce (1939),Fogo morto (1943), etc;
• Murilo Mendes (1901-1975):Poemas (1930),História do Brasil (1932),Tempo e Eternidade (1935),Poesia em Pânico (1938),O Visionário (1941), etc;
• Rachel de Queiroz (1910-2003):O quinze, romance (1930),Caminho de pedras, romance (1937),A donzela e a moura torta, crônicas (1948),Dora, Doralina, romance (1975),Memorial de Maria Moura, romance (1992), etc;
• Vinícius de Moraes (1913-1980): Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música.

A Terceira Geração

Contexto
1945: fim da 2ª Guerra Mundial, início da Era Atômica (Hiroshima e Nagasaki), ONU, Declaração dos Direitos do Homem, Guerra Fria; Fim da ditadura Vargas: redemocratização brasileira; Golpe de 64: retomada de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.

Características
Na prosa, tanto no romance como nos contos, o que se busca é uma literatura intimista, psicológica,  introspectiva,destacando-se Clarice Lispector.O regionalismo adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja. Aliás, Clarice e Guimarães Rosa são chamados instrumentalistas, pois esmeram-se em pesquisar a linguagem coloquial, regional.
No campo da poesia, a 3ª geração modernista se opõem às conquistas e inovações da geração de 22. Negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras ?brincadeiras? modernistas, os poetas de 45 buscavam uma poesia mais ?equilibrada e séria?. Os modelos voltam a ser os Parnasianos e Simbolistas. São os principais autores desta corrente Ledo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno. Nos últimos anos da década
de 40, surge um poeta singular não filiado esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto.
Alguns autores e obras
Alguns Autores e obras do período:
• Clarice Lispector (1920-1977): A paixão segundo G.H. (1964), Água viva (1973), A hora da estrela (1977), Laços de família (1960), etc;
• Domingos Carvalho da Silva: Vida Prática, (1977).
• Ferreira Gullar (1930- ): Um pouco acima do chão (1949), Poemas (1958), A luta corporal e novos poemas (1966), Barulhos (1987), etc;
• João Cabral de Melo Neto (1920-1999): Os Três Mal-Amados (1943), O Rio ou Relação da Viagem que Faz o Capibaribe de Sua Nascente à Cidade do Recife (1954), Quaderna (1960), Morte e Vida Severina (1966), etc;
• João Guimarães Rosa (1908-1967): Sagarana (1946), Corpo de Baile (1956), Grande Sertão: Veredas (1956), etc;
• Mauro Mota (1911-1984): Elegias (1952).

Modernismo - resumo, autores, dicas e questão comentada

Produto das transformações sofridas pelo Brasil nas duas primeiras décadas do século 20, o período modernista brasileiro começou com a Semana de Arte Moderna de 1922. Ele evolui em três gerações, marcadas pela busca de inovações capazes de amadurecer a literatura nacional.
Primeira geração (1922-1930): seus expoentes máximos são Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954). Tida como iconoclasta, caracterizou-se pela negação do passado, pelo caráter destrutivo de suas propostas, pelo nacionalismo e pela valorização do cotidiano como matéria prima da Literatura. A redescoberta da realidade brasileira e do coloquialismo também marcam sua produção.
Segunda geração (1930-1945): fase de consolidação do Modernismo no Brasil. Na poesia, autores como Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Cecília Meireles (1901-1964) apresentam preocupação acentuada com a análise do ser humano e suas angústias - reflexo da sociedade em crise, na qual é essencial indagar o sentido da existência.
Prosa: o neorrealismo do romance regionalista apresenta a problematização da luta pela sobrevivência em uma sociedade dominada pela exploração e pelas intempéries. Esse tema aparece, por exemplo, nas obras de ficção de Graciliano Ramos (1892-1953), José Lins do Rego (1901-1957), Rachel de Queiroz (1910-2003) e Jorge Amado (1912-2001).
Terceira geração (1945-1960): um de seus representantes é João Guimarães Rosa (1908-1967), criador de uma prosa universal, em que o sertão é palco para discussão de dramas humanos, narrados em linguagem poética e inventiva. Outro representante é a escritora Clarice Lispector (1920-1977), que aparece com uma literatura introspectiva, marcada pela quebra da linearidade discursiva e pela epifania. Também se destaca João Cabral de Melo Neto (1920-1999), cuja obra caracteriza-se pelo rigor formal, pelo equilíbrio e pela busca da significação máxima da palavra.
Com o que ficar atento?
As transformações significativas pelas quais passaram a sociedade brasileira - especialmente nas décadas de 60 e 70 - criaram o conceito de pós-Modernismo e fizeram emergir tendências literárias como o Concretismo, a Poesia  Práxis.
Além disso, observa-se que, ao revolucionar as artes, a literatura, a música e a arquitetura no Brasil, o Modernismo inspirou e possibilitou o surgimento de movimentos posteriores, como o Cinema Novo, o Tropicalismo e o Teatro de arena.

Como já caiu no vestibular?
(Unifesp-SP) Sobre Manuel Bandeira, é correto afirmar que
a) a insistência em temas relacionados ao sonho e à fantasia aponta para uma concepção de vida fugidia e distanciada da realidade. Dessa forma, entende-se o poeta na transição entre o Realismo e Modernismo.
b) sua obra é muito pouco alinhada ao Modernismo, pois sua expressão exclui por completo a linguagem popular, priorizando a erudição e a contenção criadora.
c) o desapego aos temas do cotidiano o aponta como um poeta que, embora inserido no Modernismo, está muito distanciado das causas sociais e da busca de uma identidade nacional, como fizeram seus contemporâneos.
d) o movimento modernista teve com seu trabalho e com o de poetas como Oswald e Mário de Andrade a base de sua criação. Bandeira recriou literariamente suas experiências pessoais, com temas como o amor, a morte e a solidão, aos quais conferiu um valor mais universal.
e) o poeta trata de temas bastante recorrentes ao Romantismo, como a saudade, a infância e a solidão. Além disso, expressa-se como os românticos, já que tem uma visão idealizada do mundo. Daí seu distanciamento dos demais modernistas da primeira fase.
Gabarito
Resposta correta: D

Comentário: É característica marcante da produção dos poetas em questão o aproveitamento da riqueza expressiva da linguagem e das possibilidades rítmicas do verso. Disso resulta uma poesia simples, clara e de profundo lirismo.


RESUMO DE ALGUNS LIVROS COBRADOS E/OU CITADOS NOS VESTIBULARES

A Cidade e as Serras - análise da obra de Eça de Queirós

Último livro de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras foi publicado em 1901, um ano após a morte do autor português. A obra não estava inteiramente acabada. Faltava a meticulosa revisão que Eça dedicava a seus romances antes de publicá-los. Ainda assim, é considerado um dos mais importantes livros do escritor, concentrando as principais características do período de sua maturidade artística.
Nessa fase, Eça ameniza o rigor do método realista e reconcilia-se com seu país, Portugal, tão duramente criticado em romances anteriores, como O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio.


TEMPO E ESPAÇO 
O narrador-personagem, José Fernandes, é quem conta a história do amigo Jacinto. A narrativa se passa no século XIX, quando Paris era considerada a capital da Europa e o centro do mundo. Portugal, no entanto, mantinha-se como um país agrário e decadente. 
Havia grande entusiasmo, nos meios intelectuais da época, pelas teorias positivistas de Augusto Comte, criador do sistema que ordena as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas.

ENREDO
            A narrativa inicia-se com a história de dom Galião, grande proprietário que, ao escorregar numa casca de laranja, é socorrido pelo infante dom Miguel. Desse dia em diante, o rechonchudo velho torna-se partidário fanático do príncipe. 
Em 1831, dom Pedro retorna do Brasil para assumir o trono português, destronando seu irmão, dom Miguel. Indignado, dom Galião muda-se de Portugal para Paris, levando consigo Grilo, futuro criado de Jacinto. 
Em Paris, o filho de dom Galião, Cintinho, torna-se uma criança doente e tristonha. Quando adulto, seu aspecto não melhora. Em sua única decisão mencionada no livro, prefere ficar em Paris e casar-se com a filha de um desembargador a ir tratar-se no campo. Conclusão: morre três meses antes de nascer Jacinto, seu único filho. 
Jacinto cresce como um menino forte, saudável e inteligente. Na faculdade, seu colega Zé Fernandes (o narrador) o apelida de "Príncipe da Grã-Ventura". Em Paris, andavam em voga as teorias positivistas, das quais o protagonista se revela entusiasta. Jacinto elabora uma filosofia de vida:
"A felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da mecânica e da erudição". 
O resultado desse entusiasmo de Jacinto por Paris, porém, se revela desastroso. Zé Fernandes retrata dessa forma a decadência do protagonista, de quem se havia separado durante sete anos:
"Reparei então que meu amigo emagrecera; e que o nariz se lhe afilara mais entre duas rugas muito fundas, como as de um comediante cansado. Os anéis de seu cabelo lanígero rareavam sobre a testa, que perdera a antiga serenidade de mármore bem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos. Também notei que corcovava". 
Zé Fernandes, então, também se deixa levar por Paris, ao ser dominado por uma paixão carnal pela prostituta Madame Colombe. O caso contraria as teorias de Jacinto, expostas no começo do livro, segundo as quais o homem se tornava um selvagem no campo. Nesse caso, foi a cidade de Paris que transformou Zé Fernandes num escravo de seus instintos. 
Segue-se uma série de episódios que ilustram o ridículo que se escondia sobre a pretensa superioridade dos parisienses. Jacinto torna-se entediado, doente, chega a lembrar seu pai, Cintinho. Então ocorre uma reviravolta: a igreja onde estavam enterrados os avós de Jacinto vem abaixo durante uma tormenta. Ele manda que se reconstrua tudo, sem se importar com os gastos. 
Na viagem de volta a Portugal, Jacinto perde quase toda a bagagem. Seu país, no entanto, devolve a saúde ao protagonista, que, revigorado, promove diversas melhorias em Tormes. Finalmente, ele se casa com Joaninha, camponesa e prima de Zé Fernandes. Na última cena do livro, Zé Fernandes, também enfastiado de Paris, parte para Tormes - o "castelo da grã-ventura" - com Jacinto e Joaninha.

CAMPO E CIDADE 
            A temática do campo versus cidade - recorrente nas obras do escritor português - é o cerne do romance A Cidade e as Serras, como o próprio título indica. Na tradição da literatura ocidental, o gênero bucólico ou pastoral sempre tratou da oposição entre a vida tranquila e sábia do camponês e a vida urbana, cheia de agitação fútil. Para diferenciar o que ocorre no gênero pastoral e nesse romance, é preciso entender os pressupostos daquela oposição. Por que a vida no campo seria mais "sábia" que a vida na cidade? 
O gênero bucólico, cultivado por inúmeros autores desde a Antiguidade, caracteriza-se pela criação de um personagem lírico - um pastor fictício - cujo conhecimento provém da contemplação minuciosa da natureza. Sua expressão poética será tanto mais eficaz quanto mais transmitir o efeito de possuir duas qualidades principais: sabedoria e simplicidade. 
O conceito de sabedoria mudou muito no decorrer da história. Sem a pretensão de aprofundar aqui os vários significados que a palavra teve, é interessante mostrar como esse conceito se torna problema na obra de Eça. 
O teórico Walter Benjamin definiu sabedoria como "a teoria entretecida na experiência", fórmula que desvaloriza tanto a ação que se promove sem o governo da razão, limitada pela ignorância (simbolizada na figura do selvagem), quanto a teoria desvinculada das ações e da vida sensível (simbolizada principalmente pela informação). 

MODERNIDADE
No romance, um exemplo de como a questão aparece está na cena em que Zé Fernandes, após ter passado sete anos em Portugal, reencontra Jacinto em Paris. Depois de verificar que o amigo parecia mais magro e abatido e admirar-se com as inovações do 202 (número da casa de Jacinto na capital francesa), Zé Fernandes observa espantado o funcionamento de um telégrafo, que transmite a Jacinto a informação de que "a fragata russa Azoff entrara em Marselha com avaria".
Enquanto isso, Jacinto está ocupadíssimo ao telefone. O visitante pergunta então ao anfitrião "se o prejudicava diretamente aquela avaria da Azoff". A resposta do entediado Jacinto é: "Da Azoff?... a avaria? A mim... Não! É uma notícia". 
Trata-se de um dado que não tem importância para Jacinto, pois sua existência está completamente afastada do destino da embarcação russa. A informação, porém, estabelece um falso vínculo entre ambos os eventos. Jacinto assiste a tudo, mas não pode tomar nenhuma atitude. A constatação é que o homem informado assiste a um jogo complexo de acontecimentos que se desenrolam por todos os lugares do mundo, muitos sem nenhuma relação aparente entre si, e fica como Jacinto diante do telégrafo: agoniado e entediado. 
Quando o protagonista volta a Portugal, encontra o mundo da experiência alheia à teoria. Se em Paris ele tinha um milhão de instrumentos incapazes de proporcionar uma vida saudável, em Portugal falta-lhe até uma cama confortável, sendo preciso improvisar uma entre as pedras. 
Vale lembrar que Jacinto fora chamado a Tormes - sua propriedade em Portugal - para reconstruir o túmulo de seus ancestrais, o que pode ser interpretado como uma religação do protagonista com suas origens, citadas no início do livro. Porém, o Jacinto que retorna é um homem muito informado e pode agora aplicar parte da grande carga teórica que adquiriu ao contexto português. É preciso primeiro livrar-se da complexidade inútil do jogo das informações e articulá-las de modo eficiente. Em resumo: agir com simplicidade. O protagonista, então, torna-se sujeito de uma ação bem direcionada, conseguindo promover muitas melhorias em Tormes, lugar atrasado e pobre.
A ideia de sabedoria encontrada nesse romance, portanto, se desvincula do que determina o gênero bucólico, em que a contemplação da natureza é a responsável pela produção do saber. O que vemos aqui é uma ideia muito mais próxima de nossa modernidade, na qual há uma ruptura entre a informação e a experiência pessoal. 

CONCLUSÃO
As obras de Eça de Queirós podem ser agrupadas em três fases: a primeira, experimental, em que o autor publicou artigos irregulares em folhetins; a segunda, fortemente realista, que vai desde a publicação de O Crime do Padre Amaro, em 1875, até a de Os Maias, em 1888; e a terceira, pós-realista, na qual o autor se reconcilia com a sua Portugal. Nessa, destaca-se A Ilustre Casa de Ramires, de 1900, além de A Cidade e as Serras

A temática tratada, campo versus cidade, vem de uma longa tradição literária e é recorrente na obra do autor. Nesse romance, ele se dedica a mostrar a futilidade reinante em Paris e a satirizar as ideias positivistas que deslumbravam a juventude intelectual da época.


A hora da estrela - Resumo da obra de Clarice Lispector

Em seu último romance, Clarice Lispector criou um narrador fictício, Rodrigo S.M, que relata a vida da jovem nordestina Macabéa, ao mesmo tempo em que reflete sobre os sonhos, as manias e os conflitos internos da garota.

Resumo
Enredo 1
O narrador conta a história de Macabéa, jovem alagoana de 19 anos que vive no Rio de Janeiro. Órfã, mal se lembrava dos pais, que morreram quando ela era ainda criança. Foi criada por uma tia muito religiosa e moralista, cheia de superstições e tabus, os quais ela passou para a sobrinha.
Essa tia também tinha certo prazer mórbido em castigar Macabéa com cascudos na cabeça, muitas vezes sem motivo, além de privá-la de sua única paixão: a goiabada com queijo na sobremesa. Assim, depois de uma infância miserável, sem conforto nem amor, sem ter tido amigos nem animais de estimação, Macabéa vai para a cidade grande com a tia.
Apesar de ter estudado pouco e não saber escrever direito, Macabéa faz um curso de datilografia e consegue um emprego, no qual recebe menos que o salário mínimo. Após a morte da tia, deixa de ir à igreja e passa a repartir um quarto de pensão com quatro balconistas de uma loja popular.
Macabéa cheirava mal, pois raramente tomava banho. À noite, não dormia direito por causa da tosse persistente, da azia — em virtude do café frio que tomava antes de se deitar — e da fome, que ela disfarçava comendo pedacinhos de papel.
A moça tinha hábitos e manias que aliviavam um pouco a solidão e o vazio de sua existência. Entretinha-se ouvindo a Rádio Relógio num aparelho emprestado de uma das colegas. Essa emissora informava a hora certa, transmitia cultura inútil e propaganda, sem nenhuma música. A garota colecionava também anúncios de jornais e revistas, que colava num álbum. Certa vez, cobiçou um creme cosmético, que preferia comer em vez de passar na pele.
Era muito magra e pálida, pois não se alimentava direito. Basicamente vivia de cachorro-quente com Coca-Cola, que comia na hora do almoço, em pé, no balcão de uma lanchonete ou no escritório em que trabalhava. Não sabia o que era uma refeição quente. Seus luxos consistiam em pintar de vermelho as unhas, que roía depois, comprar uma rosa e, quando recebia o salário, ir ao cinema, o que a fazia desejar ser estrela de cinema, como Marilyn Monroe, seu grande sonho.
Certo dia, o chefe de Macabéa, Raimundo, cansado do péssimo trabalho que ela executava, com textos datilografados cheios de erros de ortografia e marcas de gordura, resolve despedi-la. A reação da garota, de se desculpar pelo aborrecimento causado, acaba desarmando Raimundo, que decide mantê-la por mais um tempo.
Num dia 7 de maio, Macabéa mente dizendo que arrancaria um dente e falta ao trabalho para poder aproveitar a liberdade da solidão e fazer algo diferente. Assim que as colegas saem para trabalhar, ela coloca uma música alta, dança, toma café solúvel e até mesmo se dá ao luxo de se entediar. É nesse dia que conhece Olímpico de Jesus, único namorado que teve.
Não foi um namoro convencional. Olímpico também havia migrado do Nordeste, onde matara um homem, fugindo para o Rio de Janeiro. Conseguira emprego numa metalúrgica, o que dá delírios de grandeza em Macabéa. Afinal, ambos tinham profissão: ela era datilógrafa e ele, metalúrgico.
            Mau-caráter e ambicioso, Olímpico morava de favor no trabalho, roubava os colegas e almejava um dia ser deputado. O passeio dos namorados era sempre seguido de chuvas e de programas gratuitos, como sentar-se em bancos de praça para conversar. Nessas ocasiões, Olímpico se irritava com as perguntas que Macabéa fazia, o que a levava constantemente a se desculpar, pois não queria perdê-lo, apesar de seus maus-tratos.
Certo dia, admitindo que ela nunca lhe dava despesa, Olímpico decide pagar um cafezinho para Macabéa no bar da esquina. Avisa, porém, que se o café com leite fosse mais caro, ela pagaria a diferença. Macabéa, emocionada com a "bondade" do namorado, acaba enchendo o copo de açúcar para aproveitar, ficando enjoada depois. Em um passeio ao zoológico, Macabéa fica com tanto medo do rinoceronte que urina na roupa e tenta disfarçar para não desagradar ao namorado. Um dia, vendo que só o chefe e sua colega de escritório, Glória, recebiam telefonemas, Macabéa dá uma ficha telefônica para que Olímpico ligue para ela. Ele se recusa, dizendo que não queria ouvir as "bobagens" dela.
            Até que, após conhecer Glória, Olímpico decide romper com Macabéa para ficar com a sua amiga. O rapaz considera a troca um progresso, já que elas eram opostas: Glória era loira (oxigenada), cheia de corpo, morava numa casa confortável, tinha três refeições por dia e, o mais importante, seu pai era açougueiro, profissão ambicionada por Olímpico.
Após esse episódio, Macabéa vai ao médico e descobre que tem tuberculose, mas não entende muito bem a gravidade da doença. Sente-se bem só por ter ido ao consultório e não acha necessário comprar o medicamento receitado. Com dor na consciência por ter roubado o namorado de Macabéa, Glória a convida para lanchar em sua casa. Macabéa, mais uma vez, aproveita a oportunidade e come demais. Apesar de passar mal, não vomita para não desperdiçar o luxo do chocolate, mas sente remorsos por ter roubado uma rosquinha.
Finalmente, aconselhada por Glória, Macabéa vai até uma cartomante para saber de sua sorte. Lá, é recebida pela própria, Madama Carlota, que impressiona a pobre moça pelo "requinte" de sua residência, repleta de plástico, e pela amabilidade afetada com que a trata. Após Madama Carlota contar sobre sua vida como prostituta e cafetina, lê as cartas para Macabéa, que, emocionada, pela primeira vez vislumbra um futuro e se permite ter esperança. Afinal, iria se casar com um estrangeiro rico, que daria todo o amor de que ela precisava.
Inebriada com as previsões da cartomante, Macabéa atravessa a rua sem olhar e é atropelada por uma Mercedes-Benz. Caída na calçada e sangrando, seu fim é testemunhado por inúmeros espectadores que se aglomeram em torno dela, sem que nenhum ofereça socorro. Por fim, a garota tosse sangue e morre. Havia chegado a hora da estrela. 

Enredo 2
Começa quando o narrador, andando pela rua, capta o olhar de desespero de uma jovem nordestina no meio da multidão. A partir daí, nasce Macabéa, que representa a miséria inerente ao autor e a todas as pessoas. Em uma relação de amor e ódio, Rodrigo S.M. narra a vida dessa moça como tentativa de se livrar da sensação de mal-estar que ela representa e que o contagiava ao mesmo tempo em que se apieda e se revolta, inclusive se sentindo culpado por viver num padrão mais elevado que a maioria da população marginalizada.
Dessa forma, intima o leitor a também se colocar no lugar do outro para experimentar essa miséria e perceber que, no fundo, ela faz parte de todos nós. Por isso, não basta denunciar as mazelas sociais, como a fase anterior do modernismo pregava, mas induzir o leitor a uma epifania, uma revelação, ainda que despertada pela náusea, como nesse caso. 

Enredo 3
Nessa parte, Rodrigo S.M. discute a limitação da literatura diante da busca existencial. Também ironicamente condena os autores de estilo pretensamente original, que abusam de modismos, de adornos que descaracterizam o poder das palavras, bem como a obsessão pelo rigor formal, pela ortografia impecável.
Assim, há na obra diversos recursos metalinguísticos. Essas três narrativas se interligam, não sendo possível separá-las, pois o livro nem mesmo tem divisão por capítulos.

Lista de personagens
Rodrigo S.M.: é o narrador da história e pode ser entendido como uma representação da própria escritora. Ele faz ao longo do livro diversas reflexões sobre o ato de escrever. Sua principal preocupação é em mergulhar na profundidade do ser humano para entender sua natureza. 

Macabéa: personagem principal da obra, é uma moça nordestina (alagoana) de 19 anos, pobre e desleixada. Não tem família e vive com um subemprego no Rio de Janeiro. Sua ignorância é tamanha que não reconhece nem sua própria infelicidade.

Olímpico de Jesus: é o primeiro e único namorado de Macabéa. Também nordestino, mas da Paraíba, não tem escrúpulos e é ambicioso. 

Glória: filha do açougueiro e colega de trabalho de Macabéa. Apesar de não ser bonita, tinha certa sensualidade. Por conta disso, Olímpico deixa Macabéa para ficar com ela. 

Madame Carlota: a cartomante.

Sobre Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 em Tchetchelnik, Ucrânia. Quando tinha cerca de dois meses de idade, seus pais migraram para o Brasil, terra que considerava como sua verdadeira pátria. Em 1924, a família mudou-se para o Recife, onde iniciou seus estudos. Por volta dos oito anos, Clarice perdeu sua mãe. Três anos depois, a família muda-se para o Rio de Janeiro.

Ingressa em 1939 na Faculdade de Direito, e publica no ano seguinte seu primeiro conto, Triunfo, em uma revista. Forma-se em 1943 e casa-se no mesmo ano com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos. Durante seus anos de casada, mora em diversos países pela Europa e nos Estados Unidos.
            Em 1944, publica seu primeiro romance, Perto do coração selvagem, vindo a ganhar o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, no ano seguinte. Separa-se de seu marido em 1959 e volta para o Rio de Janeiro com seus dois filhos. No ano seguinte, publica seu primeiro livro de contos, Laços de família. 
Em 1967, um cigarro provoca um grande incêndio em sua casa e Clarice fica gravemente ferida, correndo risco inclusive de ter sua mão direita amputada. Porém, após se recuperar, continua com sua carreira literária publicando diversos livros.
Publica em 1977 seu último livro, A hora da estrela, vindo a ser internada pouco tempo depois com câncer. A escritora vem a falecer no dia 9 de dezembro do mesmo ano, véspera de seu aniversário de 57 anos.
            Suas principais obras são: "Perto do coração selvagem" (1944), "Laços de família" (1960), "A maçã no escuro" (1961), "A legião estrangeira" (1964), "A paixão segundo G.H." (1964), "Felicidade clandestina" (1971), "Água viva" (1973) e "A hora da estrela" (1977).


Capitães da areia - análise da obra de Jorge Amado

O romance, que retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, procura mostrar não apenas os assaltos e as atitudes violentas de sua vida bestializada, mas também as aspirações e os pensamentos ingênuos, comuns a qualquer criança.

Descaso social e o caráter jornalístico da obra
O romance "Capitães da Areia" começa com uma reportagem fictícia intitulada “Crianças ladronas”. A matéria narra minuciosamente um assalto à casa de um rico negociante, o comendador José Ferreira. De acordo com o texto, o crime fora praticado pelos Capitães da Areia, descritos como “o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe”.
Depois da reportagem, a introdução apresenta uma sequência de cartas de leitores do jornal. As duas primeiras são, respectivamente, do secretário do chefe de polícia (que atribui ao juiz de menores a responsabilidade pelos atos criminosos dos Capitães da Areia) e do juiz de menores (segundo o qual a tarefa de perseguir os menores é do chefe de polícia).
A carta de uma mulher, cujo filho estivera preso no reformatório, narra os horrores que eram praticados ali contra os menores infratores. Outra, do padre José Pedro (importante personagem e aliado dos garotos injustiçados), confirma a denúncia anterior, citando sua experiência no reformatório. O padre visitava o local para levar conforto espiritual aos meninos. A última carta – e a última palavra –, porém, é a do diretor do reformatório. Em seu texto, o diretor nega os maus-tratos dispensados aos menores na instituição que dirige, o que é uma hipocrisia, como se poderá observar no decorrer do livro.
Essa forma de início da obra é eloquente. Pode-se ver, na recriação literária de matérias jornalísticas, a tentativa de dar à história do grupo de meninos um caráter verídico e, ao mesmo tempo, demonstrar o que há de ficção nas reportagens publicadas. Ou seja, apesar de ser um romance, Capitães da Areia revela uma situação social real. De outro lado, as notícias veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos interesses das classes sociais mais ricas, podem estar permeadas de elementos mentirosos.
            O descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou da dos adultos que estão a seu lado, como o padre José Pedro e o capoeirista Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do narrador.
O enredo, sobretudo no início, tem a função de caracterizar os personagens. Pode-se dizer que busca apresentar os Capitães da Areia, revelando a personalidade de cada integrante do grupo, suas ambições e frustrações.
Dos vários capítulos que compõem o romance, alguns são particularmente significativos. Em “As Luzes do Carrossel”, o bando, conhecido pela periculosidade, esbalda-se ao brincar em um decadente carrossel. Desde o líder, Pedro Bala, passando pelos seus mais destacados membros, a grande maioria se diverte de forma pueril no velho brinquedo.
Essa passagem é importante por fazer o contraponto à opinião vigente na alta sociedade baiana em relação aos Capitães da Areia. A visão de que os garotos eram bandidos sem recuperação, que deveriam ser tratados de forma desumana no reformatório, é confrontada com essa situação. Ao mostrar os garotos divertindo-se no “Grande Carrossel Japonês”, o narrador mostra a essência dos personagens do livro. Pedro Bala e seus comandados são apenas crianças socialmente desamparadas.

Ausência da figura materna
Outro capítulo que merece destaque é “Família”. Aqui, é mostrada a carência afetiva de um dos membros do grupo, o Sem-Pernas. O menino manco tinha grande talento para a dissimulação, por isso se especializara na tarefa de espião do bando. Ele se infiltrava na casa de famílias ricas, apresentando-se como pobre órfão que pedia um lugar para morar. Quando obtinha sucesso na empreitada, observava onde os moradores guardavam seus bens valiosos e informava o bando, que, dias depois, invadia a casa e a roubava. 
Nesse capítulo, no entanto, Sem-Pernas é acolhido de forma sincera e amorosa pelos donos da casa, que o veem como o filho que havia morrido. Sem-Pernas vive então um conflito interno. Tratado como um verdadeiro filho, o garoto fica dividido entre a lealdade ao bando que o acolheu e os novos “pais” que lhe davam o carinho e o amor que nunca havia conhecido. Opta pela lealdade ao grupo, que invade e saqueia a casa.
Sem-Pernas é o personagem mais revoltado do bando, o integrante que menos demonstra capacidade de amar e de receber amor do próximo. Quando o narrador revela sua real necessidade de amor, acaba por transferir essa necessidade para todo o bando. Isso reforça a idéia de que são crianças para as quais falta a atenção das famílias e do Estado, e não simplesmente marginais que optaram por uma vida de crimes.
O capítulo “Dora, Mãe” deixa claro que os meninos, precocemente atirados à vida adulta, sentiam falta de uma figura materna que os embalasse e os consolasse. Os Capitães da Areia conheciam o sexo, praticado em geral com as “negrinhas do areal”. Por isso, quando Dora, uma menina de 13 anos, entra no trapiche em que vivem, todos a cercam com intenções libidinosas. Protegida pelo Professor, mas, sobretudo, por João Grande, Dora acabou conquistando o respeito dos meninos, que passaram a enxergar nela a figura materna havia muito ausente na vida deles. O primeiro a vivenciar esse sentimento é o Gato. Ao pedir a ela costure um caro paletó de casimira, sente as unhas de Dora em suas costas e lembra-se de Dalva, sua amante, mas logo reflete sobre a distinção: enquanto Dalva arranhava suas costas para despertar-lhe a libido, Dora o fazia apenas com o instinto materno de vê-lo bem vestido. O mesmo sentimento acaba sendo despertado em Volta Seca, Pirulito e nos demais Capitães da Areia, exceto o Professor e Pedro Bala. Este último iria amá-la, no futuro, como esposa. 

Comentário do professor
"Capitães da Areia" foi publicado por Jorge Amado em 1937 e narra a história de um grupo de garotos de rua que se unem para assaltar pessoas e residências em Salvador. Segundo o professor Marcílio Lopes Couto, do Colégio Anglo, Jorge Amado tem uma visão piedosa dessas crianças, destacando que elas cometem os crimes porque são abandonadas. Não que ele apoie o roubo, mas é simpático aos garotos e tenta retratar as causas da situação.
Entre as personagens do livro, ele destaca Pedro Bala, líder do grupo de garotos e protagonista da história. “Ele passa de menino de rua a trabalhador engajado por melhores condições de vida e de trabalho. É o fio condutor da história”, declara Couto.
Outras personagens lembradas por Couto são Dora – amada de Pedro, que morre muito doente e abala o protagonista – e o padre José Pedro – que tenta levar os meninos para o caminho do bem e, apesar de não conseguir, trata-os com mais apreço que ninguém.
Pensando na prova do vestibular, o professor Marcílio Lopes comenta que é sempre possível que o vestibular peça paralelos com a atualidade, mas o mais comum é pedir paralelos entre as obras obrigatórias. Assim, ele elenca algumas dessas relações.
A primeira é com Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos – trabalho contemporâneo ao de Jorge Amado. Os dois livros abordam problemas sociais: Vidas Secas aponta mazelas da realidade rural, enquanto Capitães da Areia foca a realidade urbana, diferencia o professor.
O professor Couto destaca ainda que o texto de Amado pode aparecer no vestibular relacionado a problemas atuais de moradia, o que também pode ocorrer com outra obra exigida pela Fuvest, O Cortiço (1890), de Aluísio de Azevedo. “Esses dois livros apontam diretamente para a questão urbana”, afirma o professor.
            Já o livro de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (1901), guarda relação mais sutil com os conflitos da vida em cidades, lembra Couto. Segundo o professor, esse romance mostra a transição na vida de um homem (Jacinto) que vivia rodeado por riqueza em uma grande cidade (Paris), mas, infeliz, larga tudo para viver no campo português, onde encontra a felicidade.
Por fim, o professor relaciona Pedro Bala, de Capitães da Areia, a Leonardinho, protagonista de (1854). Ambos são anti-heróis, porque ocupam o centro das histórias e são caracterizados negativamente. Bala é um menino assaltante, Leonardinho, um malandro, que vive de bicos e não tem família constituída.



Grande Sertão: Veredas - Análise da obra de Guimarães Rosa
A obra, uma das mais importantes da literatura brasileira, é elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo presentes no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor reprimido por Diadorim.
            O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.

Leia o resumo de Grande Sertão: Veredas

Narrador
            O foco narrativo de "Grande Sertão: Veredas" está em primeira pessoa. Riobaldo, na condição de rico fazendeiro, revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas. A narrativa, longa e labiríntica, por causa das digressões do narrador, simula o próprio sertão físico, espaço onde se desenrola toda a história.
A obra, na verdade, apresenta o diálogo entre Riobaldo e um interlocutor, que não se manifesta diretamente. Portanto, só é possível identificá-lo e caracterizá-lo por meio dos próprios comentários feitos por Riobaldo.

Tempo
            Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura: 

1ª parte: introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra. 

2ª parte: inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joça Ramiro. 

3ª parte: a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.

4ª parte: conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”. 

5ª parte: epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito. 

Espaço
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência. 
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.

Chapadão do Urucúia: local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.

Fazenda dos Tucanos: espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.

Liso do Sussuarão: local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e consequente retirada.

Local da narração: fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé. 

Paredão: espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra. 

Veredas Mortas: local do possível pacto de Riobaldo.
Comentário do professor
Comentário do prof. Charles Casemiro, da Oficina do Estudante:
"Grande Sertão: Veredas" é uma narrativa do pós-modernismo brasileiro (geração de 45). Consiste em um longo diálogo/monólogo em que o protagonista, Riobaldo, velho jagunço que trocara a vida da jagunçagem pela tranquilidade da fazenda, narra a sua vida a um jovem doutor que chegou a suas terras. O texto nos dá apenas pistas sobre as reações do ouvinte-doutor sem, porém, permitir nenhuma fala.
O núcleo das memórias do narrador Riobaldo não é, todavia, sua aventura na jagunçagem, mas, principalmente, o caso amoroso que manteve com Maria Deodorina da Fé Betancourt Marins, a Diadorim, que, sendo filha única de um fazendeiro-jagunço, Joca Ramiro, travestiu-se de homem para viver em meio aos jagunços.
            O outro núcleo da história mostra como Hermógenes, um dos jagunços acabou matando o chefe do bando Joca Ramiro, fugindo depois com uma parte da jagunçagem. Riobaldo assumiu então a direção do grupo que restou, tomando como braço direito "o seu Diadorim". Buscando justiça e vingança, Riobaldo se propõe a dar a alma ao diabo em troca de encontrar e matar Hermógenes. O que ocorreu.
Nessa obra de Rosa, "o sertão é o mundo" e, de modo especial, um mundo que pode ser registrado, manipulado e transformado: é um mundo mítico, ativo, interativo. Se o interesse especial de Rosa pelo espaço natural e cultural do sertanejo salta aos olhos dos leitores em cada trecho de sua obra, esse interesse, porém, aparece, não ocasionalmente, apenas como o fio da meada, como pretexto apenas para uma discussão maior sobre o ser humano e sobre o mundo, na verdade, sobre a relação sempre tensa, que se estabelece entre o ser humano e o mundo.
Existe, nesse sentido, uma ponte de ligação, de transcendência entre o regional sertanejo e o universal humano na obra rosiana que, muito propriamente, se dá no campo da linguagem e não apenas nos outros campos. A linguagem de Rosa constitui assim um universo novo, ao passo que reinventa a vida sertaneja, as falas sertanejas, as angústias, as felicidades, as descobertas, os encontros e os desencontros sertanejos e humanos. Mais diretamente, podemos dizer que, para Guimarães Rosa, o sertão é um mundo – um espaço existencial – e um mundo confundido com linguagem original, poética e criadora, no sentido de que tudo pode ser visto – espaço e linguagem – como universo ainda virgem, de puro de sentido.
Das cenas rosianas brotam espaços existenciais, interativos, vivos, por vezes personificados, verdadeiramente panteístas; brota um universo folclórico, cercado de transcendência; brota a vida enquanto existência exterior e interior, e a morte enquanto limitação; brotam assim belos, o amor, a comunhão, os rompimentos, os medos, as certezas, as angústias, as esperanças, as desilusões, as descobertas, as perdas, Deus, o Demônio, o bem e o mal, as tensões entre o sujeito sertanejo e o sertão, entre o sujeito sertanejo e o outro, entre o sertão e o mundo, entre o mundo e a linguagem.


Memórias de um Sargento de Milícias - Resumo da obra de Manuel Antônio de Almeida

O romance de Manuel Antônio de Almeida, escrito no período do romantismo, retrata a vida do Rio de Janeiro no início do século XIX e desenvolve pela primeira vez na literatura nacional a figura do malandro.

Leia a análise Memórias de um Sargento de Milícias

Resumo
Por ser originariamente um folhetim, publicado semanalmente, o enredo necessitava prender a atenção do leitor, com capítulos curtos e até certo ponto independentes, em geral contendo um episódio completo. A trama, por isso, é complexa, formada de histórias que se sucedem e nem sempre se relacionam por causa e efeito.
“Filho de uma pisadela e de um beliscão” (referência à maneira como seus pais flertaram, ao se conhecer no navio que os conduz de Portugal ao Brasil), o pequeno Leonardo é uma criança intratável, que parece prever as dificuldades que irá enfrentar. E não são poucas: abandonado pela mãe, que foge para Portugal com um capitão de navio, é igualmente abandonado pelo pai, mas encontra no padrinho seu protetor. Esse é dono de uma barbearia e tem guardada boa soma em dinheiro.
Enquanto o pequeno Leonardo apronta as suas diabruras pela vizinhança, seu pai, Leonardo Pataca, se envolve amorosamente com a Cigana, mas essa o abandona logo. Ele, então, recorre à feitiçaria (proibida naquela época) para tentar trazê-la de volta. Porém, no auge da cerimônia o major Vidigal e seus homens invadem a casa do feiticeiro, açoitam os praticantes e levam Leonardo Pataca preso. Ele pede socorro à Comadre, que pede ajuda a um Tenente-Coronel que se considerava em dívida com a família de Pataca, e ele logo é solto.
Já o Compadre (ou padrinho) que cuidava do menino Leonardo havia aprendido o ofício de barbeiro com o homem que o criara. Foi para a África como médico em um navio negreiro e, durante a volta, o capitão em seu leito de morte lhe confiou um baú de dinheiro para que o entregasse a sua filha. Ele, porém, ficou com o dinheiro. Após isso aparenta ter se tornado um homem de bem e cria o Leonardo como se fosse um filho, sonhando em torna-lo padre. O menino, porém, causa transtornos por qualquer lugar onde passa e, após levar uma enorme bronca do padre da cidade, jura vingança.
O padre era um homem que aparentava ser santo, mas na realidade era um lascivo e fora ele quem roubara a Cigana de Leonardo Pataca. Como o padre passava boa parte de seu tempo na casa dela, um dia o menino Leonardo resolve armar uma emboscada para desmascará-lo. Ele vai até a casa da Cigana para informar o horário de uma festa, mas ele mente o horário para que o padre chegue atrasado. Quando por fim chegou à igreja, o padre repreende ao menino perguntando-lhe qual era a hora certa do sermão. Leonardo, então, diz que falou o horário correto e que a Cigana estava de prova, pois ouviu tudo. Sem saber o que fazer frente ao choque de todos, ele dispensa o menino.
Leonardo Pataca, ao saber que havia sido trocado pelo padre, resolve tentar conquistar Cigana novamente. Ela, porém, não dá bola para ele. Para se vingar, ele contrata um amigo para causar uma confusão em uma festa que ela iria promover em sua casa. No momento da bagunça Vidigal, que já havia sido avisado por Pataca, aparece e prende o padre em flagrante, somente de cueca, meia, sapato e gorrinho na cabeça. Com isso, Leonardo Pataca consegue ficar mais um tempo com a Cigana.
O Compadre passou a frequentar a casa de D. Maria, uma rica mulher com gosto pelo Direito, sempre acompanhado do afilhado Leonardo. Com o tempo o menino foi sossegando, até que chegou a idade dos amores. Luisinha, uma menina descrita como feia e que era filha do recém-falecido irmão de D. Maria, foi morar com a tia. No dia da festa do Espírito Santo foram todos ver a queima de fogos. A menina se divertiu, abraçou Leonardo pelas costas e no final os dois voltaram de mãos dadas. Após isso, porém, Luisinha voltou a ficar tímida.
Um dia entra em cena José Manuel, homem mais velho que fica interessado em Lusinha por conta da herança que ela havia recebido do pai e que iria receber de D. Maria, já que ela era a única herdeira. O Compadre, percebendo os interesses de José Manuel, se junta à Comadre para tentar espantar o interesseiro. Enquanto isso, Leonardo tenta conquistar Luisinha, mas ele acaba saindo muito sem jeito e acaba espantando ela. Porém, fica claro que Luisinha também gosta de Leonardo. Para tentar afastar José Miguel, a Comadre inventa uma série de mentiras, que logo são descobertas. Então, D. Maria, ao invés de expulsar José, acaba se afastando da Comadre, agora desacreditada.
Enquanto isso, novamente traído pela Cigana, Leonardo Pataca junta-se com a filha da Comadre e têm um filho juntos. Pouco depois o Comadre morre e Leonardo vai morar junto com o pai. Porém, ele e sua madrasta não conseguem se entender e, após muitas brigas, ele foge de casa. Afastado de todos, Leonardo conhece um grupo que estava fazendo piquenique e reconhece dentre eles um amigo seu de infância.
            Leonardo passa a morar junto com eles na Rua da Vala. Lá vivem duas quarentonas viúvas e seus seis filhos, sendo que uma tinha três rapazes e outra três moças. Vidinha era a mais bonita e era disputada por dois primos. Porém, ela acaba se enamorando com Leonardo e os dois passam o dia namorando dentro de casa, o que desperta ciúmes dos outros rapazes. Esses, por sua vez, vão falar para Vidigal que Leonardo está vivendo como intruso na casa e tirando proveito das mulheres. Num dia, Vidigal aparece e leva Leonardo preso, mas esse consegue fugir.
A Comadre arruma um emprego para Leonardo na ucharia real, mas ele se envolve com a esposa do patrão e acaba despedido. Vidinha vai até a casa de Toma Largura, ex-patrão de Leonardo, para brigar com ele e com sua esposa. Enquanto isso, Vidigal consegue prender Leonardo. Acontece que Toma Largura ficou encantado com Vidinha e começa a cerca-la de todas as formas. A moça, encarando a ausência de Leonardo como consequência das últimas brigas, resolve ceder à insistência de Toma Largura.
            Obrigado pela polícia, Leonardo começa a servir ao exército. Depois de um tempo, Vidigal o coloca no batalhão de granadeiros para combater os malandros do Rio. Porém, ao contrário do que ele pensava, Leonardo continua aprontando dentro do próprio batalhão de polícia. Na última delas, Vidigal planejava prender um homem que fazia imitações suas para animar festas. Mas Leonardo acaba se divertindo com as graças do imitador e o avisa das intenções de Vidigal. Quando o major descobre a traição de Leonardo, prende o moço sob juramento de algumas chibatadas.
A Comadre fica sabendo disso e vai pedir ajuda à D. Maria e à Maria Regalada, antiga amante de Vidigal. Elas vão até a casa do major, que as recebe com roupa civil da cintura para baixo e farda da cintura para cima. Não conseguindo resistir aos pedidos das três mulheres, Vidigal perdoa Leonardo e ainda promete promove-lo à sargento do exército.
Enquanto tudo isso acontecia, Luisinha estava casada com José Manuel, que a tratava mal e só se preocupava com o dinheiro da moça. D. Maria resolve preparar uma ação judicial contra o homem, mas ele acaba morrendo vítima de um ataque apopléctico (parecido com um derrame). Após o enterro de José Manuel, preparam tudo para o casamento de Luisinha, agora uma mulher feita e bonita, com Leonardo, bonito e muito elegante em sua farda de sargento do exército. Algum tempo depois, D. Maria e Leonardo Pataca também morrem e, junto com as outras heranças que já tinham, receberam mais duas.

Lista de personagens
Leonardo: protagonista que garante unidade à narrativa. O sargento de milícias a que se refere o título da obra é Leonardo, embora o personagem obtenha esse cargo somente nas últimas páginas do livro.
Leonardo Pataca: pai de Leonardo, um meirinho (oficial de Justiça) que fora vendedor de roupas em Lisboa e, durante sua viagem ao Brasil, conhece Maria das Hortaliças, o que resultará no nascimento de Leonardo.

Maria das Hortaliças: mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa) muito namoradeira, que abandona o filho para ficar com outro homem. 

O Compadre ou O Padrinho: é dono de uma barbearia e toma a guarda de Leonardo após os pais abandonarem a criança. Torna-se um segundo pai para ele. 

A Comadre ou A Madrinha: mulher gorda e bonachona, apresentada como ingênua, frequentadora assídua de missas e festas religiosas. 

Major Vidigal: homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo enérgico e centralizado. 

Dona Maria: mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha aspecto bem-cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício das demandas (disputas judiciais). 

Luisinha: sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem graça, se transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga encantadora. 

Vidinha:
 mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções de Leonardo.

Sobre Manuel Antônio de Almeida
            Manuel Antônio de Almeida nasceu em 17 de novembro de 1830 na cidade do Rio de Janeiro. Enquanto fazia a Faculdade de Medicina começou a carreira de jornalista levado por dificuldades financeiras. Formou-se em 1855, mas nunca chegou a exercer a profissão de médico.
Durante 1852 e 1853 publicou anonimamente (assinava como “um Brasileiro”) os folhetins que dariam origem ao livro Memórias de um Sargento de Milícias (1854-55). Na terceira edição, que saiu postumamente em 1863, o nome verdadeiro do autor passou a constar na obra. Ainda durante essa mesma época, publicou uma peça, alguns poemas, um libreto de ópera e escreveu sua tese de Doutorado em Medicina.
            Em 1858 foi nomeado Administrador da Tipografia Nacional, onde conheceu Machado de Assis. Em 1859 é nomeado 2º Oficial da Secretaria da Fazenda e, no dia 28 de novembro de 1861, acaba falecendo no naufrágio do navio Hermes.
            Seu único livro é "Memórias de um Sargento de Milícias" (1852), mas publicou também diversos contos, crônicas, poesias e ensaios. Além disso, escreveu uma peça teatral chamada "Dois Amores" (1961).


Memórias Póstumas de Brás Cubas – análise da obra de Machado de Assis

Ao criar um narrador que resolve contar sua vida depois de morto, Machado de Assis muda radicalmente o panorama da literatura brasileira, além de expor de forma irônica os privilégios da elite da época.

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Leia o resumo de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis

Narrador
A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém. 

Foco Narrativo
Com a narração em primeira pessoa, a história é contada partindo de um relato do narrador-observador e protagonista, que conduz o leitor tendo em vista sua visão de mundo, seus sentimentos e o que pensa da vida. Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos permitirão ter acesso aos bastidores da sociedade carioca do século XIX. 

Tempo
            A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária, com digressões e manipulando os fatos à revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por exemplo, é contada antes do nascimento e dos fatos da vida.
            No tempo cronológico, os acontecimentos obedecem a uma ordem lógica: infância, adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte. A estranheza da obra começa pelo título, que sugere as memórias narradas por um defunto. O próprio narrador, no início do livro, ressalta sua condição: trata-se de um defunto-autor, e não de um autor defunto. Isso consiste em afirmar seus méritos não como os de um grande escritor que morreu, mas de um morto que é capaz de escrever.
O pacto de verossimilhança sofre um choque aqui, pois os leitores da época, acostumados com a linearidade das obras (início, meio e fim), veem-se obrigados a situar-se nessa incomum situação.

Não-realizações
Publicado em 1881, o livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador. 
O romance não apresenta grandes feitos, não há um acontecimento significativo que se realize por completo. A obra termina, nas palavras do narrador, com um capítulo só de negativas. Brás Cubas não se casa; não consegue concluir o emplasto, medicamento que imaginara criar para conquistar a glória na sociedade; acaba se tornando deputado, mas seu desempenho é medíocre; e não tem filhos.
            A força da obra está justamente nessas não-realizações, nesses detalhes. Os leitores ficam sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer. Ao fim, o que permanece é o vazio da existência do protagonista. É preciso ficar atento para a maneira como os fatos são narrados. Tudo está mediado pela posição de classe do narrador, por sua ideologia. Assim, esse romance poderia ser conceituado como a história dos caprichos da elite brasileira do século XIX e seus desdobramentos, contexto do qual Brás Cubas é, metonimicamente, um representante.
O que está em jogo é se esses caprichos vão ou não ser realizados. Alguns exemplos: a hesitação ao começar a obra pelo fim ou pelo começo; comparar suas memórias às sagradas escrituras; desqualificar o leitor: dar-lhe um piparote, chamá-lo de ébrio; e o próprio fato de escrever após a morte. Se Brás Cubas teve uma vida repleta de caprichos, em virtude de sua posição de classe, é natural que, ao escrever suas memórias, o livro se componha desse mesmo jeito.
O mais importante não é a realização ou não dessas veleidades, mas o direito de tê-las, que está reservado apenas a uns poucos da sociedade da época. Veja-se o exemplo de Dona Plácida e do negro Prudêncio. Ambos são personagens secundários e trabalham para os grandes. A primeira nasceu para uma vida de sofrimentos: “Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado pro outro, na faina, adoecendo e sarando…”, descreve Brás. Além da vida de trabalhos e doenças e sem nenhum sabor, Dona Plácida serve ainda de álibi para que Brás e Virgília possam concretizar o amor adúltero numa casa alugada para isso.
Com Prudêncio, vê-se como a estrutura social se incorpora ao indivíduo. Ele fora escravo de Brás na infância e sofrera os espancamentos do senhor. Um dia, Brás Cubas o encontra, depois de alforriado, e o vê batendo num negro fugitivo. Depois de breve espanto, Brás pede para que pare com aquilo, no que é prontamente atendido por Prudêncio. O ex-escravo tinha passado a ser dono de escravo e, nessa condição, tratava outro ser humano como um animal. Sua única referência de como lidar com a situação era essa, afinal era o modo como ele próprio havia sido tratado anteriormente. Prudêncio não hesita, porém, em atender ao pedido do ex-dono, com o qual não tinha mais nenhum tipo de dívida nem obrigação a cumprir. 
Os personagens da obra são basicamente representantes da elite brasileira do século XIX. Há, no entanto, figuras de menor expressão social, pertencentes à escravidão ou à classe média, que têm significado relevante nas relações sociais entre as classes. Assim, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", além de seu enorme valor literário, funciona como instrumento de entendimento desse aspecto social de nossas classes, como se verá adiante nas caracterizações de Dona Plácida e do negro Prudêncio. 
A sociedade da época se estruturava a partir de uma divisão nítida. Havia, de um lado, os donos de escravos, urbanos e rurais, que constituíam a classe mandante do país. Estão representados invariavelmente como políticos: ministros, senadores e deputados. De outro, a escravidão é a responsável direta pelo trabalho e pelo sustento da nação e, por assim dizer, das elites. No meio, há uma classe média formada por pequenos comerciantes, funcionários públicos e outros servidores, que são dependentes e agregados dos favores dos grandes privilegiados.

Comentário do professor
O prof. Roberto Juliano, do Cursinho da Poli, ressalta que "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é uma obra que revolucionou o romance brasileiro. De cunho realista, mas sem ter as características da crítica agressiva de outros escritores do Realismo (como Eça de Queirós em Portugal), a força da obra de Machado de Assis está na crítica sutil e na grande inteligência do autor. Ao contrário do já citado escritor português Eça de Queirós, que batia de frente com a burguesia, em Memórias Póstumas a crítica é feita focando a burguesia por dentro, ou seja, o escritor parte de um ponto de vista mais psicológico. Através disso, consegue-se fazer um combate ao Romantismo em sua essência através de personagens verossímeis que cabe ao leitor julgar e colocando-se em reflexão, por exemplo, a questão da ociosidade burguesa.
            Além disso, o prof. Roberto chama a atenção para o fato de que com esta obra Machado de Assis revolucionou o formato do romance através da subversão de padrões do Romantismo. Se no romance é de praxe escrever uma dedicatória, por exemplo, ele o faz a um verme; ao verme que o corroeu. Outro ponto que pode ser citado como exemplo é a quantidade de capítulos do livro. Se era comum ter cerca de trinta capítulos em um romance, Machado de Assis faz um livro que ultrapassa cem capítulos. Porém, alguns deles são extremamente curtos ou são vazios. O aluno deve, então, ficar atento a estes aspectos formais e em como se faz uma crítica social na obra, finaliza o prof. Roberto.


O Cortiço - Resumo da obra de Aluísio de Azevedo

Tendo como cenário uma habitação coletiva, o romance difunde as teses naturalistas, que explicam o comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico.

Leia a análise de O Cortiço

Resumo
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de relações entre os dois.
Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar uma posição social reconhecida, frequentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa.
No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos.
A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival, João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos. 
O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João Romão.
O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado. 
Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada, Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão.

Lista de personagens

Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de tipos sociais. Os principais são: 

João Romão: taverneiro português, dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador.

Bertoleza: quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina.

Miranda:
 comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num sobrado aburguesado, ao lado do cortiço. 

Jerônimo: português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho.

Rita Baiana:
 mulata sensual e provocante que promove os pagodes no cortiço. Representa a mulher brasileira.

Piedade:
 portuguesa que é casada com Jerônimo. Representa a mulher europeia. 

Capoeira Firmo: mulato e companheiro que se envolve com Rita Baiana. 
Arraia-Miúda: representada por lavadeiras, caixeiros, trabalhadores da pedreira e pelo policial Alexandre.

Sobre Aluísio de Azevedo
Aluísio de Azevedo nasceu em São Luís, Maranhão, em 14 de abril de 1857. Após concluir seus estudos na terra natal, transfere-se em 1876 para o Rio de Janeiro, onde prossegue seus estudos na Academia Imperial de Belas-Artes. Começa, então, a trabalhar como caricaturista para jornais.
            Com o falecimento do pai em 1879, Aluísio de Azevedo retorna ao Maranhão para ajudar a sustentar a família, época em que dá início à carreira literária movido por dificuldades financeiras. Assim, publica em 1880 seu primeiro livro, Uma lágrima de mulher. Com a questão abolicionista ganhando cada vez mais espaço no final do século XIX, publica em 1881 o romance "O mulato", obra que inaugurou o Naturalismo no Brasil e que escandalizou a sociedade pelo modo cru com que trata a questão racial. Devido ao sucesso que a obra obteve na corte, Aluízio volta à capital imperial e passa a exercer o ofício de escritor, publicando diversos romances, contos e peças de teatro.
Em 1910 instala-se em Buenos Aires trabalhando como cônsul e vem a falecer três anos depois nessa mesma cidade em 21 de janeiro de 1913. 
Suas principais obras são: "O mulato" (1881), "Casa de pensão" (1884) e "O cortiço" (1890).



Sagarana - Resumo da obra de Guimarães Rosa

Primeira obra de Guimarães Rosa a sair em livro, traz nove contos, nos quais o universo do sertão, com seus vaqueiros e jagunços, surge no estilo marcante que o escritor iria aprofundar em textos posteriores.

- Leia a análise de Sagarana


Elementos estruturais e resumos
Os narradores de "Sagarana" têm o estilo marcante criado por Guimarães Rosa, cuja principal característica é a oralidade. No entanto, esse traço ainda não está tão acentuado como em obras posteriores, como "Grande Sertão: Veredas" e "Primeiras Estórias", entre outras. Considerando que a oralidade acentuada é um dos principais obstáculos para a leitura de Guimarães Rosa, o livro "Sagarana" é uma excelente opção para iniciar-se na obra do autor.
Em relação ao foco narrativo, com exceção dos contos “Minha Gente” e “São Marcos” – que são narrados em primeira pessoa –, os demais possuem narradores em terceira pessoa. Quanto ao tempo e ao espaço de "Sagarana", pouco há o que ser dito. Sobre o primeiro elemento, vale destacar a linearidade da narrativa, que se desenvolve na maior parte sob o tempo psicológico dos personagens.
O espaço é quase sempre Minas Gerais. Mais especificamente, o interior do estado. Vale uma atenção maior para o nome dos povoados e vilarejos dos contos. Os estados de Goiás e do Rio de Janeiro são mencionados no livro, mas têm pouca relevância na narrativa. 

“O burrinho pedrês” 
Enredo: Sete-de-Ouros é um burrinho decrépito que já fora bom e útil para seus vários donos. Esquecido na fazenda do Major Saulo, tem o azar de ser avistado numa travessia pelo dono da fazenda, que o escala para ajudar no transporte do gado. Na travessia do Córrego da Fome, todos os cavalos e vaqueiros morrem, exceto dois: Francolim e Badu; este montado e aquele agarrado ao rabo do Burrinho Sete-de-Ouros.
            Principais personagens: Sete-de- Ouros (burrinho pedrês), Major Saulo, Francolim e Badu. 

“A volta do marido pródigo” 
Enredo: Lalino é um típico malandro que não aprecia o trabalho, apenas a boa vida. Abandona o serviço na estrada de ferro e vai para o Rio de Janeiro, largando sua mulher, Maria Rita, a Ritinha, na região. No retorno, a encontra casada com o espanhol Ramiro. Torna-se cabo eleitoral do Major Anacleto, que, graças a ele, ganha a eleição. Laio, como também é conhecido, reconcilia-se com Maria Rita no fim do conto.
Principais personagens: Lalino Salathiel, Maria Rita, Ramiro e Major Anacleto.

“Sarapalha” 
Enredo: a história de dois primos, Ribeiro e Argemiro, contagiados pela malária que se espalhou no vau de Sarapalha. Os dois estão solitários na região, já que parte da população morrera e os demais fugiram, entre os quais a mulher de Ribeiro, Luísa. Argemiro, percebendo a iminência da morte e desejando ter a consciência tranquila, confessa o interesse pela esposa do primo. Ribeiro reage à confissão de forma agressiva e expulsa Argemiro de suas terras, sem nenhuma complacência.
Principais personagens: Primo Ribeiro e Primo Argemiro. 

“Duelo” 
Enredo: Turíbio flagra sua mulher, Silvana, com o ex-militar Cassiano Gomes. Ao procurar vingar sua honra, confunde-se e acaba matando o irmão de Cassiano Gomes. Turíbio foge para o sertão e é perseguido pelo ex-militar. Nessa disputa, os dois alternam os papéis de caça e de caçador. Cassiano adoece e, antes de morrer, ajuda um capiau chamado Vinte-e-um, que passava por dificuldades financeiras. Turíbio volta para casa e é surpreendido por Vinte-e-um, que o executa para vingar seu benfeitor.
            Principais personagens: Turíbio Todo, Cassiano Gomes, Silvana e Vinte-e-um. 

“Minha gente”
Enredo: Emílio visita a fazenda de seu tio, candidato às eleições, e apaixona-se por sua prima Maria Irma, mas não é correspondido. Ela se interessa por Ramiro, noivo de outra moça. Emílio finge-se enamorado de outra mulher. O plano falha, mas a prima apresenta-lhe sua futura esposa, Armanda. Maria Irma casa-se com Ramiro Gouveia.
Principais personagens: Emílio (narrador), Maria Irma, Ramiro Gouveia e Armanda.

“São Marcos” 
Enredo: José, narrador-personagem, é supersticioso, mas mesmo assim zomba dos feiticeiros do Calango-Frito, em especial de João Mangolô. Izé, como é conhecido o protagonista, recita por zombaria a oração de São Marcos para Aurísio Manquitola e é duramente repreendido por banalizar uma prece tão poderosa.    
Certo dia, caminhando no mato, Izé fica subitamente cego e passa a se orientar por cheiros e ruídos. Perdido e desesperado, recita a oração de São Marcos. Guiando-se pela audição e pelo olfato, descobre o caminho certo: a cafua de João Mangolô. Lá, irado, tenta estrangular o feiticeiro e, ao retomar a visão, percebe que o negro havia colocado uma venda nos olhos de um retrato seu para vingar-se das constantes zombarias.
Principais personagens: José, ou Izé (narrador), Aurísio Manquitola e João Mangolô.

“Corpo fechado” 
Enredo: Manuel Fulô, falastrão que se faz de valente, é dono de uma mula cobiçada pelo feiticeiro Antonico das Pedras-Águas. Este, por sua vez, tem uma sela cobiçada por Manuel. Enquanto o protagonista se gaba de pretensas valentias, o verdadeiro valentão Targino aparece e anuncia que dormirá com sua noiva. Desesperado, Manuel recebe a visita do feiticeiro, que promete fechar-lhe o corpo em troca da mula. Após o trato, há o duelo entre os dois personagens; o feitiço parece funcionar e Manuel vence a porfia.
Principais personagens: Manuel Fulô, feiticeiro Antonico das PedrasÁguas e Targino.

“Conversa de bois”
Enredo: conta a viagem de um carro de bois que leva uma carga de rapadura e um defunto. Vai à frente Tiãozinho, o guia, chorando a morte do pai, ali transportado, e Didico. Tiãozinho, que se tornara dependente de Soronho, angustiava- se com este por dois motivos: ele maltratava os bois e havia desfrutado os amores de sua mãe durante a doença do pai.
Paralelamente, o boi Brilhante conta aos outros a história do boi Rodapião, que morrera por ter aprendido a pensar como os homens. Há uma indignação entre os animais em relação aos maus-tratos que os humanos lhes infligem. Agenor, para exibir a Tiãozinho seus talentos como carreiro, obriga, de forma cruel, os bois a superar a ladeira onde a carroça de João Bala havia tombado. Superado o obstáculo, os bois aproveitam-se do cochilo de Agenor e puxam bruscamente a carroça, matando seu algoz.
Principais personagens: Tiãozinho, Didico, Agenor, Soronho e o boi Brilhante. 

“A hora e a vez de Augusto Matraga”
Enredo: Augusto Estêves manda e desmanda no pequeno povoado em que vive. Pródigo, com a morte do pai perde todos os seus bens. Certo dia, Quim Recadeiro dá-lhe dois recados que alterarão sua vida: perdera os capangas para seu inimigo, o Major Consilva, e a mulher e a filha, que fugiram com Ovídio Moura.
Augusto Estêves vai sozinho à propriedade do major para tomar satisfação com seus ex-capangas. O Major Consilva ordena que Nhô Augusto seja marcado a ferro e depois morto. Ele é espancado à exaustão; depois os homens esquentam o ferro usado para marcar o gado do major e queimam o seu glúteo. Augusto, desesperado, salta de um despenhadeiro.
Quase morto, o protagonista é encontrado por um casal de pretos, que cuida dele e chama um padre para seu alívio espiritual. Nhô Augusto decide que sua vida de facínora chegara ao fim. Recuperado, foge com os pretos para a única propriedade que lhe restara, no Tombador. Trabalha de sol a sol para os habitantes e para o casal que o salvara, em retribuição a tudo que fizeram por ele. Leva uma vida de privações e árduo trabalho, com a finalidade de purgar seus pecados e, assim, ir para o céu.
Um dia, aparece na cidade o bando de Joãozinho Bem-Bem, o mais temido jagunço do sertão. Nhô Augusto e o famigerado jagunço tornam-se amigos à primeira vista e, depois da breve estada, despedem-se com pesar. Com o tempo, Nhô Augusto resolve sair do Tombador, pressentindo a chegada da “sua hora e vez”. Encontra-se por acaso com Joãozinho Bem-Bem, que está prestes a executar uma família, como forma de vingança. Nhô Augusto pede a Joãozinho Bem-Bem que não cumpra a execução. O jagunço encara essa atitude de Nhô Augusto como uma afronta e os dois travam o duelo final, no qual ambos morrem. 

Sobre Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908 na cidade de Cordisburgo, Minas Gerais. Autodidata, começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês, quando nem completara 7 anos. Em 1925 matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, formando-se em 1930. No mesmo ano, casou-se com Lígia Cabral Penna, com quem teve duas filhas.
Passou a exercer a profissão de médico no interior de Minas Gerais, onde teve um primeiro encontro com os elementos e a realidade do sertão. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 atuou como médico voluntário. Mais tarde foi aprovado no concurso e ingressou na Força Pública. Em 1934 foi aprovado em um concurso para o Itamaraty e exerceu diversas funções diplomáticas no exterior, tais como a de cônsul em Hamburgo, na Alemanha – onde conheceu Aracy Moebius de Carvalho (Ara), sua segunda mulher. De volta ao Brasil, em 1951, assumiu outros cargos no Itamaraty, sendo promovido em 1958 a ministro de primeira classe, cargo correspondente a embaixador. 
Ao lado de sua atividade profissional, como médico ou como diplomata, Guimarães Rosa nunca deixou de escrever. Tinha também paixão por aprender outros idiomas. Seus conhecimentos nesse campo impressionavam pela amplitude: falava fluentemente alemão, francês, inglês, espanhol, italiano e esperanto, além de um pouco de russo. Lia em sueco, holandês, latim e grego. Havia estudado também a gramática das seguintes línguas: húngaro, árabe, sânscrito, lituano, polonês, tupi, hebraico, japonês, tcheco, finlandês e dinamarquês.
A estreia literária de Guimarães Rosa se deu em 1929, quando a revista “O Cruzeiro” publicou alguns contos seus, vencedores de um concurso literário da edição. Seu primeiro livro, a coletânea de contos Sagarana, foi publicado em 1946 e chamou muita atenção pelas inovações técnicas e riqueza de simbologias. 
O escritor fez, em maio de 1952, um percurso de 240 quilômetros no sertão mineiro, durante dez dias, conduzindo uma boiada. Na viagem, anotou expressões, casos, histórias, procurando apreender de forma mais profunda aquele universo com o qual tinha contato desde a infância. Seu intuito era recriar literariamente o sertão, dando voz a seus personagens. Dessa viagem resultou seu único romance, "Grande Sertão: Veredas", publicado em 1956 e tido como um dos mais importantes textos da literatura brasileira de todos os tempos.
Em 1961, Guimarães Rosa recebeu da Academia Brasileira de Letras o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra. Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, pela segunda vez, em 1963 e foi eleito por unanimidade. Mas não foi empossado imediatamente, porque adiou a cerimônia enquanto pôde. Dizia ter medo de morrer no dia do evento. Só tomou posse em 16 de novembro de 1967. Três dias depois, em 19 de novembro, morreu subitamente em seu apartamento no Rio de Janeiro, de infarto.
Suas principais obras são: "Sagarana" (1946), "Grande Sertão: Veredas" (1956), "Corpo de Baile" (1956; atualmente é publicada em três volumes: "Manuelzão e Miguilim", "No Urubuquaquá, no Pinhém" e "Noites do Sertão") e "Primeiras Estórias" (1962)



Sentimento do mundo -  Resumo da obra de Carlos Drummond de Andrade

Publicado pela primeira vez em 1940, "Sentimento do mundo" é a terceira obra de Drummond e reúne 28 poemas. Neste livro, o poeta abraça de vez a poesia de cunho social, refletindo o momento de instabilidade e inquietação dos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Porém, a temática do eu (a terra natal, o indivíduo, a família etc.), muito presente nos seus livros anteriores, ainda aparece com destaque em Sentimento do Mundo.


Os poemas deste livro foram escritos entre 1935 e 1940, época em que o mundo tentava se recuperar da Primeira Guerra Mundial e enfrentava a ascensão de regimes totalitários: a Alemanha de Hitler, Franco na Espanha, Mussolini na Itália e o Estado Novo de Getúlio Vargas no Brasil. E, dentro deste contexto histórico-social, o poeta individualista de Alguma Poesia e Brejo das Almas revê seu fazer poético e toma consciência do mundo, voltando-se para a experiência coletiva.
Porém, mesmo o poeta estando mais preocupado em escrever poesia social, a temática do eu continua ocupando lugar de destaque em Sentimento do Mundo, mas dessa vez com uma pitada de ironia e com um sentido mais universal. Assim, o eu não aparece mais como um indivíduo isolado, mas sim como alguém presente e conectado ao mundo. Aqui, o eu volta-se para assuntos mais universais e este seria o sentimento novo da poesia drummondiana a partir de então.
Na vanguarda do movimento modernista (que já demonstrava sinais de esgotamento em 1940), Drummond renova sua temática existencial, buscando novos caminhos para temas como o amor, a morte e o tempo. Ainda bebendo da fonte modernista, os poemas de Sentimento do Mundo não possuem rima e seus versos têm as mais diversificadas métricas, tendo até um poema em prosa ("O Operário no Mar").
Apesar de em "Sentimento do Mundo" Drummond ter tomado consciência do indivíduo num mundo que precisa ser salvo, ele reconhece também o fatal distanciamento entre os homens. Através da utilização constante do vocativo, como se chamasse o povo para uma união coletiva, dá-se vazão à ânsia do eu-poético de reunir os homens.
Essa vontade de união entre os homens contrasta com a pessimista e sombria visão de mundo do autor. Embora o eu-lírico seja completamente descrente do presente e não acredita em dias melhores, no fundo há uma utópica esperança permeando todos os poemas do livro. Através do uso constante do vocativo e da terceira pessoa do plural, pode-se concluir que esta esperança de dias melhores nasce do ser coletivo, do "nós". Somente com a união entre os homens é que se pode escapar desse presente sombrio e tenebroso.
O espaço interior aparece como símbolo de proteção, sendo intimamente associada a um privilégio de classe. Como exemplo, temos os moradores do "terraço mediocramente confortável" de "Privilégio do Mar", a princesa que mora numa "casa feita de cadáveres" (ou seja, em ruínas) em "Madrigal Lúgubre" e até mesmo o eu-lírico de "Mundo Grande". Nesses momentos é que a posição de nosso eu lírico torna-se crítica, pois será exatamente essa atitude alienada do burguês, que busca refúgio em um espaço fechado, que Drummond denunciará nesses e em outros poemas de Sentimento do Mundo.

Sobre Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. Por insistência da família, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Junto com outros escritores mineiros, fundou “A Revista”, importante publicação modernista mineira. Após ingressar no serviço público, mudou-se em 1934 para o Rio de Janeiro, onde viveu até morrer em 17 de agosto de 1987.
A partir dos anos de 1950, passou a dedicar-se cada vez mais à produção literária. Apesar de sua maior obra ser poética, publicou também contos, crônicas, literatura infantil e traduções. Portador de uma ironia ímpar e um amargor característico, Drummond produziu uma obra que problematiza questões sociais, existencialistas, amorosas e da própria poesia. Suas poesias de cunho social fortemente marcada por uma influência de esquerda são consideradas sua obra-prima.
Entre suas principais obras poéticas estão os livros "Alguma Poesia" (1930), "Sentimento do Mundo" (1940), "A Rosa do Povo" (1945), "Claro Enigma" (1951), "Poemas" (1959), "Lição de Coisas" (1962), "Boitempo" (1968), "Corpo" (1984), além do póstumo "Farewell" (1996).



Til - resumo da obra de José de Alencar

Publicado inicialmente em 1872, José de Alencar documenta neste romance de sua fase regionalista (junto a O Gaúcho, O Sertanejo e Tronco do Ipê) o cotidiano numa fazenda do interior paulista do século XIX. Berta, também conhecida pelo apelido Til, é a típica heroína romântica de alma bondosa que se sacrifica em prol de todos.

Resumo
Besita, moça pobre, porém das mais belas da região, é objeto de desejo tanto de Luis Galvão, jovem fazendeiro, quanto de Jão, um órfão que foi criado junto com Luis Galvão. A moça corresponde ao amor do rico fazendeiro, mas este não tem interesse em desposar Besita, pois ela é pobre.
Influenciada por seu pai, Besita acaba casando-se com Ribeiro. Esse, logo após a noite de núpcias, parte em viagem para resolver problemas relacionados a uma herança de família e fica anos afastado. Durante o período em que Ribeiro não se encontra pela região, Luis procura Besita, que o recebe achando tratar-se de seu marido. Desse encontro nasce Berta.
Uma tarde, Ribeiro retorna e, ao encontrar sua esposa com uma filha, descontrola-se e assassina Besita. Jão não consegue evitar a morte dela, mas consegue salvar Berta, que passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Zana, uma negra que vivia com Besita, enlouquece após presenciar o assassinato desta. Jão torna-se capanga dos ricos da região, cometendo várias mortes e tornando-se o temido o Jão Fera.
Quinze anos depois de assassinar sua esposa, Ribeiro retorna irreconhecível e com o nome de Barroso. Com o propósito de vingar-se de Luis Galvão, ele contrata Jão Fera, que não o reconhece. Porém, Berta descobre os intentos de Ribeiro e consegue salvar Luis.
Em uma segunda tentativa, dessa vez com a ajuda de alguns escravos da Fazenda das Palmas, Ribeiro incendeia o canavial. Ao tentar apagar o fogo sozinho, Luis leva uma pancada na cabeça. Quando está para ser lançado ao canavial em chamas, Luis é salvo por Jão, que mata os responsáveis pelo incêndio, com exceção de Ribeiro.
Após isso, Jão Fera é preso em Campinas. Sabendo da ausência desse, Ribeiro planeja uma outra vingança, dessa vez contra Berta. Aproxima-se dela, que está com Zana, mas nesse momento chega Jão (que tinha se libertado) e mata Ribeiro de forma violenta. Brás, sobrinho de Luis com problemas mentais, leva Berta para ver a cena. Ela foge horrorizada e João, sabendo que a moça o desprezava a partir de então, entrega-se a polícia.
Convém neste ponto relatar a relação entre Brás e Berta. O jovem Brás possui problemas mentais e é completamente excluído em sua família. Apesar de Brás ser apaixonado por Berta, ela não pode corresponder aos sentimentos do rapaz, resolvendo então ensinar o abecedário e rezas a ele. Porém, o menino tem grandes dificuldades em aprender, tendo apenas decorado o acento "til", que o encantava. Para facilitar o aprendizado, Berta se autonomeia Til e passa a ensinar Brás relacionando cada coisa com nomes de pessoas que ele conhecia.
Em certo momento, Luis decide contar toda a verdade para sua esposa, D. Ermelinda. Em um primeiro momento ela se entristece, mas depois passa a apoiar o marido e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. Dessa forma, os dois a procuram e contam tudo, omitindo as partes desagradáveis.
Jão foge mais uma vez da prisão e vai procurar Berta. Desconfiada que Luis Galvão e sua esposa escondem algo, ela implora a Jão que conte toda a verdade sobre a história de sua mãe Besita, o que Jão faz. Berta se emociona com a história e abraça Jão, dizendo que ele sempre cuidou dela, sendo, então, seu pai.
Luis quer que Berta vá morar com ele, mas ela nega e pede que ele leve Miguel. Todos partem e Berta fica na fazenda com Jão Fera e Brás.

Lista de Personagens
As personagens de Til são arquétipos da sociedade brasileira do século XIX: os escravos, os aristocratas, o povo pobre. A sociedade da época estava estruturada basicamente em duas camadas sociais: de um lado os aristocratas, grandes latifundiários e escravocratas, e de outro lado estavam os escravos e a gente humilde do campo. Tanto na região rural, onde se passa o romance, quanto nas grandes cidades quase não há classe média.

Berta, Inhá ou Til: personagem central do livro, Berta, filha bastarda do fazendeiro Luis Galvão com Besita, é a representação típica da heroína romântica. Após a morte de sua mãe, passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Muito bonita e graciosa, atrai o carinho e o amor de todos, tendo contato inclusive com as pessoas mais desprezadas da região. Berta é personagem central e exerce grande influência sobre todas as outras personagens do livro.

Miguel: filho de nhá Tudinha, mostra-se apaixonado por sua irmã de criação, Berta (ou Inhá, como ele a chama). Por ser pobre, Miguel busca estudar para ascender socialmente e poder se casar com Linda.

Luis Galvão: dono da Fazenda das Palmas. Homem de muitas aventuras amorosas desde a juventude, é sempre protegido por seu "capanga" João Fera. 

Linda: é filha de Luis Galvão e D. Ermelinda. Educada aos moldes da corte, mas amiga de Berta e Miguel, jovens de camada social inferior.

Afonso: irmão de Linda. Possui o mesmo espírito conquistador de seu pai e acaba se apaixonando por Berta, sem saber que esta é sua irmã de sangue.

Jão Fera ou Bugre: capanga dos ricos da região, é um homem temido. Sem conseguir salvar Besita, por quem era apaixonado, passa a proteger Berta após a morte de sua mãe. 

Brás: sobrinho de Luis Galvão que sofria de ataques epiléticos e era débil mental. Era apaixonado por Berta (ele a chama de Til), que lhe ensinava o abecedário e rezas. 

Zana: negra que trabalhava para Besita e que enlouquecera após presenciar o assassinato de Besita.

Ribeiro ou Barroso: marido de Besita. Logo após a noite de núpcias, parte para longe e fica anos afastado. Ao voltar e encontrar a esposa com uma filha, planeja vingança e assassina Besita. Promete vingar-se de Luis Galvão e Berta. 

D. Ermelinda: elegante esposa de Luis Galvão. 

Sobre José de Alencar
José de Alencar nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1º de maio de 1829. Formado em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, teve intensa carreira política como deputado, ministro e outros cargos. Em 1856 publicou seu primeiro romance, Cinco Minutos, seguido por A Viuvinha (1857). Porém, foi apenas com O Guarani (1857), que José de Alencar torna-se um escritor reconhecido pelo público e pela crítica. Vitimado pela tuberculose, faleceu no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 1877.
Sua obra, tida como uma das maiores representações do Romantismo brasileiro, é dividida em quatro fases. A primeira, a dos romances indianistas, tem suas maiores obras: Iracema (1865), Ubirajara (1874) e O Guarani. A segunda fase, a dos romances históricos, temos Minas de Prata (vol. 1: 1865; vol. 2: 1866) e Guerra dos Mascates (vol. 1: 1871; vol. 2: 1873). A terceira fase é a dos romances regionalistas e tem como representantes as obras O Gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871) e Til (1871). Por fim, a última fase é a dos romances urbanos, onde temos Lucíola (1862), Diva (1864) e A pata da Gazela (1870).



Viagens na minha terra - Resumo da obra de Almeida Garret

A obra foi publicada originalmente em folhetins na Revista Universal Lisbonense entre 1845 e 1846, sendo editada em livro apenas em 1846. Tida como obra única no Romantismo português por sua estrutura e linguagem inovadoras, Viagens na minha terra é um marco para a moderna prosa portuguesa e um importante documento de referência para entender a decadência do império português.

Resumo
A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No primeiro, o narrador conta suas impressões de viagens, intercalando citações literárias, filosóficas e históricas das mais diversas, com um tom fortemente subjetivo e repleto de digressões e intertextualidades. Dentre as referências literárias, podemos levantar citações a Willian Shakespeare, Luís de Camões, Miguel de Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e filosóficas, temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros.
            Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de viagem, conta o drama amoroso que envolve cinco personagens. Essa narrativa amorosa tem como pano de fundo as lutas entre liberais e miguelistas (1830 a 1834). 
O livro começa com o narrador contando sobre a sua vontade de partir em uma viagem de Lisboa à Santarém. Chegando a seu destino, o narrador começa a tecer comentários através da observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se início à história de amor entre Joaninha e Carlos. 
No romance, Joaninha é uma moça que mora apenas com sua avó, D. Francisca. Semanalmente, elas recebem a visita de Frei Dinis, que traz notícias do filho de D. Francisca, Carlos. Ele está ausente da cidade já há alguns anos e faz parte do grupo de D. Pedro. Frei Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre Carlos.
Frei Dinis foi um nobre cheio de posses, mas resolveu abandonar tudo e sumir e volta para Santarém dois anos depois, como frei. O narrador critica essa mudança, por para ele qualquer um poderia facilmente ser ordenado frei de uma hora para outra.
Quando a guerra civil atinge Santarém, Carlos, que havia ido para a Inglaterra após desentender-se com Frei Dinis, resolve voltar à cidade. É quando ele reencontra sua prima Joaninha. Eles trocam um beijo apaixonado como se fossem namorados. Porém, Carlos tem uma esposa na Inglaterra, chamada Georgina, se vê atormentado pela dúvida de contar ou não a verdade para sua prima. 
Ferido durante a guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa de Joaninha. Após se recuperar, ele pede para que D. Francisca revele o segredo que ela esconde. Então, ela acaba contando que Frei Dinis é o pai de Carlos e que sua verdadeira mãe já morreu. 
Ao saber da verdade, Carlos parte e volta a viver com a esposa. Porém, Georgina diz ter ouvido de Frei Dinis toda a história de amor entre Carlos e Joaninha e declara não mais amar o marido. Carlos pede perdão à esposa e diz não mais amar Joaninha, porém, Georgina não o aceita de volta.
Na parte final sabemos através de Frei Dinis o destino das personagens: Carlos larga as paixões e começa sua carreira na política como barão, mas depois de um tempo desaparece. Joaninha, sem seu grande amor, e D. Francisca morrem. Georgina vai para Lisboa. “Santarém também morre; e morre Portugal”, termina por relatar Frei Dinis.
Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série de digressões filosóficas, reflexões sobre fatos históricos e crítica literária sobre diversos autores, tanto clássicos quanto modernos, e suas obras.
            Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles: “Eu não sou romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser - ao menos, o que na algaravia de hoje se entende por essa palavra”. Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao Romantismo então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado” por escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil para agradar ao público, com interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o verdadeiro movimento modernista.

Personagens
As personagens de "Viagens na Minha Terra" funcionam como uma visão simbólica de Portugal, buscando-se através disso as causas da decadência do Império Português. O final do drama, que culmina na morte de Joaninha e na fuga de Carlos para tornar-se barão, representa a própria crise de valores em que o apego à materialidade e ao imediatismo acaba por fechar um ciclo de mutações de caráter duvidoso e instável.
Temos, então, as seguintes personagens e suas possíveis interpretações simbólicas dentro da obra:
           
Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre suas relações amorosas, podendo ser ligado às características biográficas do próprio Almeida Garrett. 
Georgina: namorada inglesa de Carlos, é a estrangeira de visão ingênua, que escolhe a reclusão religiosa como justificativa para não participar dos dilemas e conflitos históricos que motivaram sua decepção amorosa. 
Joaninha: prima e amada de Carlos. Meiga e singela, é a típica heroína campestre do Romantismo. Simboliza uma visão ingênua de Portugal, que não se sustenta diante da realidade histórica.
D. Francisca: velha cega avó de Joaninha. Mostra-nos a imprudência e a falta de planejamento com que Portugal se colocava no governo dos liberalistas, levando a nação à decadência.
Frei Dinis: é a própria tradição calcada num passado histórico glorioso, que no entanto, não é mais capaz de justificar-se sem uma revisão de valores e de perspectivas. 

Sobre Almeida Garrett
Almeida Garrett nasceu na cidade do Porto, Portugal, em 1799, com o nome de batismo de João Leitão da Silva. Durante sua época de estudante de Direito, em Coimbra, passou a adotar o nome que o tornaria célebre: Almeida Garrett. Participou da revolução liberal e ficou exilado na Inglaterra em 1823. Durante esse tempo, casou-se e teve contato com o movimento romântico inglês. Em 1824 mudou-se para França e escreveu Camões e Dona Branca, obras que inauguraram o romantismo português. Ávido defensor do liberalismo, Almeida enfrenta outros diversos exílios ao longo dos anos.
Após retornar definitivamente a Portugal, passa a incentivar a literatura e o teatro, escrevendo inúmeros livros e peças teatrais. É dele, por exemplo, a iniciativa de criar o Conservatório de Arte Dramática e o Teatro Normal (atualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Faleceu em Lisboa no dia 9 de dezembro de 1854.
Suas principais obras são: "Camões" (1825), "Dona Branca" (1826), "Romanceiro" (1843), "Cancioneiro Geral" (1843), "Frei Luis de Sousa" (1844), "D’o Arco de Santana" (1845) e "Viagens na minha terra" (1846).


Vidas secas - Análise da obra de Graciliano Ramos

"Vidas Secas", romance publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. A obra pertence à segunda fase modernista, conhecida como regionalista, e é qualificada como uma das mais bem-sucedidas criações da época.
O estilo seco de Graciliano Ramos, que se expressa principalmente por meio do uso econômico dos adjetivos, parece transmitir a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão.

- Leia o resumo de Vidas Secas

A estética da seca
"Vidas Secas" é um dos maiores expoentes da segunda fase modernista, a do regionalismo. O diferencial desse livro para os demais da época é o apuro técnico do autor. Graciliano Ramos, ao explorar a temática regionalista, utiliza vários expedientes formais – discurso indireto livre, narrativa não-linear, nomes dos personagens – que confirmam literariamente a denúncia das mazelas sociais.
O livro consegue desde o título mostrar a desumanização que a seca promove nos personagens, cuja expressão verbal é tão estéril quanto o solo castigado da região. A miséria causada pela seca, como elemento natural, soma-se à miséria imposta pela influência social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região.
Os retirantes, como o próprio nome indica, estão alijados da possibilidade de continuar a viver no espaço que ocupavam. São, portanto, obrigados a retirar-se para outros lugares. Uma das implicações dessa vida nômade dos sertanejos é a fragmentação temporal e espacial.
Graciliano Ramos conseguiu captar essa fragmentação na estrutura de Vidas Secas ao utilizar um método de composição que rompia com a linearidade temporal, costumeira nos romances do século XIX.
A proposital falta de linearidade, ou seja, de capítulos que se ligam temporalmente, por relações de causa e de consequência, dá aos 13 capítulos de Vidas Secas uma autonomia que permite, até mesmo, a leitura de cada um de forma independente.

Narrador
A escolha do foco narrativo em terceira pessoa é emblemática, uma vez que esse é o único livro em que Graciliano Ramos utilizou tal recurso. Trata-se, na verdade, de uma necessidade da narrativa, para que fosse mantida a verossimilhança da obra. Por causa da paupérrima articulação verbal dos personagens, reflexo das adversidades naturais e sociais que os afligem, nenhum parece capacitado a assumir o posto de narrador.
O autor utilizou também o discurso indireto livre, forma híbrida em que as falas dos personagens se mesclam ao discurso do narrador em terceira pessoa. Essa foi a solução para que a voz dos marginalizados pudesse participar da narração sem que tivessem de arcar com a responsabilidade de conduzir de forma integral a narrativa. 

Espaço
A narrativa é ambientada no sertão, região marcada pelas chuvas escassas e irregulares. Essa falta de chuva – somada a uma política de descaso do governo com os investimentos sociais – transforma a paisagem em ambiente inóspito e hostil.
Inverno, na região, é o nome dado à época de chuvas, em que a esperança sertaneja floresce. O sonho de uma existência menos árida e miserável esboça-se no horizonte e dura até as chuvas cessarem e a seca retornar implacável. No romance, essa esperança aparece no capítulo “Inverno”, em que Fabiano alimenta a expectativa de uma vida melhor, mais digna.
O retorno à visão marcada pela falta de perspectivas recomeça com o fim das chuvas, com o fim da esperança. Na obra, pode-se apontar, também, para dois recortes espaciais: o ambiente rural e o urbano. A relevância desse recorte se deve às sensações de adequação ou inadequação dos personagens em um ou outro espaço.
Fabiano consegue, apesar da miséria presente, dominar o ambiente rural. Incapaz de se comunicar, o personagem, desempenhando a solitária função de vaqueiro, não sente tanto as consequências de seu laconismo. Além disso, conhece as técnicas de sua profissão, o que lhe dá uma sensação de utilidade e permite que goze até de certa dignidade. A passagem em que seu filho o admira ao vê-lo trabalhando deixa claro isso. Na cidade, porém, Fabiano vivencia, a cada nova experiência, o sentimento de inadequação. Os capítulos “Festa” e “Cadeia” ilustram bem essa sensação. 


Tempo
            Além da falta de linearidade do tempo, em "Vidas Secas" há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. Essa opção do narrador de ocultar os marcadores temporais tem como principal consequência o distanciamento dos personagens da ordenação civilizada do tempo.
Dessa forma, nota-se que a ausência de uma marcação cronológica temporal serve, enquanto elemento estrutural, como mais uma forma de evidenciar a exclusão dos personagens. Por outro lado, a valorização do tempo psicológico na narrativa faz com que as angústias dos personagens fiquem mais próximas do leitor, que as percebe com muito mais intensidade. 

Comentário do Professor
A professora de Literatura do Cursinho do XI Ausonia Reda Luppi frisa que "Vidas Secas" é um romance cíclico. São 13 capítulos independentes que contam a retirada de uma família. Inicia-se com uma mudança e termina com a fuga.
A família é composta pelo pai – Fabiano – que quase não fala, não sabe que é branco e não sabe ler nem escrever. Sinhá Vitória, mulata esperta que sabia fazer contas com os grãos, Menino mais velho que queria saber ler e queria o significado da palavra Inferno. Menino mais novo, queria ser um vaqueiro como o pai. Cadela Baleia, a mais humana das personagens e um papagaio que não falava, só latia porque era o único som que escutava.
Segundo a professora, o vestibular pode cobrar a hierarquia apresentada no livro: como por exemplo, o que representa o Soldado Amarelo e a linguagem do Tomás da bolandeira, a quem Fabiano tanto admirava. Além disso, pode ser perguntado sobre o grau de miserabilidade dessa família: a cadela chegando ao nível humano e o humano descendo à condição de animal. Esta família vaga pela caatinga tentando chegar em algum lugar, mas podem estar perdidos, andando em círculo.








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